Apesar de ser uma das capitais mais jovens do país, Teresina possui um charmoso centro histórico que vem sendo esquecido sem que prestemos atenção. Caminhar pela Avenida Frei Serafim é uma experiência tanto quanto controversa. Mesmo com a correria e a vida agitada dos dias atuais, fica difícil perceber o entrelace entre o moderno e o antigo, cada vez menos presente.
Teresina é uma das poucas cidades do país em que seu centro histórico não é apresentado como orgulho turístico. A falta de cuidados e investimentos com o patrimônio arquitetônico de Teresina representa uma grande perda para o turismo e a cultura local.
O centro de Teresina possui grande valor histórico-cultural e poderia ser utilizado como atrativo turístico. Vemos isso bastante em outras cidades e é triste ver todo esse descaso”, diz a vendedora de loja Ana Luíza Mendonça, que trabalha em uma loja da Avenida Frei Serafim e convive diariamente com a descaracterização.
O arquiteto Valério Araújo é sensível à causa e esclarece a dificuldade em manter as características arquitetônicas dos tempos antigos da cidade. “O patrimônio construído das cidades corresponde a uma memória materializada de um processo cultural e social. As políticas para a salvaguarda do patrimônio construído da cidade de Teresina apresentam diversas limitações para garantir a preservação das nossas construções”, aponta.
Lei de conservação do partimônio não é respeitada
O centro de Teresina está dividido em oito zonas de preservação. Ao longo da Avenida Frei Serafim existem cerca de 30 imóveis pertencentes ao patrimônio histórico cultural da cidade. Imóveis que, com exceção da Igreja São Benedito - tombada pelo IPHAN - estão sob responsabilidade municipal e enquadrados na lei de preservação ambiental n° 3.563.
De acordo com a lei n° 3.563, Lei de Preservação Ambiental, devem ser preservadas todas as características arquitetônicas, artísticas e decorativas das fachadas voltadas para entrada principal do imóvel, sendo mantido o telhado e toda área do mesmo até um recuo de no mínimo 15 metros, além de algum elemento arquitetônico significativo que esteja após esse limite.
Além disso, quaisquer reparações de pintura ou restauração destes imóveis devem ser comunicadas imediatamente ao órgão municipal competente, no caso de Teresina, no Departamento de Patrimônio Histórico Municipal, que fica instalado na Fundação Cultural Monsenhor Chaves.
Conservação depende de ações coletivas
Para profissionais íntimos da área, conservar o patrimônio existente é a melhor e mais viável alternativa. As cidades contemporâneas passam por novas dinâmicas urbanas que ressaltam o quanto é importante se pensar na ocupação dos espaços ociosos, resgatando o retorno da vida urbana às áreas centrais, a melhoria da mobilidade.
“Além destas medidas necessárias, como a regulamentação legal destes espaços, é imprescindível que tenhamos soluções coletivas e menos egoístas com a memória das nossa cidade”, diz o arquiteto Valério Araújo.
De acordo com o arquiteto, o tombamento de construções antigas e históricas é importante porque reconhece o valor histórico de um bem que sintetiza as ações humanas e os episódios urbanos de determinado tempo. “As soluções coletivas seriam parcerias público-privadas para solucionar e financiar intervenções e novos projetos, a conscientização pública sobre a importância do ambiente construído, da memória coletiva urbana”, pontua o arquiteto.
Para o arquiteto, que trabalha proximamente ao setor de preservação da memória local, é necessário preservar o que já existia anteriormente. “No caso de Teresina, as moradias e palacetes ecléticos, as construções modernas, como o DER, Tribunal de Justiça, além de muitos outros edifícios da cidade, cuja presença corresponde a um testemunho de uma época”, pontua Valério.