As prateleiras que abrigaram a cole??o de 3.391 garrafas de u?sque escoc?s, considerada a maior do mundo, est?o vazias desde o in?cio de setembro em uma casa no Morumbi, na Zona Sul de S?o Paulo. Depois de 37 anos dedicados ao acervo, o aposentado Claive Vidiz, de 74 anos, decidiu vender suas preciosidades a uma empresa escocesa. A despedida n?o foi f?cil.
?Entrei muito pouco aqui, s? tr?s ou quatro vezes para pegar alguma coisa. Isso aqui estava lotado, tinha vida, cores?, diz o colecionador, que confessa ter chorado quando as garrafas foram retiradas do espa?o onde as mantinha. As garrafas receberam embalagens especiais e foram embarcadas em um navio no dia 6 de setembro para a Esc?cia.
A companhia Diageo, uma das l?deres mundiais no setor de bebidas, ir? montar um espa?o especial para abrigar a cole??o. A inaugura??o deve ocorrer, segundo Vidiz, no dia 27 de mar?o. Ele conta que vendeu o acervo para que mais pessoas possam apreci?-lo. ?Para mim, valeu muito mais uma entidade como a Diageo manter esse sonho?, afirmou.
Todas as 3.391 garrafas estavam lacradas e o colecionador disse nunca ter sentido vontade de abri-las. ?Nem tem condi?es. Mais de 300 garrafas desapareceram h? 60, 80, 100 anos atr?s e n?o tem reposi??o. Ent?o, por que voc? vai abrir??, questionou. ?Eu tinha uma garrafa que era a ?nica no mundo?, completou.
Dos mais de 3 mil exemplares, ele diz j? ter experimentado cerca de 250 ? mas nunca das garrafas que colecionava. ?Provei ou tomei, que tem uma diferen?a muito grande, entre 200 a 250, s?. Isso que eu tenha provado ou colocado na boca, seja um dedalzinho, uma dose ou meia garrafa. Nada mais do que isso.?
Rel?quias
A cole??o era repleta de u?sques raros, adquiridos em viagens por diversos pa?ses. A garrafa mais antiga da cole??o era de 1893, segundo Vidiz. Mas algumas eram consideradas raras pela pouca quantidade de exemplares produzidos. Um dos exemplos ? uma edi??o comemorativa produzida pela destilaria Strathmill em comemora??o aos 100 anos da marca. Foram feitas 100 unidades e o colecionador possu?a a de n?mero 69.
Uma das mais caras compradas por ele foi uma edi??o do u?sque Dimple Pinch produzido para marcar os 350 anos da Haig que, segundo Vidiz, ? a marca da bebida mais antiga do mundo. ?A nossa garrafa era a 1.309 de 1.500 [produzidas]. Era toda revestida em prata de lei inglesa e custou, na d?cada de 70, US$ 1.000. ? uma das garrafas que eu mais me identifiquei e tinha mais carinho?, lembra.
Ele conta que foi muito dif?cil se desfazer de alguns exemplares. ?Eu tinha garrafas muito especiais, que, se eu fosse pedir, eu pegaria umas 30. Eram coisas pessoais, assinadas no r?tulo, por exemplo, pela pessoa que criou aquele u?sque. Mas eu tinha que dar porque era importante para uma cole??o?, justifica.
N?o fazia parte do acervo o exemplar mais caro que o colecionador tem not?cias. ? uma edi??o limitada do u?sque Macallan com 60 anos de envelhecimento. Foram produzidas apenas 12 garrafas, que custam mais de R$ 80 mil. ?Eu gostaria muito [de ter], sem a menor d?vida. Essa garrafa engrandece somente 12 pessoas, 12 cole?es ou 12 bares. Oito delas foram vendidas para o Jap?o?, diz.
Apesar de ter vendido a cole??o, ele manteve dois exemplares do acervo. Um Johnnie Walker Blue Label autografado pelo piloto de F?rmula 1 Juan Pablo Montoya e outra edi??o do u?sque cuja garrafa ? feita de cristal Baccarat. Segundo o colecionador, essa ?ltima seria facilmente reposta pela Diageo, por isso decidiu ficar com o exemplar.
Junto com o espa?o que abrigava a cole??o em sua casa, que Vidiz chamava de museu, ele construiu um pub tipicamente escoc?s. No bar, h? cerca de 30 marcas de u?sque que os convidados podem tomar. ?Aqui, tudo o que tiver ? para beber. Pelo menos eu tinha a garantia que nenhum engra?adinho ia querer abrir uma garrafa?, conta. Na garagem da resid?ncia, ele ainda mant?m cerca de 500 garrafas para abastecer o pub.
In?cio por acaso
A cole??o reunida ao longo de 37 anos come?ou por acaso, com seis garrafas trazidas a Vidiz por um escoc?s. Como funcion?rio de uma ind?stria farmac?utica, ele costumava recepcionar muitas pessoas que vinham da matriz inglesa. ?Eles chegavam aqui e, depois do expediente, queriam sempre u?sque?, lembra.
A bebida era cara nos anos 70, por isso ele sugeriu que cada funcion?rio comprasse o u?sque no free shop e a empresa reembolsasse. Um deles trouxe, no entanto, u?sques adquiridos na Esc?cia. O ano era 1971. ?Ele disse ?voc? vai levar para a sua casa e abrir em ocasi?es especiais, com gente que entenda de u?sque?. O que ocorreu? Nunca abri nenhuma das seis garrafas e elas viraram 3.391.?
O presente foi o pontap? inicial para a paix?o. ?O in?cio da cole??o foi puramente acidental, n?o foi pensada, n?o foi calculada. Dali come?ou um interesse, mais leitura, at? virar paix?o, loucura absoluta. Isso veio me preencher uma grande parte da minha vida de p?s-aposentado?, conta. O dono da maior cole??o de u?sques escoceses do mundo experimentou a bebida pela primeira vez apenas aos 33 anos, no Rio de Janeiro.
Ap?s 37 anos dedicados ao acervo, ele n?o revela qual sua marca de u?sque favorita. ?Eu n?o tenho uma marca. ? claro que t?m algumas que s?o mais freq?entes que outras. Por isso, quando me perguntam, eu digo que o u?sque tem que ter dois ingredientes: que agrade ao meu paladar e que minha conta banc?ria possa garantir a compra dele.?