Uma nova geração de pais está chegando para quebrar determinados estereótipos. Aquela ideia de pai durão que não aceita a fragilidade e que não é carinhoso, aos poucos, vai caindo por terra ao longo das gerações. No Dia dos Pais, uma reflexão sobre as mudanças e transformações sociais que este papel passou ao longo dos anos.
De acordo com dados da pesquisa "Retrato da Paternidade no Brasil", muitos pais estão se esforçando para oferecer uma criação de filhos livres de estereótipos machistas. Além disso, o afeto parece ser algo ainda mais importante no processo de criação dos pequenos.
'Seja homem'
Os dados mostram que os pais brasileiros entrevistados reduziram falas e expressões consideradas machistas no ambiente doméstico, principalmente depois da chegada dos filhos. A expressão “seja homem”, por exemplo, caiu em 50%, enquanto “menino não chora” registrou queda de 36%.
Além disso, os pais têm mudado determinados hábitos. Para 56% dos entrevistados, é muito importante que eles próprios sejam um exemplo a ser seguido pelos filhos de forma positiva.
Outro fator interessante da pesquisa é que os entrevistados também afirmam estar mais preocupados na abordagem de temas como gênero e assédio. Assim, 69% relatam que explicam aos filhos que as diferenças sociais entre homens e mulheres existem e que temos que ser cuidadosos para minimizá-las.
A nova leva que surge
Rômulo Maia é um dos representantes da nova leva de "papais", com a pequena Elena Maia Bastos. "Essa conversa de pai durão é mais um elemento da lógica machista na qual fomos criados. A ideia de que homens não precisam dar sentimentos, apenas botar dinheiro e bens em casa. O papel dele seria esse. O pai valente, que amedronta os pretendentes da filha, por exemplo, é algo velho e caduco", revela.
Para Rômulo, aqueles que se privam de manifestar carinho estão perdendo tempo de vida.
"Minha filha tem sete meses e a coisa que mais gosto é ver o sorriso dela de manhã. Se ela sorri, ela está feliz e alegre de ver a gente do lado dela. Então o carinho, afeto e cuidado têm um reflexo muito positivo", acrescenta.
Mais avançados
Os new dads estão cada vez mais "avançados" neste aspecto.
"A minha geração e as que estão vindo é feita de pais mais responsáveis. A luta feminina forçou o homem a reforçar seu papel dentro da família e da paternidade. É uma geração que é mais responsável afetivamente", aponta Rômulo Maia.
Inclusive, ele afirma que não faz mais que a obrigação. "Eu não sou um pai 'jeitoso' e nem ajudo a 'Mayara'. Eu sou um pai que cumpre a função de pai, que é participar das tarefas do dia a dia no cuidado com a neném. A partir do momento que temos pais mais afetivamente responsáveis e que entendem melhor seu papel dentro da paternidade, você tende a ter uma replicação menor da lógica machista", pontua.
Aposentar o pai durão
Thiago Auster Campos é pai do Arthur, de 4 anos, e do Murilo Paulo, de 7 meses. Ele é a favor de aposentar o "pai durão".
"Eu acredito que infelizmente ainda existem muitos que não superaram essa questão do pai durão. Muitos ainda reproduzem comportamentos antigos. Mas mudou muito e conseguimos vislumbrar que há uma superação disso. A figura do pai truculento, por exemplo, está diminuindo. Você tem que mostrar o carinho para os filhos todos os dias", revela.
Carinho presente
Para Thiago, o carinho deve estar presente, sempre.
"Sempre ao acordar e antes de dormir, sempre tem que ter um 'eu te amo', uma palavra de carinho, um abraço, um beijo. Assim ele se sente amado e feliz. Eu percebo que é uma geração que é mais carinhosa e que tem rompido as amarras, embora haja os resquícios do homem brigão que não chora", considera.
A verdade é que o carinho alimenta a alma dos filhos. "A vida é mais dinâmica e corrida. Então as pessoas estão percebendo como é importante mostrar o amor para a criança. Essa geração tem criado os filhos de forma menos machista. O machismo ainda é bem presente na sociedade em geral, mas os pais estão passando uma mensagem diferente, embora ainda tenha muito a melhorar", pondera.
Nova geração
Marcílio Costa, de 42 anos, é pai da Amora Maciel, de 2 anos e 9 meses, afirma que deixar o pai durão de lado é um processo. "A nossa geração percebeu que houve uma mudança no afeto. Os homens percebem que isso influenciou muito em diversos aspectos da nossa personalidade e vida. A gente reproduz muitas coisas. Na minha própria paternidade eu deslizei, falei alto, algo que veio da minha criação", afirma.
Mas é um fato que os pais dessa geração tentam criar os filhos de forma menos machista.
"É uma tentativa, porque o machismo é estrutural e muitas vezes acabamos reproduzindo. Vejo outros pais fazendo o mesmo. Mas a luta das mulheres ao longo das décadas fez os homens abrirem os olhos", finaliza.