Renata Silvério, 25, e Gabriel Barros, 25, querem se casar. Os dois estão juntos há seis anos e já pensaram em cada pedacinho da cerimônia. Só um detalhe fugiu aos planos do casal: a fila de espera para entrar na igreja.
Eles terão de esperar mais de um ano para o grande dia.
Isso porque os dois escolheram um sábado à noite, o horário mais disputado das paróquias paulistanas. E fazem questão que a cerimônia aconteça na tradicionalíssima -e concorrida- paróquia Nossa Senhora do Brasil, no Jardim Paulistano, bairro nobre da zona oeste da cidade.
Resultado: o casório ficou para maio de 2014.
"Tenho muita devoção pela santa. Mas a beleza da igreja também pesou na escolha", diz Renata.
Quem, como eles, não abre mão de casar no "horário nobre" e quer uma paróquia "top" da cidade já pode preparar a paciência --e o bolso.
A espera para entrar numa dessas igrejas leva até dois anos. Na tradicional basílica do mosteiro de São Bento, por exemplo, a agenda já está cheia até o final do ano, e quem quiser casar ali terá de esperar pelo menos até 2014 (a igreja não receberá casamentos em 2013 devido a um processo de restauração).
Já o valor do aluguel chega a R$ 6.000.
Para casar na Nossa Senhora do Brasil, Renata e Gabriel ainda terão outro desafio no grande dia: ali, a noiva não pode atrasar. Aos sábados, a paróquia realiza até seis casamentos entre as 17h e as 22h. Por isso, todos precisam seguir à risca os horários.
A igreja se transforma num verdadeiro balé organizado de noivas, padrinhos e convidados. Mal os recém-casados das 17h deixam a paróquia, os convidados do casamento das 18h já começam a procurar seus assentos.
Segundo as paróquias consultadas pela Folha, janeiro e julho são os meses mais procurados, devido às férias. E se há um mês evitado é agosto (que carrega a má reputação de "mês do desgosto").
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de casamentos vem aumentando desde 2002, após um longo período de queda.
Em 2010, foram 977.620 matrimônios, 5% a mais que no anterior. Foram 6,6 casórios para cada mil habitantes com mais de 15 anos, contra 5,6 em 2002.
Para José Luiz de Carvalho, organizador da Expo Noivas & Festas, esse aumento se deve principalmente a três fatores: o crescimento da população na faixa dos 25 anos, a estabilidade da moeda e o crescimento da economia.
A acensão da classe C também contribui, diz. Segundo ele, existe um esforço do mercado para se adaptar a esse público. "Eles são os novos clientes, que desejam se casar e fazer a festa em lugar adequado", afirma.
Para a cerimonialista Fátima Leonhardt, o sonho de se casar numa igreja tradicional não é só das classes altas. "Os noivos se casam na Nossa Senhora do Brasil, na zona oeste, e fazem a festa na zona leste. Mas não abrem mão do sonho da igreja e do vestido."