Covid-19: Histórias de quem enfrentou o vírus e está curado no Piauí

Apesar dos números crescentes de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, centenas delas conseguiram se recuperar e estão vivas para contar a história

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Travar uma luta contra um inimigo invisível, desconhecido e traiçoeiro tem sido o desafio de muitas pessoas diariamente. A pandemia do novo coronavírus veio para mudar rotinas e hábitos, mas o efeito colateral mais devastador foi a perda de vidas. No Piauí, já são cerca de 4 mil contaminados e mais de 130 mortos. Contudo, nesse cenário desolador há também esperança, e ela tem nome, idade e voz: os infectados que conseguiram vencer a guerra contra a doença. Em todo estado, até quarta-feira (27), já são mais de 401 altas médicas, segundo dados Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi).

A exemplo de dona Francisca, que venceu a Covid-19. Aos 92 anos, ela passou 16 dias internada e recebeu alta do Hospital do Monte Castelo em abril. E a enfermeira Laurimary Caminha Veloso que apresentou sintomas leves e recebeu o tratamento pela rede pública de saúde de Teresina. No último dia 21 de maio, sob aplausos dos colegas de profissão, retornou ao seu trabalho no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

Dona Francisca venceu a Covid-19 e recebeu alta do Hospital do Monte Castelo.

Laurimary, enfermeira do SAMU, conseguiu se recuperar da doença

O Jornal Meio Norte entrevistou alguns desses sobreviventes, que contaram sobre como foram suas lutas particulares contra a Covid-19. No meio do caos que os assustou desde o momento do teste positivo até os diferentes sintomas, eles também trazem história de força, fé, medo, superação e aprendizado, afinal venceram a maior pandemia dos últimos tempos.

Rodrigo Lopes conviveu pouco mais de um mês com a doença

Apesar de um número desconhecido ainda lutar pela vida, uma parte significativa dos que adoeceram venceu a batalha e pode contar como foi a experiência. O psicólogo Rodrigo Lopes, de 37 anos, também conviveu pouco mais de um mês com a doença. Sem nenhum dos problemas de saúde que agravam os efeitos do vírus, ele conta que a falta de ar foi o sintoma que o fez suspeitar que pudesse estar infectado.

"Não tinha nenhuma comorbidade, mas a falta de ar foi o que me fez buscar ajuda, passei 37 dias internado, a base de um tratamento com diversos medicamentos, mas como sempre tive um psicológico muito forte, minha evolução foi muito rápida, tanto que fiz exames que demonstraram que estou curado. A experiência que fica é que cada vez mais temos que aproveitar a vida, pois ela é como um vendaval, nunca sabemos o que vai acontecer no dia seguinte”, afirma.

Pouco a pouco, os sintomas de Rodrigo foram cedendo, até desaparecerem e agora o psicólogo que completou sua quarentena em meados de maio está pronto para voltar ao trabalho e realizar seus atendimentos, ainda que por meio virtual. Vale destacar que ainda não há consenso entre as instituições que detêm informações sobre a pandemia do coronavírus sobre qual termo mais adequado para as pessoas que sobreviveram ao SARS-CoV-2. A Organização Mundial da Saúde (OMS) usa a palavra "recuperados", enquanto o Ministério de Saúde (MS) opta por "curados".

“Ficou o aprendizado de que a saúde vem em primeiro lugar”

Segundo dados da Fundação Municipal de Saúde (FMS) e da Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi), divulgados na última quarta-feira (27), Teresina possui quase 1900 casos confirmados do novo coronavírus, com 66 óbitos. Entretanto, Tales Gabriel Carvalho Resende, de 29 anos, residente na capital, faz parte do grupo de sobreviventes da Covid-19. Os sintomas incluíram dores de cabeça, falta de ar, cansaço e tosse recorrente. O engenheiro mecânico precisou ficou internado 8 dias, logo depois recebeu alta e manteve-se em isolamento domiciliar.

"No começo foi uma notícia bem ruim para mim, não tive uma boa receptividade e com isso tive uma leve piora, porque minha pressão arterial se elevou e tive um ataque de ansiedade. Hoje posso dizer que estou assintomático e isso me agrada bastante e me fez retornar para minha rotina de atividades físicas, leitura e outras coisas que gosto bastante e não estava podendo fazer, pois não tinha energia para isso", declarou.

