O corpo de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado e morto em uma unidade do supermercado Carrefour, começou a ser velado na manhã deste sábado (21) no Cemitério São João, na Zona Norte de Porto Alegre. O enterro está marcado para 11h30. Muito abalada, a mulher de João Alberto, Milena Borges Alves pediu justiça. "Eu não tenho nada pra falar. Só quero justiça, quero que paguem".
João Alberto foi morto por dois seguranças do supermercado na noite de quinta-feira (19). Segundo a polícia, a vítima teria feito um gesto para uma funcionária do mercado, o que a fez chamar a segurança do local.
LEIA MAIS:
Homem negro é espancado até a morte por seguranças de supermercado
"Gritava que não conseguia respirar", diz amigo de negro assassinado
Saiba quem é o homem negro espancado até a morte no Carrefour
Laudo inicial aponta asfixia como causa da morte de João Alberto
Caso Carrefour: Mulher diz que tentou ajudar João Beto e foi impedida
Manifestantes protestam contra morte de João Alberto em vários estados
Beto, como era conhecido, foi acompanhado pelos dois homens ao estacionamento da unidade. De acordo com a polícia, ele teria dado um soco em um dos seguranças, quando começaram as agressões. A vítima foi agredida por cerca de 5 minutos pelos dois homens.
O Samu foi acionado, mas ele morreu no local. Os dois homens foram presos em flagrante e devem responder por homicídio triplamente qualificado.
Manifestos em frente ao supermercado
Alvo de manifestantes na noite de sexta-feira (20), o Carrefour do Passo D’Areia tem marcas de destruição horas após o protesto que terminou em confronto com a polícia.
Logo ao amanhecer deste sábado, pedaços de concreto estavam espalhados pelo pátio, totens com marcas de incêndio e pichações contra os seguranças que provocaram a morte de João Alberto Freitas.
Cercas e portões foram arrancados. Próximo às escadas rolantes, vidraças foram quebradas, e lojas de empresas locatárias dos espaços também foram alvo de vândalos.
A calçada em frente à Avenida que dá acesso ao mercado também tem marcas de protesto. Frases como "racistas, assassinos e justiça por Beto" são expostas em cartazes de papelão ou grafitadas no piso e nas paredes do estabelecimento.
'Ele pediu: Milena, me ajuda'
Milena Borges Alves, de 43 anos, mulher de João Alberto disse que tentou ajudar o marido enquanto ele sofria as agressões, mas foi impedida pelos seguranças. A declaração foi dada em entrevista à Rádio Gaúcha, na manhã de sexta-feira (20).
"Eu estava pagando no caixa, daí ele desceu na minha frente. Quando eu cheguei lá embaixo, ele já estava imobilizado. Ele pediu: ‘Milena, me ajuda’. Quando eu fui, os seguranças me empurraram", afirmou ela.
João Alberto deixa quatro filhos – um do primeiro casamento e três do segundo. Com Milena, que vivia com ele há cerca de 9 anos, só tinha uma enteada.
A família mora a cerca de 600 metros do supermercado.
'Agressão covarde', diz pai
O pai de João Alberto Silveira de Freitas, João Batista Rodrigues Freitas contou que esteve no local do crime logo após as agressões, avisado por familiares.
"Não sei como começou a confusão, o que está registrado é que muita gente registrou uma agressão covarde onde três pessoas começaram a bater no meu filho até levar à morte. A mulher dele estava junto, tentou tirar o cara que estava enforcando ele com o joelho contra o chão e o outro segurança empurrou", aponta.
No estacionamento do mercado, o pai relata ter perguntado quem havia agredido João Alberto. "Me apontaram. Ele tava na viatura", relata João, que não sabe identificar com qual dos seguranças falou nem quem apontou o veículo.
"Perguntei pro segurança que foi agredido: 'foi roubo? Ele mexeu em alguma coisa?'. 'Não', ele disse. Só levou o soco. E aí o lugar que ele mostrou que levou o soco não tinha marca de anel. Ele não estava com o olho roxo", disse João Batista.