O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou no início da tarde desta terça-feira (19) que quer o governo de Jair Bolsonaro na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), organização militar comum de defesa, com 28 países-membros.
Trump e Bolsonaro deram declaração à imprensa após encontro e almoço na Casa Branca, em Washington.
"Como disse tenho a intenção de designar o Brasil como um aliado fora da Otan especial e até um aliado dentro da Otan, isso poderia melhorar nossa cooperação. Nossas nações estão trabalhando juntas para proteger o povo do terrorismo do crime transnacional e do tráfico de drogas, armas e pessoas, algo que é prioridade", disse Trump.
Brasil na Otan
O Brasil como aliado da Otan surgiu no contexto da situação da Venezuela e possível intervenção militar ao regime de Nicolás Maduro. Ao ser questionado sobre apoio a uma intervenção militar na Venezuela, Bolsonaro disse que o Brasil está disposto ao "que for possível fazer para solucionar o problema da ditadura".
"Discutimos a possibilidade de o Brasil entrar como grande aliado extra Otan. Há pouco, permitimos que alimentos fossem alocados em Boa Vista, capital de Roraima, por parte dos americanos, para que a ajuda fizesse presente. No momento, estamos nesse ponto. O que for possível fazermos juntos para solucionar o problema da ditadura da Venezuela, o Brasil estará a postos para cumprir essa missão para levar liberdade e democracia ao país", afirmou Bolsonaro.
Nesse mesmo contexto, Trump defendeu que integrantes dos setores militares da Venezuela suspendam apoio a Nicolás Maduro. Ele também defendeu o fim do socialismo no continente americano.
"Pedimos aos integrantes dos setores militares da Venezuela que suspendam o apoio a Maduro, que não é nada além de uma marionete de Cuba. Os Estados Unidos e o Brasil estão em apoio ao povo cubano, que sofre, e ao povo da Nicarágua. Chegou a hora final do socialismo no nosso hemisfério. A última coisa que queremos nos Estados Unidos é o socialismo", disse Donald Trump.
Bolsonaro defendeu o discurso de Donald Trump e disse que as pessoas que acreditam no socialismo estão "abrindo a mente para a realidade".
"Acredito piamente na reeleição de Donald Trump. [...] A cada dia que passa, essas pessoas mais voltadas ao socialismo e ao comunismo vão abrindo a mente para a realidade. A fronteira da Venezuela com o Brasil foi fechada não para os brasileiros que apoiam o socialismo, mas para os venezuelanos que apoiam a democracia não entrassem no Brasil", afirmou o presidente brasileiro.
ENCONTRO NA CASA BRANCA
Em encontro na Casa Branca com o presidente Jair Bolsonaro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (19) que apoia o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A declaração foi dada à imprensa durante reunião entre os dois presidentes, em Washington. Bolsonaro chegou à Casa Branca às 13h04 e foi recebido logo na entrada do prédio por Trump.
Mais cedo, o presidente brasileiro se reuniu com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro.
"Eu estou apoiando os esforços deles [brasileiros] para entrar [na OCDE]", disse Trump, ao lado de Bolsonaro. Ele não deu mais detalhes sobre o assunto.
A OCDE atua como uma organização para cooperação e discussão de políticas públicas e econômicas que devem guiar os países que dela fazem parte. Para entrar no acordo, são necessárias a implementação de uma série de medidas econômicas liberais, como o controle inflacionário e fiscal. Em troca, o país ganha um "selo" de investimento que pode atrair investidores ao redor do globo.
Mais cedo, de acordo com a agência Reuters, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que os Estados Unidos querem que o Brasil deixe a lista de países de tratamento especial e diferenciado da Organização Mundial do Comércio (OMC) em troca do apoio norte-americano à entrada brasileira na OCDE.
A lista de países de tratamento especial e diferenciado da OMC, em que os países se autodenominam, dá vantagens especiais como mais tempo para cumprir acordos e outras flexibilidades.
De acordo com a Reuters, o governo norte-americano, contrário à lista, quer terminar com o modelo, do qual o Brasil participa até hoje, e quer ajuda do governo brasileiro.
Questionado sobre o que esperava que Bolsonaro levasse como resultado da visita aos Estados Unidos, Trump afirmou que o país tem "muitas coisas" que o Brasil gostaria, como o comércio.
