A formação de um fenômeno conhecido como "ciclone bomba" e a passagem de tempestades provocaram estragos em Santa Catarina nesta terça-feira (30). Houve destelhamento de imóveis, queda de árvores e pelo menos três mortes, segundo o Corpo de Bombeiros e Defesa Civil. As rajadas de vento passaram dos 120 km/h em algumas regiões e, conforme as Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), mais de 1,5 milhão de unidades consumidoras ficaram sem energia elétrica. O mau tempo deve continuar até esta quarta (1º). As informações são do G1.
O fenômeno recebe esse nome porque, associado ao ciclone, há uma queda rápida de pressão atmosférica, o que causa ventos intensos, segundo o professor Ernani de Lima Nascimento, do curso de Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Em Chapecó, no Oeste, uma idosa morreu após ser atingida por uma árvore. Em Santo Amaro da Imperatriz, na Grande Florianópolis, um homem perdeu a vida depois de ser atingido pela fiação elétrica de um poste depois da queda de uma árvore. A terceira morte foi em Tijucas, também na Grande Florianópolis, em uma estrutura que caiu. Segundo o governo do estado, há uma pessoa desaparecida na cidade.
Veja os maiores picos, segundo registros da Defesa Civil do estado:
- Morro da Igreja, em Lages: 120 km/h
- Tangará: 111km/h
- Chapecó: 108 km/h
- Urupema: 104 km/h
- Campo Belo do Sul: 100 km/h
- Água Doce: 98 km/h
- São Joaquim: 96 km/h
- Xanxerê: 90 km/h
De acordo com o governo do estado, o levantamento inicial das coordenadorias regionais da Defesa Civil, ao menos 25 municípios foram atingidos e os bombeiros atenderam mais de 900 ocorrências só no Oeste catarinense.
A Defesa Civil informou que o vento passou de 120 km/h no Morro da Igrej, na Serra catarinense. Em outros locais ficou entre 90 e 111 km/h.
Muitas rede elétricas foram afetadas em todo estado e as equipes da Celesc trabalham para restabelecer a energia. Segundo a empresa, o cabo com a empresa de fibra ótica da operadora de telefonia foi rompida também com o veto e , por isso, muitos cientes não estão conseguindo contato com Call Center da empresa.
A orientação do governo do estado é para que as pessoas fiquem em casa e evite contato com fiações e estruturas metálicas nas ruas.
Rodovias
Rodovias estaduais e federais foram afetadas por queda de árvores, em alguns locais, o trânsito está em meia pista. Conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF-SC), ainda há árvores caídas em várias rodovias. Alguns dos locais onde a pista foi ou está interditada são a BR-470, em Blumenau, Ascurra, Lontras e Rio do Sul; a BR-116 em Mafra, Monte Castelo; BR-282, Joaçaba, Campos Novos, Vargem, Xanxerê, São José do Cerrito, Bom Retiro Rancho Queimado; e BR-101 em Itajaí, Biguaçu, Paulo Lopes e Tubarão; BR-153 em Concórdia; e BR-280 em Araquari.
Já nas rodovias estaduais, equipes da Polícia Militar Rodoviária (PMRv) trabalha em diferentes estradas para desobstruir as vias. Entre os locais afetados estão: SC-418, na Serra Dona Francisca; SC- 477, no trecho Moema; SC-112 em Rio Negrinho; SC-477 e SC- 108.
Grande Florianópolis
Em Florianópolis, até por volta das 17h25 mais da metade da cidade estava sem energia elétrica e o trânsito estava comprometido em alguns trechos. Não há registro de feridos até o momento.
No bairro Córrego Grande, uma van e um carro de passeio foram atingidos por uma árvore em frente ao Parque Municipal do Córrego Grande. Houve também queda de árvore nas proximidades da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no bairro Estreito, no Morro da Lagoa, no bairro Pantanal e na SC-401, que liga o Centro ao Norte da Ilha de Santa Catarina.
