Centro realiza trabalho de capacitação e formação em Libras

A entidade capacita pelo menos 300 pessoas por semestre

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A comunicação é essencial para que haja integridade e inclusão de todos os membros da sociedade, inclusive aqueles que possuem dificuldades em se expressar com a maioria que é ouvinte. Por isso, o Centro de Atendimento às Pessoas Surdas (CAS) realiza um importante trabalho de capacitação em Língua Brasileira de Sinais (Libras) para os profissionais da educação, surdos e familiares, além da comunidade em geral.

Existindo desde 2006, o CAS fica localizado no Bairro Monte Castelo, zona Sul de Teresina, e possui extensões do curso na cidade de Piracuruca, logo chegará à cidade de Parnaíba, e também já existiu em Floriano.

Também na capital piauiense, as escolas Estaduais Matias Olímpio e Pires de Castro integram o centro com mais vagas para as pessoas surdas matriculadas nessas unidades. Dessa forma, ao menos 300 pessoas são capacitadas por semestre em todos os níveis e núcleos de trabalho da entidade.

A Elizabeth Sousa é professora na Escola Estadual Doutor Fontes Ibiapina e a preocupação com a inclusão dos estudantes surdos a levou a fazer a capacitação no CAS. Segundo ela, ainda é comum ver os outros jovens praticando bullying no meio escolar e na comunidade.

Por isso, o estudo da Língua de Sinais é importante para atender a necessidade desses alunos. “O nosso trabalho requer que tenhamos essa capacitação para realizarmos o processo de inclusão, pois precisamos entender, receber e atender essas pessoas.

Sem a intermediação em Libras, essas crianças não têm como ser integradas às atividades escolares, terão dificuldades de aprendizado e perderão a vontade de ir ao colégio”, explica.

Foi o que aconteceu com a estudante do nível básico de Libras Joana D’arc. Por conta da dificuldade de comunicação que havia na sala de aula e do preconceito existente na conivência com os colegas, ela desistiu de frequentar o colégio. Agora, por causa do CAS, a dona de casa pretende se capacitar e virar instrutora de Libras no futuro.

“Eu parei de estudar no primeiro ano do Ensino Médio, era um esforço muito grande que fazia para ser entendida e compreender o que os professores e os colegas estavam dizendo.

Quando a gente não escuta e não há ninguém com quem conversar, a tendência é ficarmos calados, só observando, e era o que eu fazia, me sentia invisível”, relata emocionada ao lembrar dos anos de escola.

A vontade de aprender e ajudar as crianças surdas da sua região motiva a estudante Vivian Teixeira a se deslocar, nos cinco dias da semana, da cidade de Caxias, no Estado do Maranhão, para assistir às aulas de Libras em Teresina. Com um sorriso estampado no rosto, a jovem instrutora já está estagiando no CAS e pretende ir mais longe.

Com o apoio do irmão, Neyjerson Teixeira, que por causa da irmã também está assistindo às aulas, a futura professora se esforça para terminar todos os estudos e conseguir realizar o seu maior sonho.

“Eu quero dar essa assistência para que as pessoas surdas possam se comunicar e se sentir incluídas. Incentivar o surdo a entender e disseminar a sua própria língua é valorizar a nossa cultura e entender que é importante se profissionalizar”, declara Vivian.

A família é a base da inclusão

Para que a inclusão social das pessoas surdas aconteça, é necessário que o meio familiar seja o principal alicerce de comunicação e incentivo. É dessa forma que uma criança nascida com alguma deficiência consegue vencer os empecilhos do cotidiano. Foi assim que a família da Marcela Kelly a ajudou a chegar ao Ensino Superior.

A dona de casa Luislane Queiroz é a maior incentivadora da filha. Desde quando a menina nasceu com limitações físicas, a dona de casa a ajudou a superar todos os problemas, primeiro com a fisioterapia para conseguir caminhar e ter a sua independência motora e segundo por enfrentar a surdez congênita a qual fez Marcela perder a audição quase totalmente.

"Ela sofria muito com bullying na escola, as outras crianças falavam e riam dela, mas nunca deixei que isso atrapalhasse a vida escolar dela. Cheguei ao ponto de ir ao colégio dar lição de moral nesses meninos e depois disso passaram a protegê-la.

Também tive que fazer o mesmo com os professores, eu expliquei que ela deveria sentar na frente e que eles deveriam falar mais alto para que ela entendesse", relembra Luislane.

Apesar do apoio dos pais, Marcela precisava de ajuda para aprender e se profissionalizar em Língua de Sinais e o CAS possibilitou esse progresso. "Eu descobri o centro sozinha e passei a frequentar com a minha mãe, que também aprendeu Libras para se comunicar comigo.

