No início de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o início da pandemia Covid-19. Ao mesmo tempo em que a ciência tentava compreender como o vírus atacava seres humanos e profissionais da saúde lidavam com inúmeros doentes nos hospitais, o coveiro e filósofo Osmair Cândido encontrava-se diante de uma fila de mortos para enterrar.
No programa Notícias da Boa, apresentado pela jornalista Cinthia Lages, Osmair conta como foi enfrentar a dolorosa experiência de cumprir seu trabalho sem os ritos fúnebres. No labor, era acompanhado apenas da exaustão e dos gritos de tristeza e desespero de familiares de vítimas da Covid-19, lamentos que ele ouvia dos portões fechados do Cemitério da Penha, na Zona Leste de São Paulo.
Coveiro há mais de três décadas, ele também revela que está prestes a publicar o livro "Memórias de um Coveiro", um conjunto de relatos sobre seu árduo trabalho e também sobre o eco do sofrimento ocasionado por um vírus que já tirou a vida de mais de 600 mil brasileiros. A obra é regada por conhecimentos sobre a filosofia, uma paixão gerada e alimentada pela sua incessante busca pelo saber.
Veja a entrevista completa!
Durante a entrevista, o filósofo e coveiro é questionado sobre o que viveu durante o período em que o Brasil atingia o mais elevado número de óbitos, que pressionou o sistema funerário de diversos estados. Ele aponta os momentos mais devastadores da sua profissão.
"Foi uma experiência marcante, dolorosa, muito difícil, dura. Chegamos a trabalhar na linha de 80 coveiros e sepultamos corpos por cerca de 16 horas, ininterruptamente. Foi um episódio marcante, triste e que sinceramente nunca vai sair de dentro de mim. A gente tinha que pegar as pessoas fora do cemitério, e o grito, o choro das pessoas chegavam antes dos corpos, eram carros e carros funerários lotados de corpos", conta.