"Estamos trabalhando nessas coisas. Um dos aspectos é o comércio. O Brasil fabrica ótimos produtos e nós produzimos ótimos produtos. No passado, nosso comércio nunca foi tão bom quanto deveria ser. Em alguns casos, deveria ser muito mais. Então achamos que nosso comércio com o Brasil aumentará substancialmente em ambos os sentidos e estamos ansiosos para isso", afirmou Trump.
No encontro, os presidentes trocaram camisas das seleções de futebol do Brasil e dos Estados Unidos e citaram a admiração mútua pelo ex-jogador Pelé, considerado o rei do futebol.
Agenda
Bolsonaro está desde domingo (17) em Washington para sua primeira visita oficial aos EUA, a segunda viagem internacional de seu mandato. O presidente se hospedou na Blair House, residência que o governo norte-americano reserva para chefes de Estado em visitas oficiais.
O encontro privado com Trump é o principal compromisso dos três dias de agenda de Bolsonaro em Washington. Após a audiência privada dos presidentes, haverá um almoço de trabalho, com reunião ampliada.
Na sequência, o presidente brasileiro visitará o cemitério nacional de Arlington, local onde estão os restos mortais de 400 mil soldados norte-americanos e de outros 11 países. Ainda nesta terça, Bolsonaro terá uma reunião com lideranças religiosas dos EUA e um jantar de trabalho antes da partida para Brasília. Ele deve chegar em Brasília nesta quarta-feira (20).
Parcerias com os EUA
Desde a campanha eleitoral, em 2018, Bolsonaro defende uma maior aproximação do Brasil com os EUA. Já em Washington, ele declarou que deseja um Brasil “grande”, a exemplo dos planos de Trump para seu país.
Bolsonaro, que já foi chamado de “Trump dos trópicos” pela imprensa estrangeira, reforçou o desejo de parcerias com os norte-americanos na segunda (18) ao discursar no "Dia do Brasil em Washington", na Câmara de Comércio dos Estados Unidos.
Nesta terça, ao lado de Trump, Bolsonaro disse que é uma satisfação estar nos Estados Unidos “depois de algumas décadas de presidentes antiamericanos”. O presidemte brasileiro disse que "agora" o “Brasil mudou” e que o país “tem muito muito a conversar, muita coisa a oferecer para os nossos povos”.
“Tenho sim, como disse há muito tempo, muita coisa em comum com o senhor Donald Trump. [...] Ele quer uma América grande, eu quero um Brasil grande. Pode ter certeza, a partir desse momento aqui, o Brasil está mais do que nunca engajado com os nossos Estados Unidos", afirmou Bolsonaro..
Venezuela
Um dos temas previstos para o encontro entre Trump e Bolsonaro é a situação da Venezuela. Brasil e EUA não reconhecem o governo de Nicolás Maduro e consideram o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino do país.
Trump já afirmou que enviar militares ao país sul-americano "certamente é uma opção". O governo brasileiro tem declarado que não participaria de uma intervenção na Venezuela. Bolsonaro, contudo, citou nesta segunda (18) a capacidade "bélica" dos norte-americanos ao dizer que é preciso "resolver a questão da Venezuela".
No início desta madrugada, Bolsonaro concedeu entrevista ao canal Fox News e disse querer que a Venezuela "volte à democracia" e que o Brasil é o país mais interessado em pôr fim ao governo Maduro.
Na declaração à imprensa na tarde desta terça, Trump falou sobre a situação da Venezuela e voltou a dizer que “todas as opções estão na mesa” e que ainda não discutiu participação militar do Brasil na Venezuela.
Acordo de Alcântara
Até o momento, o principal acordo firmado entre Brasil e EUA durante a viagem de Bolsonaro viabiliza o uso comercial da base de lançamento de Alcântara, no Maranhão.
O acordo de salvaguardas tecnológicas, que precisará da aprovação do Congresso Nacional para entrar em vigor, preserva a tecnologia dos dois países e viabiliza o lançamento de foguetes e satélites pelos EUA a partir da base maranhense, que continuará sob jurisdição brasileira.
Durante a viagem, o governo publicou um decreto assinado por Bolsonaro que permitirá, a partir de 17 de junho, que turistas de EUA, Austrália, Canadá e Japão entrem no Brasil sem a necessidade de visto.
A medida foi "unilateral", ou seja, não muda a forma de os cidadãos brasileiros entrarem nesses países. De acordo com o Ministério do Turismo, a dispensa do visto foi adotada a fim de incentivar o turismo no país, com a geração de emprego e renda no Brasil.