As críticas do presidente Jair Bolsonaro a Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, depois de a companhia anunciar um novo reajuste nos preços dos combustíveis, acontece às vésperas da reunião do conselho de administração em que é votada a recondução ao cargo do presidente. Informações da revista Valor Econômico.
No dia 23 de fevereiro, véspera da divulgação dos resultados de 2020, o colegiado se reúne para deliberar, entre outros assuntos, sobre a recondução de Castello Branco para mais um mandato de dois anos. O executivo assumiu no começo de 2019. A reunião é ordinária e já estava marcada para ocorrer.
Ontem, o presidente da República sinalizou que mudanças estão por vir na companhia. “Isso [zerar imposto] vai contrabalançar este aumento excessivo [dos preços] da Petrobras, mas eu não posso interferir, nem iria interferir. Se bem que alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias, tem que mudar alguma coisa, vai acontecer”, anunciou Bolsonaro, ontem à noite, sem entrar em detalhes.
A recondução de um executivo pelo conselho de administração não é garantia de que Castello Branco não possa ser demitido posteriormente. No mercado, contudo, é de praxe que as companhias façam as trocas de comando ao fim dos mandatos, e não durante o curso deles — decisão que geralmente leva a questionamentos por investidores e a situações de estresse para empresas abertas listadas em bolsa.
Pelo estatuto social da Petrobras, cabe ao conselho eleger e destituir os membros da diretoria executiva. A União possui o controle da companhia, mas a maioria do colegiado, hoje, é composta por membros independentes.
Segundo duas fontes, o conselho apoia a atual gestão e não vê, até o momento, necessidade de mudança no comando da empresa. Uma terceira fonte, porém, disse que um ambiente de ruído entre o presidente da Petrobras e o presidente da República não é desejável.
“Se a recondução atende ou não aos melhores interesses da companhia, num clima de briga com o controlador, é uma discussão”, afirmou uma das fontes, sob a condição de anonimato.
Por ora, Castello Branco tem se mantido em completo silêncio junto ao conselho de administração, sobre as declarações de ontem de Bolsonaro. Segundo as fontes, não há qualquer indicativo até o momento de que o executivo pretenda renunciar. No passado, em reunião no conselho, ele já havia dito que não admitiria interferências na estatal.
Sobre uma possível renúncia do conselho de administração, caso a saída de Castello Branco se concretize, as três fontes consultadas disseram que desconhecem qualquer inclinação nessa direção.
A renúncia do conselho implicaria na necessidade de novas eleições. “E isso seria dar a vitória a ingerência política”, afirma uma das fontes.