Tiro ao alvo, tiro com carabina, tiro ao prato, alvo móvel e outros. Com diferentes modalidades, os espaços destinados para a prática de tiro esportivo estão cada vez mais frequentes e numerosos no Brasil.
No fim de julho deste ano, o total de clubes de tiro em funcionamento em todo o país chegava a 2.061. Quase metade (1.006) foi fundada de janeiro de 2019 até maio de 2022, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Os dados são do Exército Brasileiro obtidos através da Lei de Acesso à Informação (LAI).
O aumento do número de clubes tem acompanhado outras expansões relacionadas a ela, como o de armas em circulação no país. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública estima que o número de Caçadores, Atiradores Esportivos e Colecionadores de Armas de Fogo (CAC) no Brasil é dez vezes maior na comparação com cinco anos atrás.
Cerca de 673 mil pessoas possuem Certificado de Registro (CR) ativo atualmente no Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), o que representa um aumento de 1067% em comparação com os 63.137 registros contabilizados em 2017.
O crescimento da categoria vem se desenhando em Teresina. Com a ajuda de um sócio de clube de tiro, o Jornal Meio Norte localizou 11 estabelecimentos ativos na capital piauiense, incluindo lojas de armamentos com estandes. Pelo menos dois deles funcionam na área urbana da cidade.
Conforme as regras de segurança definidas pelo Exército Brasileiro, para a instalação de um um clube é necessário ter ata de fundação, estatuto, cadastro de pessoa jurídica, laudo que comprova a segurança do local, alvará de funcionamento, plano de segurança e, ainda, tanto o certificado de registro como o de arma de fogo e toda a documentação necessária.
Em Teresina, a maioria dos estabelecimentos que realizam eventos com atiradores e competições é instalada em regiões afastadas da cidade. Embora seja permitido o funcionamento ininterrupto – 24 horas, sete dias por semana – os pontos locais declaram que funcionam em horário comercial, geralmente das 8h às 18h.
A reportagem procurou o Exército no começo desta semana com questionamentos sobre o procedimento de fiscalização e os eventuais processos administrativos envolvidos; também perguntou sobre as hipóteses que podem levar ao fechamento ou interdição dos estabelecimentos. O Comando da 10ª Região Militar (10ª RM), uma das doze regiões militares do Exército Brasileiro, que atende o Piauí e o Ceará, não respondeu até a conclusão desta matéria.
Exigências
Conforme os regulamentos individuais dos clubes de tiro de Teresina, para praticar a atividade é necessário apresentar documentação atualizada e declarações que atestam que a pessoa interessada está livre de inquérito policial ou processo criminal.
Nas competições há uma variedade no uso de munições e armas, como pistolas de ar, pistola de tiro rápido, carabinas e espingardas de tiro ao prato. Em sua maioria, os clubes não cobram porte, posse ou registro de armas dos frequentadores.
Regras garantem a segurança, defendem instrutores e praticantes
Dimas Oliveira é instrutor de tiro e pratica a modalidade há mais de 20 anos. Ele avalia que as regras impostas aos clubes são rígidas e garantem a segurança desses locais.
“Como todo esporte olímpico, o tiro tem como seus principais valores a amizade, o respeito, a excelência, a determinação, a coragem, a igualdade e a inspiração. Ele apresenta regras bastante rígidas, que são de responsabilidade do Exército Brasileiro. A legislação que regula o esporte possui diversos mecanismos que possibilitam uma fiscalização adequada da atividade”, explicou.
Dimas ressaltou que as fiscalizações do Exército recebem o apoio das entidades que fazem o esporte (clubes, federações e confederações). Para o instrutor, o processo que comprova a idoneidade do praticante de tiro esportivo é longo e testa, além da saúde psicológica, a capacidade técnica para o manuseio de armas. Esses exames, segundo Oliveira, são feitos com profissionais credenciados na Polícia Federal.
“O Exército tem o total controle de todas as aquisições feitas pelo atirador, pois antes deverá ser solicitada uma autorização para compra, depois o registro e pedido da guia de tráfego”, contou.
Para o segurança Marcelo Araújo, os clubes de tiro têm uma função importante em treinar policiais e dar segurança aos que desejam obter porte legal de armas.
“Para conseguir o porte de uma arma, você precisa passar por uma série burocrática. É demorado e indica que é uma coisa que precisa de dedicação, cuidado e um bom investimento”, expressou.
Araújo salienta que percebeu um aumento no número de pessoas interessadas nos clubes, o que ele vincula às flexibilizações do porte de armas tomadas pelo governo de Jair Bolsonaro ao longo dos últimos quatro anos.
O debate sobre as localizações dos clubes e estabelecimentos com estandes, no entanto, opõe alguns praticantes de tiro e as pessoas que vivem próximas a esses locais. O proprietário de um restaurante que fica próximo a uma loja de munições na zona Sul da capital piauiense, não concorda com a prática do esporte em áreas movimentadas. “‘Não vou dizer que estou incomodado, mas não gosto que seja próximo da gente. Poderiam testar as armas em outros pontos”, falou.