Centro Maria Imaculada acolhe e trata pacientes com hanseníase

O local conta com uma equipe multidisciplinar

Centro Maria Imaculada | José Alves Filho
Siga-nos no Seguir MeioNews no Google News

A hanseníase é uma doença crônica e infectocontagiosa, causada por uma bactéria que pode acometer pessoas de ambos os sexos, em qualquer idade. Ela apresenta como sintomas mais comuns as lesões na pele, dores nas articulações, redução da sensibilidade dos locais afetados e demais manifestações neurológicas, como dormências e diminuição de força nas mãos e nos pés.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil ocupa o 2º lugar entre os países onde se registra o maior número de novos casos. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são indicados para que a doença seja curada sem deixar maiores sequelas no paciente.

No Brasil, o tratamento é gratuito e oferecido na rede básica do Sistema Único de Saúde (SUS). Em Teresina, um local que recebe o encaminhamento de pacientes com hanseníase e é referência no atendimento secundário é o Centro Maria Imaculada, que é mantido pela Ação Social Arquidiocesana (ASA). O espaço existe desde o ano de 1992 e tem como atendimento prioritário os pacientes com a doença.

José Alves Filho

Sara Moura é diretora do Centro e trabalha há 5 anos no local. Ela conta que uma das finalidades é melhorar a qualidade de vida dos pacientes que sofrem preconceito. E diante disso, ela aconselha as pessoas que sofrem com esta doença a buscarem tratamento. “A hanseníase, se não tratada de início, assim como qualquer outra doença, chega a causar muitas sequelas. Os pacientes chegam aqui com incapacidades e deformidades. Eles acabam sendo excluídos e se isolando. Então, nós estamos aqui para melhorar essa situação”, disse. 

Devido às lesões neurais e deformidades físicas que incapacitam grande parte dessas pessoas e diante da desinformação da sociedade a respeito do tratamento e da cura da doença, as pessoas acometidas sofrem discriminação. Até mesmo a terminologia do nome hanseníase teve intuito de minimizar o preconceito sofrido por anos. O nome foi adotado pelo Ministério da Saúde em 1976, deixando de lado os demais adjetivos que representavam a intensa condenação e exclusão.

Paciente supera hanseníase com ajuda do Centro

Martarena Ferreira de Sousa recebeu o diagnóstico da doença no ano de 2015 e ficou incapacitada de trabalhar por causa das lesões nas mãos. Ela sentia a sensação de queimação nas mãos, pés e no rosto. Após o diagnóstico, recebeu o tratamento de um ano oferecido pelo SUS e foi encaminhada para o Centro Maria Imaculada, para receber fisioterapia e demais acompanhamentos. 

José Alves Filho

Assim como muitos outros pacientes, Martarena sofreu com a doença e também com a falta de apoio, mas recebeu tratamento e foi acolhida pela equipe do Centro. “O pessoal da minha família teve muito preconceito. O falatório foi muito, uns diziam que eu estava com câncer e outros diziam que eu estava com lepra, houve também várias invenções. Acabei me distanciando de todos para ver se conseguia viver em paz”.

Ela morava com o filho, a nora e o neto e declara que foi humilhada, porque estava com hanseníase “Fui afastada dos meus filhos e netos devido à vergonha e desprezo que sentiam. Eu comia e bebia em pratos e copos separados. Era um sofrimento. A minha nora tirou meu neto de mim, na época com dois anos, e também se afastou”. 

Diante do sofrimento que ela estava passando na casa do filho, entrou em depressão e seu genro resolveu chamá-la para morar com ele. “Foi exatamente no tempo que meu neto veio estudar aqui em Teresina. Hoje eu moro com ele, que é psicólogo, me ajuda e me entende. Melhorou 100% a minha vida”, diz.

