Crack derruba a potência masculina

Comecei a ter vergonha e ela chegou a me perguntar se eu era gay”, confessou um ex-usuário

Usuário de drogas | Moisés Saba
Siga-nos no Seguir MeioNews no Google News

Euforia, prazer, poder... Essas são algumas sensações que os jovens buscam ao iniciar o contato com as drogas. A maioria deles, porém, só percebem o outro lado desse abismo quando não conseguem mais largar o vício, pois ele já toma a maior parte da sua vida. Entre muitas perdas, a diminuição do desejo sexual e o medo da impotência preocupam os dependentes químicos.

Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de São Paulo comprova que 47% dos usuários de drogas tem alguma disfunção sexual. ?Eu estava com a menina, mas não conseguia fazer nada.

Comecei a ter vergonha e ela chegou a me perguntar se eu era gay?, confessou um ex-usuário. Ele não quis se identificar por medo, devido ao envolvimento que teve com o tráfico. Há dois anos encontra-se em tratamento na Fazenda da Paz.

Segundo a psicóloga Yane Ibiapina, os problemas na vida sexual ocorrem porque o dependente passa a viver apenas em função da droga, perdendo o interesse por todo o resto.

?É o que chamamos de apatia. Além disso, a própria condição física não permite que o usuário consiga manter uma relação?, destaca a psicóloga. O ex-usuário Augusto César Gomes comprova essa afirmação. ?Se eu tivesse que escolher entre a droga e uma mulher eu preferia a droga. Ela é mais forte?, disse.

De acordo com a pesquisa, os principais problemas são ejaculação precoce (39%), diminuição do desejo sexual (19%), dificuldade de ereção (12%), retardo na ejaculação (8%) e dor durante a relação sexual (4%).

?É muito difícil conseguir um orgasmo e, quando ele acontece, não é da melhor forma, não traz o mesmo prazer?, disse o ex-usuário que preferiu não ser identificado.

Segundo Leandro Torres, que encontra-se em tratamento há três meses na Fazenda da Paz, ele nunca teve problemas na vida sexual porque preferia não iniciar uma relação quando estava drogado.

O problema é que ele usava crack frequentemente. ?Antes de terminar o efeito da droga eu já estava procurando mais?, revela, demonstrando que o vício não dava tempo para outras experiências que não fosse o uso do crack.

O medo de não ter mais uma vida sexual ativa gera muitas dúvidas entre os homens que estão em fase de tratamento. ?Eles sempre perguntam se poderão voltar a ter relações e têm muito receio de perderem a virilidade?, disse Yana Ibiapina

Viciados alimentam ilusão de que droga pode aumentar a libido

O estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo revelou ainda que 50% dos homens e 40% das mulheres acham que as drogas melhoram o desempenho sexual. Contudo, além de outros problemas, essas substâncias causam alterações nos neurotransmissores que controlam a ejaculação.

O urologista Marcelo Oliveira explica que a sensação de melhor desempenho sexual acontece apenas da fase excitatória. ?Na segunda fase vem a sonolência, as dificuldades de ereção, as alterações no orgasmo?, disse o médico.

Ele também lembra que os dependentes químicos estão sujeitos a comportamentos de risco, pois ficam alheios e não se importam com a própria saúde.

A pesquisa revelou que 41% dos entrevistados não usaram preservativos nas relações sexuais. A média de parceiras foi de cinco ao ano, quando na população geral, esse número é 2,96 entre os homens.(N.F.)

Aumenta o uso do crack em Teresina

De 21 a 26 de junho é celebrada a Semana Nacional de Combate às Drogas. Neste ano, a Fazenda da Paz decidiu encampar uma luta direcionada contra o brack, que está dominando boa parte dos jovens do Estado.

O ex-usuário Augusto César Gomes declarou que, somente na rua onde ele morava, dois jovens morreram de overdose recentemente. ?Antes era mais difícil ter o acesso. Hoje em dia, nem se conta mais o tanto de traficante que tem?, disse Gomes.

Ele está há quatro meses em tratamento e conta que usou crack pela primeira vez por brincadeira. ?Uma brincadeira de mal gosto. Em dois tragos eu estava viciado?, completa Augusto César. Ele passou sete anos da sua vida dependendo do crack.

?Eu queria parar e não conseguia. As pernas não obedeciam a cabeça. Parei de trabalhar para não ter dinheiro de comprar a droga, mas acabava roubando. Quando via estava lá pedindo a pedra?, relatou.

Com o lema ?Crack, o início do fim?, a Fazenda da Paz, em parceria com o Grupo Meio Norte, promoverá uma caminhada pelas principais ruas de Teresina.

Na ocasião será proclamado um minuto pela vida. A concentração acontecerá às 7h do dia 25 de junho, na avenida Frei Serafim.(N.F.)

Veja Também
Tópicos
SEÇÕES