O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, diagnosticado com Covid-19 na sexta-feira, divulgou em seu Twitter na noite deste sábado um vídeo em que busca assegurar o povo americano de que está bem. Dúvidas sobre o real estado de saúde do presidente tomaram os noticiários neste sábado, em meio a declarações contraditórias de sua equipe médica e de representantes da Casa Branca.
Pálido, um pouco abatido e sentado à mesa, Trump disse que não se sentia bem quando chegou ao hospital, mas que agora está "muito melhor". O presidente, no entanto, afirmou que o "teste verdadeiro" sobre a gravidade de seu caso será nos próximos dias, dado o curso natural da doença.
— Quando eu cheguei aqui, eu não me sentia tão bem. Agora me sinto muito melhor. Nós estamos trabalhando duro para que eu me recupere completamente. Eu tenho que voltar porque ainda temos que tornar os Estados Unidos grande de novo — afirmou o presidente, repetindo seu slogan. — Os próximos dias serão o verdeirot teste, então vamos ver o que vai acontecer.
O vídeo, cuja data de gravação não é clara, tem cerca de quatro minutos e é o pronunciamento mais longo do presidente desde seu diagnóstico foi anunciado. Trump, que agradeceu a equipe médica e disse estar ansioso para voltar à campanha, disse que tinha a opção de permanecer em sua residência oficial na Casa Branca, mas preferiu não fazê-lo. Segundo fontes ouvidas pelo New York Times, no entanto, os médicos optaram por interná-lo após Trump apresentar falta de ar e sua taxa de oxigenação cair.
— Eu não posso ficar preso em um quarto lá em cima (na residência oficial), totalmente seguro, e dizer "o que tiver que acontecer vai acontecer". Como um líder, eu tenho que confrontar os problemar. Nunca houve um grande líder que faria isso — afirmou.
Segundo o presidente, que negou a gravidade da pandemia e se recusou a seguir as orientações das autoridades de saúde, sua infecção foi "algo que aconteceu", assim como com "milhões de pessoas pelo planeta". Ele ressaltou os avanços terapêuticos no combate à doença, incluindo os tratamentos experimentais que está tomando, classificando-os como "milagres que vêm de Deus".
Ao final do vídeo, Trump disse ainda que a primeira-dama, Melania, também diagnosticada com Covid-19, passa bem:
— Ela é mais nova que eu, só um pouquinho — disse o presidente, de 74 anos, sobre sua mulher, de 50. — Pelo que sabemos da doença, sabemos da situação de pessoas mais velhas versus mais novas. E Melania está lidando de acordo com a estatística, como deve ser.
Covid-19: Casa Branca diz que Donald Trump não está fora de perigo
Os sinais vitais do presidente Donald Trump, que está com Covid-19, estiveram "muito preocupantes" ao longo do último dia e ele não está fora de perigo, disse neste sábado o chefe de Gabinete da Casa Branca, Mike Meadows. As declarações contrariam o que havia sido dito pelos médicos minutos antes, trazendo ainda mais incerteza sobre o real estado de saúde do presidente americano e os detalhes de seu diagnóstico.
Enquanto a equipe médica disse que Trump estava "muito bem" após sua primeira noite no hospital, Meadows afirmou que os próximos dois dias serão "críticos" para a recuperação do presidente:
— Os sinais vitais nas últimas 24 horas foram muito preocupantes, e as próximas 48 horas serão críticas para o seu tratamento — disse a repórteres no lado de fora do hospital Walter Reed, para onde Trump foi transferido na sexta. — Nós ainda não estamos em um caminho claro para a recuperação.
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Inicialmente, as declarações de Meadows foram atribuídas a uma fonte anônima "próxima ao presidente", mas um vídeo mostra o chefe de Gabinete se aproximando dos repórteres e pedindo para falar sob anonimato. A confusão é retrato da falta de transparência e das declarações contraditórias do governo americano, que só aumentaram as dúvidas sobre a saúde do presidente.
Em uma entrevista coletiva na manhã de sábado, os médicos que cuidam de Trump se recusaram a fornecer detalhes sobre seu estado de saúde e deram declarações que não condizem com a linha do tempo da Casa Branca para quando Trump adoeceu e começou a ser tratado. Segundo fontes ouvidas pelo New York Times, o líder americano chegou a receber oxigênio na sexta-feira, após ter dificuldades para respirar e sua taxa de oxigenação cair. Frente a isso, foi levado para o hospital para que pudesse ser monitorado mais de perto.
