Um documento alternativo à carta vazada na terça-feira (8), feito pelo Brasil, África do Sul, Índia e China, vai ser apresentado em Copenhague, na cúpula que discute o aquecimento global. Segundo publicou o jornal "The New York Times" nesta quarta-feira (9), ele não faz menção a compromissos específicos da parte destes países para redução de metas de emissões de gases, e rejeita a auditoria externa de projetos para redução das emissões, que seriam financiados domesticamente, ou seja, por conta própria.
O texto vem em resposta ao documento que circulou ontem na conferência, cuja redação das 13 páginas foi atribuída ao país anfitrião da Conferência, a Dinamarca. No documento, havia um tópico marcado como mecanismo para ajuda a lidar com o impacto da mudança climática, que prevê mais fiscalização por parte dos doadores de recursos (nações ricas) do que as nações em desenvolvimento desejam.
Foi o suficiente para ser o estopim de uma discussão fundamentada no abismo de desenvolvimento entre países ricos e pobres, em vez da argumentação científica do aquecimento global. O suposto texto constitui "uma grave violação que ameaça todo o processo de negociação de Copenhague", declarou Lumumba Stanislas Dia Ping, chefe da delegação sudanesa que preside atualmente o G77.
"Os membros do G77 não deixarão as negociações neste estágio. Não podemos nos permitir um fracasso em Copenhague", acrescentou. O texto --que seria um rascunho para o novo acordo contra o aquecimento-- circula há cerca de duas semanas em diferentes delegações e apareceu nesta terça-feira nos corredores da conferência. Várias ONGs também denunciaram a Dinamarca, que preside a conferência mundial sobre o clima, por não levar em conta o ponto de vista dos países em desenvolvimento em seu projeto de declaração.
"O texto proposto pelo primeiro-ministro dinamarquês é fraco e mostra a posição elitista e sem transparência da presidência dinamarquesa", criticou Kim Carstensen, da organização WWF. "As táticas de negociações debaixo dos panos, sob a presidência dinamarquesa, se focalizam no desejo de agradar os países ricos em vez de servir à maioria das nações que pedem uma solução justa e ambiciosa", acrescentou.
Para Martin Kaiser, do Greenpeace, a falta de liderança do primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Loekke Rasmussen, "alimenta a desconfiança na cúpula sobre o clima". "A proposta dinamarquesa não deve distrair [os participantes]", avisou por sua vez Antonio Hill, da Oxfam International, sugerindo se concentrar no texto negociado há meses pelos diversos grupos de trabalho.
A Dinamarca sempre rejeitou firmemente a existência de um texto único que representaria sua proposta para o acordo que deve ser concluído no dia 18 de dezembro na presença de mais de cem chefes de Estado, mas reivindica o direito de testar diferentes cenários. "Não existe um texto. Estamos há semanas e meses consultando os diversos países, é o nosso trabalho", afirmou a ministra dinamarquesa do Clima, Connie Hedegaard, em entrevista coletiva. "Muitos textos circulam, mas o texto que talvez seja aprovado aqui [no dia 18] ainda não existe, então ninguém pode tê-lo visto", acrescentou.