No CAS também fui incentivada pela diretora e pela coordenadora a fazer o preparatório do Enem e ir para a universidade. Eu não sabia se era isso que eu realmente queria, mas com o apoio de todos eu consegui passar em Letras Libras e hoje estou na Ufpi, lugar onde eu realmente me sinto incluída", explica Marcela.

Libras: um diferencial no mercado de trabalho

Além das pessoas com surdez, o CAS profissionaliza a comunidade para atuar na área de interpetação e tradução, ou seja, os intérpretes são pessoas que possibilitam a comunicação entre os ouvintes que não sabem Libras e os surdos.

A assistente social Renata Couto hoje trabalha como intérprete da Língua Brasileira de Sinais na Secretaria Estadual para Inclusão da Pessoa com Deficiência (Seid).

A especialização veio depois que a Renata aprendeu a língua para se comunicar com a filha e as amigas. Para ela, saber o novo idioma é importante para integrar todas as pessoas surdas e por isso decidiu ser intérprete.

“Apesar de já saber me comunicar bem por sinais, decidi me aprofundar nos estudos, hoje estou fazendo o curso de Libras Voz que é oferecido no CAS, para melhorar a minha fluência. Então, da necessidade de me comunicar com a minha filha, consegui mais uma nova formação”, relata.

Para a diretora do CAS, Rachel Andrade, o mercado de trabalho está cada vez mais necessitado de profissionais que dominem a Língua de Sinais. Isso porque a inclusão das pessoas com surdez nas grandes empresas, através de leis, criou a necessidade de haver esse tipo de comunicação.

“Hoje as empresa precisam de um profissional capacitado em Libras para que o surdo seja recebido de forma integral e inclusiva. Um profissional com esse diferencial conseguirá se destacar dos demais e é uma demanda que está crescendo.

Já recebemos aqui empresas que estavam precisando de pessoas para capacitar seus funcionários por conta de uma funcionária surda que foi contratada”, conta.

Ainda segundo Rachel, a demanda de intérpretes nas escolas estaduais tem aumentado, em 90% das unidades escolares onde existe uma pessoa com surdez matriculada há um profissional para acompanhar as aulas.

Preparatório já possui mais de 30 surdos

O CAS também oferece preparatório para o Enem, para o vestibular Letras Libras da Ufpi e para o exame de proficiência promovido pela Universidade de Santa Catarina e o Instituto Nacional do Surdo(INES).

De acordo com a coordenadora pedagógica do CAS, Elizabeth Coelho, quase 30 estudantes que fizeram o preparatório na instituição estão cursando o Ensino Superior.

"As aulas do preparatório são aulas de todas as disciplinas que são cobradas no Enem, são ministradas por professores da área que já passaram por aqui e estão prestando esse serviço voluntariamente. Nós estamos vendo que o projeto está dando resultado. Atualmente, 13 pessoas estão assistindo às aulas a tarde", revela.

O intérprete Carlos Douglas conseguiu passar no vestibular graças ao reforço das disciplinas que viu no CAS. O jovem conta que estudava sozinho em casa e tinha muitas dúvidas, infelizmente nenhum preparatório de Teresina oferece aulas com intérprete e no CAS todos os professores passaram pelo curso de Libras.

"O preparatório que temos aqui é muito bom, podemos tirar várias dúvidas das disciplinas e com professores que sabem Libras, desse jeito podemos realmente entender o que eles estão falando", relata.

Crianças aprendem Libras brincando

Dentre os vários cursos e projetos do CAS, o Libras Kids é o mais recente. O curso é destinado a crianças ouvintes da comunidade e familiares das pessoas com surdez, que aprendem a Língua de Sinais com facilidade.

Todas as terças-feiras a professora Sanatiana Gomes ministra a aula teórica e depois as crianças fazem brincadeiras que ajudam a fixar o novo idioma.

"As crianças aqui assimilam muito mais rápido que os adultos, rapidamente elas já começam a fazer os sinais. No Libras Kids trabalhamos da base e assim a compreensão é muito melhor, pois trabalhamos a parte criativa", explica.

A professora revela que as crianças estão ajudando os colegas surdos na escola e estão repassando os ensinamentos vistos dentro da sala de aula. Por isso a demanda do curso deve aumentar, já que os amigos dos alunos estão mostrando interesse pela língua.

"O mais importante é que essas crianças já conseguem mostrar o respeito às pessoas diferentes. Então, o problema de bullying que muitos surdos sofrem na escola não deverá existir nas classes dessas crianças.

No futuro, com mais dois ou três anos de aulas, os meus alunos estarão quase em nível de intérpretes por aprenderem muito rápido", afirma Sanatiana.

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