Questionado múltiplas vezes sobre o assunto, Sean Conley, o médico do presidente, disse apenas que Trump não estava recebendo oxigênio neste sábado, se recusando a dizer se isto teria acontecido anteriormente:
— Não agora e nem ontem, com a equipe médica. Enquanto estávamos todos aqui, ele não esteve no oxigênio — disse, aparentemente sugerindo que o presidente teria recebido oxigênio antes de ir para o hospital.
O médico também evitou comentar o resultado de exames, se foram detectados danos pulmonares e não quis informar quando o presidente testou negativo para a Covid-19 pela última vez. A todo custo, tentou enfatizar que o estado de saúde de Trump é bom: disse que ele "passa muito bem", não tem dificuldades para respirar e apresenta sinais vitais normais, com taxa de oxigenação de 96%, considerada normal para uma pessoa saudável.
Conley afirmou ainda que, após ter febre na quinta e na sexta, Trump estaria há 24 horas com a temperatura normal. Sua tosse, congestão nasal e fadiga, afirmou também, estariam melhorando. Questionado sobre a necessidade de internação se tudo estaria bem, o médico disse apenas que é “porque ele [Trump] é o presidente dos Estados Unidos”.
A linha do tempo
A equipe médica também deu a entender que o presidente foi diagnosticado na quarta-feira, e não na quinta, como antes se acreditava. Ao descrever o progresso do presidente, Conley disse que o presidente teria sido diagnosticado “há 72 horas”, o que significaria na tarde de quarta. O resultado do teste PCR, ele disse, teria endossado o diagnóstico na quinta .
Outro médico da equipe, Brian Garibaldi, deu a entender que o presidente já estava em tratamento na tarde de quinta ao dizer que Trump teria recebido a primeira dose de uma terapia experimental com anticorpos cerca de “48 horas atrás”. Por meio de um comunicado emitido posteriormente, Conley afirmou que usou incorretamente o termo “72 horas” em vez de “dia três” e “48 horas” no lugar de “dia quatro”. Segundo a nota, Trump foi diagnosticado na noite de quinta.
Trump cumpriu agenda de viagens na quarta e quinta-feira, pariticpando de eventos de campanha em Minnesota e em Nova Jersey, reunindo centenas de apoiadores que não se protegeram adequadamente do vírus. Não está claro se o presidente viajou ciente da doença ou se já apresentava sintomas na terça-feira, quando participou do primeiro debate presidencial contra o democrata Joe Biden. O ex-vice-presidente testou negativo para a doença.
Enquanto isso, o número de pessoas que tiveram contato com o presidente nos últimos dias e foram diagnosticadas com a doença só aumenta. Além de Trump e Melania, foram diagnosticados: a conselheira do presidente, Hope Hicks; a ex-assessora Kellyanne Conway; os senadores Mike Lee e Thom Tillis; o chefe da campanha de Trump, Bill Stepien; o presidente da Universidade de Notre Dame, John Jenkins; a presidente do Comitê Nacional Republicano, Ronna McDaniel; e o ex-governador de Nova Jersey, Chris Christie, que anunciou neste sábado ter sido internado "por precaução" após apresentar febre. Obeso e asmático, Christie faz parte de dois grupos de risco diferentes.
Com a exceção de McDaniel, todos estiveram presentes na cerimônia de nomeação da juíza Amy Coney Barrett para a Suprema Corte, no último sábado, onde não foi respeitado o distanciamento e pouquíssimas pessoas usavam máscaras. O número de infectados e pessoas expostas na alta cúpula republicana levantou dúvidas sobre a realização da sabatina de Barrett, prevista para começar dia 12, mas o presidente do Senado, Mitch McConnell, disse que o procedimento não será postergado.
Remédio experimental
Segundo os médicos, Trump despacha normalmente na suíte presidencial do hospital e teria afirmado pela manhã que se sentia tão bem que "poderia sair hoje mesmo" do hospital. Em um tom similar, a conta do presidente americano no Twitter publicou uma mensagem em primeira pessoa elogiando o trabalho da equipe médica:
"Médicos, enfermeiras e TODOS do ÓTIMO Centro Médico Walter Reed, e outros de incríveis instituições que se juntaram ao time deles, são INCRÍVEIS!!! Um tremendo progresso tem sido feito nos últimos seis meses para combater essa PRAGA. Com a ajuda deles, estou me sentindo bem!", diz a publicação.