Enquanto a Walt Disney começa a examinar três propostas potencialmente viáveis para a aquisição da Miramax Films, uma subsidiária desativada, a questão central vem sendo não quem arrematará o famoso miniestúdio, mas sim o que o novo proprietário fará dele.
Até a noite de segunda-feira, haviam surgido três interessados na empresa, de acordo com pessoas informadas sobre o processo mas que não querem ter seus nomes revelados para proteger suas posições na transação.
Cada um dos interessados ¿se é que a Disney aceitará uma dessas ofertas- oferece perspectivas muito diferenciadas para a empresa que um dia foi a mais conhecida produtora independente de cinema em Hollywood.
A primeira oferta, no valor de US$ 550 milhões em dinheiro, vem dos irmãos Gores ¿Tom, Alex e Sam- investidores independentes que têm interesses no setor de entretenimento, entre os quais a agência de talentos Paradigm, controlada por Sam.
Outra oferta, no valor de US$ 600 milhões com boa parte do pagamento à vista e o valor restante parcelado, veio da Yucaipa Companies, controlada por Ronald Burkle, em sociedade com Bob e Harvey Weinstein, os criadores da Miramax em 1979. (A empresa foi vendida para a Disney em 1993.) Os Weinstein sempre expressaram interesse em retomar o controle do estúdio.
A terceira oferta vem do investidor David Bergstein, com valor estimado em US$ 700 milhões. A agência de notícias Bloomberg reportou que o Pangea Media Group, de Bergstein, anunciou estar representando uma "empresa internacional bem capitalizada", na transação. Ainda que essa pareça ser a oferta mais alta, envolve problemas relacionadas a um pedido de falência apresentado por credores contra empresas controladas por Bergstein.
Representantes dos irmãos Gores e Weinstein, da Yucaipa, de Bergstein e da Disney se recusaram a comentar ou não responderam a contatos na quinta-feira.
A Disney começou a reduzir as operações de sua subsidiária de produções especializadas no ano passado, e fechou seus escritórios em outubro. Posteriormente colocou a empresa e seu acervo de 700 filmes à venda, com indicações de que esperava oferta da ordem de US$ 700 milhões ou mais. No entanto, os cerca de seis interessados iniciais foram reduzidos aos três grupos que submeteram propostas esta semana.
Ao tentar retomar o controle da Miramax, dessa vez em parceria com Burkle, os Weinstein parecem querer promover o retorno triunfante da empresa cujo nome combina os prenomes de seus pais, Max e Miriam.
Pelo menos em curto prazo, parece que os Weinstein não pretendem fundir a Miramax com sua nova produtora, a Weinstein Co. Em lugar disso, administrariam a Miramax em forma de parceria estratégica com a nova empresa, que vem sofrendo tropeços apesar do sucesso de alguns projetos como Bastardos Inglórios.
Os Weinstein têm influência adicional no leilão atual graças a um acordo de venda sob a qual a Disney lhes concedeu extensos direitos de aquisição de projetos em desenvolvimento pela Miramax, e sobre a produção, co-financiamento e co-distribuição de continuações de alguns dos maiores sucessos da companhia.
Os Weinstein mantêm o direito de adquirir novos projetos, entre os 76 filmes que estavam em desenvolvimento na produtora, até o dia 1° de agosto, desde que iniciem a produção dos títulos assim adquiridos no máximo cinco anos depois do lançamento do título original.
Na tarde da segunda-feira, parecia que os Weinstein estavam inclinados a se aliar aos Gores, mas por fim ressurgiram na parada com o apoio de Burkle, um empresário que fez fortuna com lojas de alimentos e no passado operou como aliado de Michael Ovitz, antigo presidente-executivo da agência Creative Artists Agency.
Para os irmãos Gores, uma questão importante era a extensão do envolvimento permitido a Sam Gores, presidente-executivo da agência de talentos Paradigm, com a direção da Miramax, dados os regulamentos estaduais que proíbem que agências de talentos contratem seus próprios clientes para projetos. Os clientes da Paradigm incluem os atores Katherine Heigl e Philip Seymour Hoffman.
Virtualmente todas as grandes agências de Hollywood se envolveram em negócios sob os quais divisões ou subsidiárias passaram a produzir e financiar projetos de entretenimento. Mas nenhuma delas esteve envolvida no comando de um estúdio desde que a MCA desfez sua agência de talentos e assinou um acordo judicial que permitiu que tomasse o controle da Universal Pictures em 1962, mas sem autorizá-la a continuar representando artistas.
Sam Gores ajudou a organizar a proposta de sua família, com apoio de Alec, o irmão cujo Gores Group controla o grupo de mídia Westwood One, e Tom, o irmão especialista em aquisições alavancadas que recentemente tomou o controle do jornal San Diego Union-Tribune. Alec e Tom Gores são os dois parte da lista dos 400 mais ricos do ano passado, compilada pela revista Forbes, com patrimônio combinado de US$ 3,8 bilhões.
Enquanto os Gores enfrentam o problema de sua conexão com uma agência, Bergstein está envolvido em outro tipo de dificuldades, o que pode complicar a situação de um pequeno estúdio que precisaria de considerável reconstrução e talvez de um parceiro de distribuição, para recuperar sua estatura.
No mês passado, um juiz do tribunal de falências de Los Angeles apontou um liquidante para assumir o controle da ThinkFilm e outras empresas controladas por Bergstein, a fim de resolver acusações de credores por má gestão e impropriedades da parte do comando do grupo.