Apesar de apresentar mais risco para um específico grupo de risco (idosos, hipertensos, diabéticos e pessoas com doenças respiratórias e cardiovasculares), é necessário se proteger para evitar uma infecção generalizada. A Covid-19 não diferencia homens, mulheres, ricos, pobres, sedentários ou atletas, por isso, Tales Resende, que testou positivo para a doença, ressalta a importância das medidas de isolamento horizontal, ou seja, aquelas que abrangem todas as pessoas independente de idade e grupo de risco, a fim de evitar a propagação do vírus.

"Essa doença me ensinou a dar mais valor à vida, muita gente arrisca a vida em prol do dinheiro, da diversão e outras coisas que hoje não estão, ao meu ver, acima da saúde. Hoje tenho receio de sair de casa por medo de ter novamente essa doença. Para mim ficou o aprendizado de que a saúde vem em primeiro lugar, por isso o isolamento social é tão importante. Caso ocorra um colapso no nosso Estado, será impossível conseguir manter uma quantidade enorme de pessoas contaminadas nos hospitais, porque já temos diversos leitos de UTIs ocupados e, se, por um acaso, abrissem uma brecha no isolamento isso geraria um caos no sistema de saúde, por isso essa medida é tão essencial”, acrescenta. (W.B.)

Mãe e filha têm alta após tratamento de Covid-19

Uma única saída de casa foi suficiente para que Antônia Rosimeire Moura, 49 anos, fosse contaminada pela Covid-19. Dias depois, foi a vez de sua mãe, Isabel Moura, 78 anos, também contrair a doença. Após seis dias de internação no Hospital do Monte Castelo, mãe e filha tiveram alta no dia 11 de maio e comemoram a vitória sobre a pandemia. As duas procuraram atendimento no Hospital da Primavera e posteriormente foram transferidas para internação no Hospital do Monte Castelo, que é a referência na saúde municipal para o novo coronavírus. Antônia Moura conta que só foi informada sobre a internação de sua mãe dois dias depois.

Mãe e filha foram internadas no Hospital do Monte Castelo e foram curadas

“Fiquei muito preocupada pois tudo o que eu não queria era que ela pegasse, mas ao mesmo tempo fiquei tranquila por ela ter sido bem atendida no Hospital da Primavera, e por ter sido transferida para cá (Hospital do Monte Castelo); aqui eu sabia que ela estava sendo bem atendida como eu fui”, elogia. Ela define a sensação de vencer esta batalha junto com a sua mãe como emocionante. “Eu fico emocionada, sabendo que é uma doença grave, mas que estamos nos recuperando. Agora estou preocupada com meus dois filhos, que são menores de idade e estão sendo acompanhados em casa”, relata. 

Após a experiência, Antônia Moura diz que acredita mais ainda na força do isolamento social como forma de prevenção à Covid-19. Ela diz que estava cumprindo as regras e saía apenas para casos de urgência, mas que acredita que contraiu o coronavírus na única vez que teve que sair de casa. “As pessoas não acreditam, só acreditam quando passam por isso. Então o que eu digo para todas as pessoas é que elas tenham cuidado, mantenham o isolamento e os cuidados. E a pessoa tem que entender o que realmente está acontecendo, que é muito difícil”, relata. 

“Eu tive sorte que ainda estava tendo vaga (na rede de saúde), e também agradeço muito. O isolamento que o prefeito decretou é um dos maiores cuidados que deveria ter sido dado, mas tem muita gente que não obedece, então o recado que eu deixo é que as pessoas entendam que é sério, que colaborem e fiquem em casa para cuidar da sua vida e da do outro”, avaliou.

De acordo com a infectologista do Hospital do Monte Castelo, Maria Dolores, o próximo passo é dar sequência ao tratamento em domicílio em isolamento por 14 dias. “Nós orientamos os familiares e os pacientes a se manterem em isolamento. O paciente, em um cômodo à parte da casa; se possível, com banheiro exclusivo para ele, e utensílios pessoais também exclusivos para a pessoa com a Covid-19. As pessoas podem se contaminar com o Coronavírus através de outras pessoas que têm o vírus. A doença pode ser transmitida de pessoa para pessoa por meio de pequenas gotículas do nariz ou da boca que se espalham quando uma pessoa com Covid-19 tosse ou espirra. O indicado é que a pessoa diagnosticada fique em isolamento por 14 dias”, explica a médica.  (W.B.)

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