Cannabis Medicinal: produção no Brasil ganha destaque com primeira fazenda urbana em Olinda

A cannabis medicinal, historicamente estigmatizada devido ao uso recreativo, está conquistando novos espaços no Brasil.

Aliança Medicinal tem autorização judicial para o cultivo e a produção de medicamentos à base de cannabis | Artur Ferraz/G1
Siga-nos no Seguir MeioNews no Google News

A cannabis medicinal, historicamente estigmatizada devido ao uso recreativo, está conquistando novos espaços no Brasil. Agora, sua produção é realizada em escala industrial, como demonstra a Aliança Medicinal, primeira "fazenda urbana" de cannabis do país, localizada em Olinda, Pernambuco.

Fundada em 2020, a Aliança Medicinal obteve autorização judicial para o cultivo e a produção de medicamentos à base de cannabis em março de 2023. Esses medicamentos são produzidos a partir do óleo extraído das flores da planta fêmea, utilizado no tratamento de condições como epilepsia, Parkinson e depressão. O óleo terapêutico não gera efeitos psicoativos, sendo uma alternativa segura para tratamentos médicos.

ESTRUTURA DA FAZENDA

Localizada em um galpão de 1.000 m² no bairro Vila Popular, em Olinda, a unidade utiliza dez contêineres climatizados para o cultivo. A temperatura controlada, entre 22°C e 30°C, garante condições ideais para o desenvolvimento da planta, desde a clonagem até a extração do óleo. Todo o processo é automatizado para simular as estações do ano e otimizar a produção.

PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO

A fazenda urbana produz cerca de 2.000 frascos de 30 ml por mês, com preços variando de R$ 150 a R$ 500. Os produtos são enviados para associados em todo o Brasil, que somam mais de 9.000 pessoas. O custo do frete depende da localização, começando em R$ 10 para o Grande Recife.

PROCESSO DE PRODUÇÃO DO ÓLEO

O ciclo completo de produção do óleo dura de quatro a cinco meses e inclui:

- Clonagem: Talos da planta-mãe são cortados e colocados em um berçário para enraizamento.

- Crescimento: Após 25 dias, as mudas são transferidas para estufas que simulam a primavera e o verão.

- Florescimento: Em três meses, as plantas desenvolvem flores ricas em tricomas, responsáveis pela produção dos fitocanabinoides (CBD e THC).

- Extração: As flores são processadas para obtenção do Insumo Farmacêutico Ativo Vegetal (IFAV), que é analisado antes da diluição em azeite extravirgem para a produção do óleo.

Os óleos são disponibilizados em diferentes concentrações (1,5% a 10%) e composições (CBD, THC ou mistos), atendendo a diversas condições médicas.

REGULAMENTAÇÃO E EXPANSÃO

Com a aprovação de leis que garantem o fornecimento de medicamentos à base de cannabis no Sistema Único de Saúde (SUS) em Pernambuco, a expectativa é que a produção aumente significativamente. A Aliança Medicinal já se prepara para expandir sua capacidade de 10 para 36 contêineres.

"Estamos em processo de expansão para atingir a capacidade de 36 contêineres. A gente já vem se preparando para um aumento mais abrupto, de acordo com o desenrolar dessa lei de acesso pelo SUS. [...] Primeiro, a gente tem a aprovação da lei e a sanção pelo governo. Após essa etapa, a gente tem que chegar ao processo de regulamentação", disse Ricardo Hazin.

IMPACTO NOS CUSTOS DA SAÚDE PÚBLICA 

Além de oferecer uma alternativa eficaz e natural para diversos tratamentos, a popularização da cannabis medicinal pode reduzir custos com saúde pública, minimizando a necessidade de tratamentos convencionais mais caros. É o que aponta o engenheiro agrônomo Ricardo Hazin Asfora. 

"O custo de um tratamento desses [com cannabis medicinal], que é em média de R$ 200 ou R$ 300 por mês, se você comparar com um internamento ou atendimento de emergência de uma pessoa, vê o quanto vai conseguir viabilizar o sistema de saúde. É sobre isso que a gente está falando. Quanto mais a gente conseguir trabalhar em larga escala esse tipo de tratamento, a gente vai ter uma economia significativa no orçamento da saúde", afirmou.

Carregue mais
Veja Também
Tópicos
SEÇÕES