Que a enxaqueca é uma doença altamente prevalente não é novidade, mas o que poucos sabem é que pacientes com enxaqueca apresentam associação mais estreita com doenças psiquiátricas como a ansiedade e depressão.
O calendário nacional de efemérides de saúde reserva o dia 10 de outubro para a conscientização da Saúde Mental. No Brasil, os distúrbios mentais são responsáveis por altas taxas de incapacidade com incidência de 9,3% nos quadros de depressão e 7,5% por ansiedade.
“A data é altamente propícia para promover a conscientização das enfermidades não visíveis, não palpáveis e subjetivas que se relacionam entre si”, afirma Dr. Mario Peres, médico neurologista da Sociedade Brasileira de Cefaleia.
Mas qual a associação entre os transtornos mentais e a enxaqueca, doença neurológica, considerada a terceira enfermidade mais prevalente do mundo? Confira na lista a seguir 5 fatos sobre esta relação que vai muito além da dor de cabeça:
1. Se você tem enxaqueca, fique atento!
Subdiagnosticada e subestimada, a doença invisível, tem um impacto devastador e está intimamente relacionada e associada a uma ampla variedade de comorbidades. Dos diversos tipos de enxaqueca, a crônica é a que mais apresenta frequência de associação com outras doenças psiquiátricas3.
2. Diagnóstico de depressão é o mais comum entre enxaquecosos (as)
A depressão, por exemplo, é um dos transtornos mais comuns em pacientes com enxaqueca. Estudos revelam que quem é acometido pela doença neurológica tem 2,5 vezes mais chances de sofrer com depressão em comparação aos que não a possuem3. Mais de dez estudos relacionando enxaqueca e depressão revelam que a incidência de depressão em enxaquecosos varia entre 8,6% a 47,9%4,5,6.
3. Dados revelam maior incidência em pacientes que sofrem com aura
A associação entre enxaqueca e transtorno depressivo é ainda mais intensa em pacientes com enxaqueca com aura.8 E uma informação curiosa: a relação entre enxaqueca e depressão parece ser bidirecional6, ou seja, a enxaqueca (enquanto dor crônica) pode desencadear a depressão e vice e versa. “Não temos evidências científicas de que o controle da depressão ajuda no controle da enxaqueca, mas é importante identificar e tratar a depressão em pacientes com enxaqueca porque a depressão é um fator preditor importante para predisposição para enxaqueca8”, acrescenta Dr. Mario Peres.
4. Apesar de menos incidente, ansiedade também merece atenção
Especificamente tratando de ansiedade, mais da metade dos pacientes reúnem pelo menos um tipo de transtorno, sendo os mais comuns: transtorno de ansiedade generalizado (TAG), transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e síndrome do pânico3. Pacientes que sofrem com enxaqueca com aura também têm 3 vezes mais chance de ter transtorno afetivo bipolar em relação à população geral e, inversamente, cerca de um terço dos pacientes com transtorno afetivo bipolar têm enxaqueca9,10,11.
5. Mesmo com avanços científicos, tratamento ainda é desafio
“O tratamento de doenças neurológicas é desafiador, pois há debilidades nos sistemas de atendimento, há falta de informações sobre a existência de profissionais especializados, faltam também medicamentos essenciais na rede pública, sem falar da estigmatização das doenças, o que pode resultar em uma carga enorme de preconceito. E tudo isso se aplica à enxaqueca e as doenças mentais - está mais do que na hora de modificar esse cenário”, finaliza o neurologista.
Os medicamentos para o tratamento da enxaqueca disponíveis não têm ação específica e muitos deles foram elaborados para combater outros problemas como epilepsia e depressão12. Recentemente, uma nova classe de medicamentos biológicos foi descoberta com atuação no bloqueio dos receptores do peptídeo relacionado com os genes de calcitonina (CGRP). Tais tratamentos são capazes de bloquear diretamente o ciclo da doença com atuação profilática, ou seja, previne o início e/ou ocorrência das crises.