No bairro Rio Tavares, um poste caiu sobre um veículo e a SC-406 está parcialmente bloqueada. Uma placa de trânsito foi arrancada pela força do vento perto da ponte Hercílio Luz, informou a Guarda Municipal. No Ingleses, uma creche municipal ficou destelhada.
Em São José, houve ventos fortes em toda a região, com falta de luz e queda de árvores. Em Governador Celso Ramos, uma árvore de grande porte bloqueia o acesso via Armação. Já em Santo Amaro da Imperatriz, um homem morreu atingido pela fiação de um poste após a queda de uma árvore sobre a rede de alta tensão.
Em Palhoça, a queda de uma árvore sobre a via, na Guarda do Cubatão, atingiu a rede de alta tensão.
Vale do Itajaí
No Vale do Itajaí, o vendaval também deixou estragos e assustou os moradores. Um carro foi destruído com a queda de uma estrutura em Itajaí e houve quedas de árvores. Uma embarcação do ferry boat foi arrastada pelo vento no Rio Itajaí-Açu. A balsa ia sentido Navegantes quando ficou desgovernada por cerca de 500 metros, com veículos e pedestres a bordo. O motorista da balsa precisou manobrar de volta para o local de embarque. Outra balsa que tentava atracar do lado de Navegantes colidiu com a outra que já estava estacionada e precisou ser rebocada. Ninguém ficou ferido, mas a travessia ficou interrompida após o incidente por mais de duas horas.
Em Blumenau várias árvores caíram e bloquearam ruas da cidade. Uma delas caiu na Rua XV de Novembro e interrompeu o trânsito. No bairro Itoupava Norte, o vento derrubou a cobertura de um posto de combustíveis da Rua 2 de Setembro. A Defesa Civil já registrou 55 ocorrências e equipes estão nas ruas levantando os estragos. Na estação meteorológica localizada no Parque Ramiro Ruediger, o vento máximo registrado foi de 75 km/h, às 16h.
Conforme a Celesc, cerca de 85 mil unidades consumidoras ficaram sem energia elétrica. Em toda a região, o número chega a 192 mil imóveis sem luz. Segundo a Polícia Rodoviária Federal houve pontos de interdição total ou parcial na BR-470 nos municípios de Blumenau, Ascurra, Lontras e Rio do Sul.
Em Brusque, ventos fortes com queda de árvores, sendo que uma delas caiu em cima da perna de um trabalhador, que está com suspeita de fratura. Houve ainda quedas de placas, destelhamentos e vidros quebrados. Na cidade de Guabiruba , teve registro de queda de árvores. As informações são do Corpo de Bombeiros.
Oeste catarinense
No Oeste, primeira região do estado atingida pelo vendaval, uma pessoa morreu e diversos estragos foram registrados.
Em Chapecó, uma idosa de 78 anos morreu após ser atingida por uma árvore derrubada pela força do vento, próxima do aeroporto, no bairro Quedas do Palmital. A equipe do Corpo de Bombeiros prestou atendimento, mas a vítima não resistiu e morreu no local.
A velocidade do vento chegou a 108 km/h por volta das 13h30 no município, segundo Marcelo Martins, que é o meteorologista da Epagri/Ciram, órgão que monitora as condições climáticas no estado. A Secretaria de Defesa do Cidadão e Mobilidade (SEDEMOB) recebeu, via Defesa Civil, 350 registros de destelhamentos, quedas de árvores e galhos.
Segundo a Prefeitura de Concórdia foram registrados danos em 15 unidades escolares, dois Centros de Convivência, e o destelhamento do terminal rodoviário. Até as 15h, não havia registro de feridos no município.
O mau tempo também causa transtornos em cidades da região. Em Xanxerê, o vento por volta das 10h chegou a 81,4 km/h, também houve queda de granizo. Nos bairros Pinheiro e Veneza foram registrados destelhamentos e lonas foram distribuídas aos moradores.
