Cerca de oito pessoas morreram em meio ao violentos confrontos entre manifestantes pró-Evo Morales e a polícia militar em Sacaba, perto de Cochabamaba, na sexta-feira (15). O protesto era contra a presidente interina do país, Jeanine Añez. As informações são do Uol.
O representante da Defensoria do Povo da Bolívia em Cochabamba, Nelson Cox, relatou que os mortos são manifestantes que foram transferidos a um hospital "com ferimentos de bala", mas morreram antes de chegar às instalações. Segundo ele, as forças conjuntas de policiais e militares realizaram uma operação "desproporcional" diante da manifestação, que nos dias anteriores terminou com pessoas feridas por bala. Além disso, denunciou que as forças de segurança nos pontos de controle não deixaram passar ambulâncias que transportavam feridos.
"Tenho insistido todos os dias para que evitem mobilizações, não só não violentas, mas para evitar mobilizações. Desde domingo, assistimos a uma escalada das intervenções das forças conjuntas, da polícia e das Forças Armadas, que tiveram intervenções desproporcionais", argumentou.
Nelson Cox, afirmou à rede CNN que outras 125 pessoas ficaram feridas e 110 manifestantes foram detidos durante a manifestação, considerada a mais violenta até agora desde a renúncia e saída de Morales do país.
A polícia alegou que os agentes "foram atacados com armamento letal e armas de fogo improvisadas" entre as cidades de Cochabamba e Sacaba, e que uma viatura "recebeu impactos de armas de fogo", o que está sendo investigado. Um dos oficiais das forças conjuntas disse a canais de televisão que os manifestantes estavam utilizando "dinamite e armamento letal" que, segundo ele, nem a polícia possui.
Cox chamou a reação das forças de segurança da região de "ato de repressão". "Estamos trabalhando com a ouvidoria nacional para realizar autópsias para determinar a causa da morte e buscar justiça para essas vítimas", afirmou à Reuters na manhã de hoje.
Embora a capital La Paz estivesse calma no sábado de manhã, os bloqueios nas rodovias provocaram pânico nas ruas, com muitos correndo para acumular mantimentos, já que os suprimentos estavam diminuindo e os preços subiram. Os embates começaram quando um grande número de cocaleros tentava entrar na cidade por um dos acessos onde as forças da ordem instalaram controles. Os manifestantes tinham como destino final La Paz, para apoiar protestos a favor de Evo Morales, que no domingo passado renunciou ao poder e recebeu asilo do México.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou em um comunicado o "uso desproporcional da força policial e militar", enquanto confirmou os cinco mortos e destacou que havia um número indeterminado de feridos. A CIDH informou ainda que "as armas de fogo devem estar excluídas dos dispositivos utilizados pelo controle dos protestos sociais".
O ex-presidente da Bolívia Evo Morales condenou nesta sexta-feira a repressão a grupos cocaleros perto de Cochabamba, ação que deixou cinco mortos, e pediu para que as Forças Armadas e a polícia "parem o massacre". "Condeno e denuncio ao mundo que o regime golpista que tomou o poder por assalto em minha querida Bolívia reprime com balas das Forças Armadas e da polícia o povo que pede pacificação e a reposição do estado de direito", escreveu no Twitter.
Morales pediu às Forças Armadas e à polícia que "parem o massacre" porque "o uniforme das instituições da pátria não pode ser manchado com o sangue do povo". "Agora, assassinam nossos irmãos em Sacaba, Cochabamba", denunciou Morales, que está no México, após renunciar à presidência da Bolívia e aceitar o asilo oferecido pelo governo do país.