Os brasileiros deportados dos Estados Unidos que desembarcaram no Aeroporto Internacional de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte, na noite desta sexta-feira (7), contaram terem vivido dias difíceis no território norte-americano.
Relatos de frio, fome, humilhação e desrespeito e até de privação de sono são comuns entre os 130 cidadãos que vieram em um voo fretado da agência norte-americana de imigração.
O agricultor Valdir Ferreira da Silva, que é de Machadinha D'Oeste, em Rondônia, foi com a esposa e a filha de 14 anos para tentar uma vida melhor nos Estados Unidos. Lá, eles foram separados e mantidos em salas afastadas. Durante os 16 dias que ficou no país, o homem relata ter passado por uma experiência "para nunca mais".
— Muito frio, um pouco de fome, porque a comida é muito ruim, a gente não se adapta. Sem falar as horas que eles acordam a gente à noite, não deixam a gente dormir, toda hora fica chamando e se a pessoa não levanta eles gritam alto
A dona de casa Edinalva Lopes, o marido e os filhos de 9 e 12 anos passaram duas semanas entre detenções e abrigos nos Estados Unidos e no México. Depois de cruzarem a fronteira, eles se entregaram às autoridades e foram separados. O pai e o filho em uma cela, Edinalva e a filha em outra. Ela conta que voltou do país asteca por conta própria porque não queria mais esperar para retornar ao Brasil.
— A travessia não é difícil, difícil é ficar lá, por causa dos maus tratos. A gente chora, a gente sofre, a gente quer sair.
Sem bagagens e somente com documentos guardados em sacolas, os 130 brasileiros chegaram por volta de 23h40 na capital mineira, dentre elas cerca de 30 crianças. Adriano, que não quis revelar o sobrenome, também contou como foi o período de 15 dias que passou em território norte-americano
— Ficamos 15 dias no Texas, sendo humilhado, passando necessidade, passando fome. Sendo esculachado, desrespeitado. Acredito que nem com cachorro eles fazem isso lá. Mas com nós, eles fizeram. A gente procura melhoria, o nosso país está muito difícil. Não fomos roubar nada de ninguém, fomos procurar trabalho. Se no Brasil tiver emprego, nós vamos ficar aqui.
Deportação
Esse é o segundo voo fretado pela Agência Norte-Americana de Imigração trazendo brasileiros. Em outubro do ano passado, 70 pessoas desembarcaram em Confins. Os brasileiros deportados eram dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Roraima, Mato Grosso e Maranhão. A deportação de cidadãos nascidos no Brasil tem sido facilitada pelo governo de Jair Bolsonaro.