São Domingos, Mondaí, Caibi e Palmitos também tiveram casos de destelhamentos. Em São José do Cedro, os prejuízos foram no sistema de abastecimento de água na Linha 21 de Novembro, sendo que três das quatro caixas d´água do local foram danificadas.
Em Ponte Serrada, o temporal causou problemas com o fornecimento de energia elétrica por conta do temporal.
Em Joaçaba, parte do monumento de Frei Bruno, no bairro Flor da Serra, ficou destruída com o vento. A peça com cerca de 7 metros de cumprimento despencou do alto estrutura e caiu em frente ao terreno, ao lado do velário. Não havia ninguém no local no momento da queda.
Sul
Na região, houve ocorrências envolvendo vendavais, e queda de poste de TV na subida do morro Mina Brasil e de postes de energia. Em Siderópolis, foi registrada queda de árvore e, no município de Treviso, uma idosa que estava sozinha em casa pediu apoio aos bombeiros porque o vento estava derrubando árvores em um sítio.
Chuvas e fortes ventos atingiram ainda Tubarão, São Ludgero, Braço do Norte e Imbituba, a partir das 15h35. No total, foram registradas seis ocorrências: um incêndio em residência, e cinco quedas de árvores sobre rede elétrica, veículos, vias e residência.
Ciclone bomba e linha de instabilidade
Segundo o professor Ernani de Lima Nascimento, do curso de Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o que ocorreu durante esta terça-feira em Santa Catarina foi uma combinação de dois fatores, que geraram vento intenso. "Estamos no processo de formação de um ciclone extratropical no Litoral do Sul do Brasil e de fato a previsão da sua taxa de intensificação o classifica como um ciclone bomba", afirma.
Segundo o professor, o fenômeno tem esse nome porque é um ciclone, em que a pressão tem uma queda rápida e isso acaba formando ventos intensos. "Desde o início do dia houve relatos de ventos intensos em Santa Catarina, e somado à formação do ciclone houve o desenvolvimento do que se chama de uma linha de instabilidade, que é como se fosse várias tempestades se alinhando. Estas tempestades geraram rajadas de vento localmente mais fortes".
Ele explica que essa linha de linha de instabilidade veio desde o Oeste de Santa Catarina passou pelo Norte do Rio Grande do Sul também, atravessou o estado até o Litoral.
"Podemos atribuir a maior parte dos danos a essa linha de instabilidade e o ciclone é o contexto maior em que essa linha se formou. Porque temos na atmosfera os fenômenos em diferentes escalas. Então, na escala maior é o ciclone, que está ganhando força", disse.
Os ciclones extratropicais são recorrentes na região, conforme explica Nascimento. "Não é um fenômeno extraordinário, ele ocorre várias vezes durante o ano e é comum no inverno, é só que esse foi mais intenso e por isso satisfaz esse apelido de ciclone bomba. A formação desse ciclone gerou as condições numa escala maior favoráveis a formar ventos intensos e dentro desse ambiente gerou essa linha de instabilidades, essa linha de tempestades, que varreu o estado de Oeste pra Leste, e essas tempestades são capazes de gerar vento ainda mais intenso, capaz de produzir danos como quedas de árvores e postes", conclui.
Previsão do tempo
Conforme o meteorologista da NSC Comunicação, Leandro Puchalski, a previsão indica que o vento irá diminuir no início da noite, mas deverá voltar com maior intensidade entre a madrugada e a manhã de quarta-feira (1°).
"Enquanto o ciclone se desloca para o mar o vento acalma. Porém, formado no mar pela sua forte intensidade e proximidade da costa irá trazer fortes rajadas de vento no Sul, Serra, Litoral, Vale do Itajaí e Norte. Rajadas de 70 a 90 km/h ainda são esperadas", afirma.