O Brasil, líder mundial em incidência de raios, testemunhou 835 fatalidades e 266 hospitalizações devido a descargas elétricas na última década. Anualmente, o país enfrenta aproximadamente 78 milhões de raios, situando-se como o sétimo país com o maior número de mortes causadas por raios, conforme revelado pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Esse dado representa o dobro do registrado no mesmo período na República Democrática do Congo e o triplo do registrado nos Estados Unidos, as duas nações com maior incidência de raios após o Brasil.
A alta quantidade de queda de raios é explicada pelo fato do Brasil ter o maior território entre os países localizados na região tropical, o que facilita a formação de tempestades nas épocas mais quentes. No Congo, por outro lado, a incidência do fenômeno é causado pela presença de grandes lagos nessa parte da África Central. "Gera muita umidade em uma área muito quente, o que facilita a formação de chuvas com raios", diz Osmar Pinto Júnior, coordenador do ELAT/INPE.
Está em estudo no instituto o impacto da atual onda de calor na incidência de raios registrada no país. "Essas ondas criam uma região quente, mas seca, sem tempestade. O que poderia favorecer mais descargas elétricas seriam as tempestades formadas após as altas temperaturas", diz Pinto Júnior.
Apesar do aumento significativo de mortes ao longo de uma década, o levantamento indica uma tendência de queda nos últimos anos. Os óbitos são mais frequentes durante a primavera, verão e outono, afetando principalmente pessoas em áreas rurais (27%) e vítimas em contato com objetos conectados à rede elétrica ou telefônica dentro de casa (24%).
Outra conclusão destacada pelo estudo revela que os estados com maiores índices de mortalidade são geralmente mais carentes em comparação com aqueles posicionados no final da lista. Pará e Amazonas lideram o ranking na taxa de mortes por um milhão de habitantes. Ao longo dos últimos dez anos, o Pará registrou em média 1,16 mortes anuais, enquanto a taxa no Amazonas atingiu 2,23. O coordenador do estudo explica que essa disparidade pode ser atribuída ao menor acesso à informação sobre como se proteger nessas situações nestas regiões.
A descarga elétrica de um raio é de 20 mil amperes, equivalente mil vezes a causada por um chuveiro elétrico, por exemplo, e pode levar a quadros fatais de paradas cardíacas. A probabilidade média de uma pessoa morrer atingida por um raio no Brasil é de um em 25.000, considerando uma expectativa de vida em torno de 75 anos. Mas, segundo o coordenador, a quantidade de sobreviventes a quedas de raio é maior do que as mortes.
Em relação às hospitalizações em decorrência das descargas elétricas atmosféricas, São Paulo é a unidade da federação com maior número de casos, com 48 do total de 266 registrados entre 2013 e 2022. O estado paulista é seguido por Minas Gerais (26), Ceará (25) e Rio Grande do Sul (20). Tocantins aparece em último lugar com sete internações. Outra consequência da alta incidência de raios no país é a morte de cabeças de gado, foram 3.262 nos últimos dez anos, número 3,9 vezes maior do que as vítimas humanas. Mato Grosso e São Paulo lideram em relação à quantidade de animais atingidos no mesmo período com 477 e 416 casos, respectivamente.
O coordenador avalia que os acidentes causem um prejuízo de R$ 50 milhões por ano ao agronegócio, e são facilitados pelo hábito dos animais de se abrigarem em grupos debaixo de árvores para fugir da chuva. "A chance de um raio atingir uma árvore é maior", diz. Além disso, o contato dos animais com as cercas energizadas pela queda dos raios a metros de distância é outra causa comum para os acidentes nas áreas rurais do país. Para evitar isso, segundo o especialista, é preciso aterrar o fio a cada 50 metros de cerca. "Assim, a descarga elétrica é neutralizada."
(Com informações da FolhaPress)