Centro realiza 1.500 procedimentos por mês

Segundo a diretora Sara Moura, o Centro Maria Imaculada realiza cerca de 1.500 procedimentos por mês, incluindo curativos, pequenas cirurgias, exames de vasescopia e atendimentos na fisioterapia, que o paciente recebe depois de passar por uma triagem e tomar os encaminhamentos necessários. 

José Alves Filho

O Centro Maria Imaculada possui uma equipe multidisciplinar, composta por assistente social, psicólogos, médica dermatologista, farmacêuticos, enfermeiros, técnico em enfermagem, técnico em órteses e palmilhas, biomédico e terapeuta ocupacional, além de auxiliares administrativos que ajudam mais de 60 pacientes com hanseníase por dia.  

Assim como todos os outros atendimentos, o acompanhamento de psicólogos é muito importante para cuidar da saúde emocional, tanto dos pacientes quanto de seus familiares. “Nós também acompanhamos e tentamos acompanhar a família do paciente, se preciso. Com quem ele mora, seus relacionamentos. Pois os casos de contágio podem abalar as relações familiares e criar dificuldades no âmbito da saúde mental”, disse Sara Moura. 

A médica dermatologista Lívia Martins esclarece os principais sintomas da doença e as sequelas deixadas pela hanseníase. “A pessoa para de sentir o frio e o quente, e depois, com a evolução, o paciente para de sentir o toque e a dor. Quando o nervo é atingido, a pessoa para de ter sensibilidade e não volta ao normal, mesmo com o tratamento, por isso ficam com sequelas. É necessário a fisioterapia usando sapatos adequados, cuidado redobrado para não se machucar, e por fim, o constante acompanhamento”, informa.

Tratamento adequado evita transmissão da doença

A dermatologista Lívia Martins ressaltou a importância do conhecimento sobre a doença, as formas de cura e as maneiras de transmissão da hanseníase. Isso é importante para que as pessoas afetadas possam encará-la de forma correta e buscar o tratamento necessário.

“A maioria dos pacientes com hanseníase não a transmite para outra pessoa, só passa se tiver em uma fase muito avançada, atingir o sangue e não tiver o tratamento adequado. Depois do tratamento, a hanseníase não é transmissível”, afirma.

José Alves Filho

Na sala de fisioterapia, João Rodrigues de Sousa repete mais uma sessão. Há três anos, ele enfrenta  as sequelas da hanseníase.  “Estou há 8 meses aqui e recebo fisioterapia e um tratamento psicológico. Me sinto muito bem e confiante ao enfrentar as dificuldades”, garante.

Profissionais são fundamentais para o tratamento

Os desafios enfrentados pela equipe do Centro Maria Imaculada são muitos e os casos que chegam até eles são os mais variados possíveis. A enfermeira Joana Maria da Costa acompanha os inúmeros casos e compartilha a situação em que muitos chegam ao encontrar o Centro.

“Temos pacientes até de outros estados. Os quadros são variados. Tem pessoas com quadros bem avançados apresentando ferimentos, dificuldades em andar, casos que nos deixam tristes e pessoas que ficam bem. A depressão chega para muita gente aqui, mas estamos implantando ações de enfrentamento ao preconceito e falta de apoio”, conta.

José Alves Filho

Marcos Terta, fisioterapeuta, atende pacientes com hanseníase que também tiveram Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ele comenta mais sobre o tratamento e a recuperação. “Eles apresentam muitas contraturas musculares e trabalhamos a liberação delas com atividades diárias para o fortalecimento das musculaturas, trabalhamos o formigamento e com a eletroestimulação para a retirada dos formigamentos e diminuição da dor”, explica.

O prazer de poder oferecer tratamento e acolhimento a quem precisa, no entanto, ajuda a superar os desafios e torna o trabalho mais fácil. “É uma satisfação poder ajudar as pessoas. Sou fascinado pela minha profissão e nosso desafio é fazer a cada dia as pessoas se sentirem melhor”, disse Marcos Terta.

Veja Também
Tópicos
SEÇÕES