A aldeia indígena Naô Xohã se estabeleceu nas margens do rio Paraopeba, em Minas Gerais, há pouco menos de dois anos. E nunca havia recebido tantas visitas como nos últimos dias, depois de uma das barragens da Vale em Brumadinho ter se rompido e deixado vazar mais de 12 milhões de metros cúbicos de lama.
Com pouco mais de 50 membros das etnias pataxó e pataxó hã-hã-hãe, a comunidade fica a cerca de 20 quilômetros do local do rompimento da barreira, já fora dos limites de Brumadinho, no município de São Joaquim de Bicas.
Desde sábado, o rio -- que servia de fonte de água e alimentação para os índios --só carrega lama e peixes mortos para as margens da aldeia. "O homem branco fez essa terra vomitar para poluir o nosso rio", diz o cacique Hayô, líder do grupo.
Sem poder usar a água do rio, a aldeia passou a depender de doações para ter o que beber, comer e tomar banho.
Ao seu lado, a esposa, a ativista Celia Angohoró, afirma que a "ganância da busca por minério matou o rio e levou um monte de vidas junto".
Às lágrimas, ela diz temer que a recuperação do rio demore décadas e comprometa, inclusive, o futuro das próximas gerações.
"Dá vontade de pular lá dentro e morrer junto com o rio", diz.