Um relatório fundamentado em dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Compare The Market, indica que o Brasil é o 2º pior país do mundo para dirigir veículos automotivos, superado apenas pela Rússia, país apontado como o líder negativo nessa condição. Os estudos para construção desse ranking levaram em conta quatro fatores: o custo de manutenção do carro em relação à renda, o nível de congestionamento, o índice de qualidade das estradas e vias de tráfego e o índice de mortalidade no trânsito.
As revelações do estudo são desalentadoras. Embora a Rússia seja a campeã mundial como pior do mundo, o Brasil segue em segundo, mas supera a própria Rússia em duas questões fundamentais e seriamente preocupantes: no custo de manutenção dos veículos relativamente à renda, com 26%, contra 18% da Rússia, e no altíssimo nível de mortalidade no trânsito, com 16 mortos para cada grupo de 100 mil pessoas, contra 12 da Rússia. Quanto ao índice congestionamento no trânsito, o Brasil segue em segundo lugar, com 28%, contra 37% da Rússia.
Relativamente ao nível de conservação das estradas, os dois países praticamente se equivalem, com a Rússia pontuando 2,9 e o Brasil 3,1. No ranking geral, México, África do Sul e Irlanda fazem companhia a Rússia e Brasil.
O outro lado
A Dinamarca é o melhor país para dirigir do mundo. Possui um dos menores índices de mortalidade no trânsito, apenas 3,7 a cada 100.000 pessoas. Além de possuir estradas de alta qualidade (5,5) e baixo nível de congestionamento (18%). Os Estados Unidos, por sua vez, ficam em segundo lugar no ranking dos melhores, principalmente pelo baixo nível de congestionamento (14%) e pelo baixo custo de manutenção (o menor dentre todos os países). Holanda, Portugal e França, finalizam o ranking dos 5 melhores países, respectivamente.
Embora cause constrangimento e preocupação, esse quadro que envergonha o Brasil em mais uma condição essencial à vida das pessoas, à movimentação de riquezas, ao transporte de mercadorias e ao desenvolvimento turismo e ao lazer dos cidadãos, não é novidade alguma e nem está escondido das nossas vistas. É só andar um pouquinho mais para nos defrontarmos com as péssimas condições de rodovias país afora, ou termos a coragem de enfrentar o trânsito em qualquer cidade de grande, pequeno ou médio porte, para constatarmos o quanto isso é verdadeiro.
Descaso nacional
Retrato desse descaso nacional é revelado pelo orçamento fixado e aprovado depois da PEC da Transição do governo Lula, que ficou em cerca de R$ 20 bilhões apenas para a questão rodoviária nacional. Nos últimos anos recentes, não passaram de R$ 6 bilhões. Quando o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura) foi criado, há 20 anos, tinha orçamento perto de R$ 6 bilhões. Chegou a ter R$ 25 bilhões no auge da capacidade entre o governo Lula e o início do governo Dilma. Do governo Temer para cá, depois da imposição do teto, oscilou entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões, o que é exatamente o mesmo orçamento em termos nominais da época da criação do DNIT, duas décadas atrás.
Com uma política pública como essa estabelecida de 6 anos para cá, desde o governo Temer, é impossível termos rodovias conservadas, veículos sem danos graves, ausência de prejuízos materiais para o transporte de cargas e a inexistência de muitos acidentes e crescentes mortes no trânsito das cidades ou das estradas.
Vítimas do trânsito
De acordo com dados do Ministério da Saúde, apenas no ano de 2021, o Brasil registrou 31.468 mortes no trânsito, sendo os motociclistas os que mais perderam a vida, com 12.011 óbitos, seguidos pelos ocupantes de automóveis, com 6.987 vítimas fatais, e pedestres, com 5.120 mortes. Esses números assustadores superam, em muito, por exemplo, o número de ucranianos mortos até agora na guerra com a Rússia, cujas estimativas giram em torno de 9 mil mortos e 7 mil desaparecidos.
Solução necessária
As causas para essa nossa tragédia são várias. Vão desde a baixa educação da população brasileira em relação ao trânsito, insistindo em não respeitar as leis vigentes ao avançar os sinais, dirigir embriagado, com excesso de velocidade e utilizar o celular, entre outras infrações, mas decorrem de forma gigantesca do mau estado de conservação e sinalização, no péssimo estado do asfalto das ruas e estradas.
Essas são comprovações irrefutáveis, que só serão sanadas ou diminuídas com a responsabilidade de governantes em manter investimentos à altura das necessidades, se necessário buscando parcerias com o setor privado, para permitir que as nossas estradas possam de fato servir adequadamente às demandas das pessoas, ao invés de continuar criando aborrecimento e tirando vidas importantes.
Fonte: https://www.cupomvalido.com.