Ao contrário do senso comum, a acne é uma doença que acomete também os adultos, especialmente mulheres entre 25 e 40 anos. Estima-se que haja mais de 16 milhões de brasileiras com esta condição, sendo que a proporção é de quatro pacientes do sexo feminino para um masculino. Mas esse número pode ser maior, já que tem se observado que a incidência da acne em adultos vem aumentando.
Estimativas indicam que 40% das mulheres acima de 25 anos têm acne e, é importante ressaltar que nesta faixa etária, a doença conserva características específicas[4]. Chamada de AMA (Acne da Mulher Adulta), a condição diferencia-se da acne vulgar por estar relacionada a alterações genéticas, além de fatores relevantes como histórico familiar, alterações hormonais, tipo de pele, estresse, hábitos de vida, entre outros fatores. A AMA ainda se caracteriza por ter evolução crônica, o que exigirá um tratamento de longo prazo.
Recentemente, um estudo conduzido pelo dermatologista Marco Rocha, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), ajudou a esclarecer um dos aspectos dessa doença, que interfere diretamente na autoestima e qualidade de vida das pacientes. Após acompanhar um grupo de mulheres entre 26 anos e 44 anos, o pesquisador chegou à conclusão de que a acne neste perfil de pacientes está associada à uma alteração genética, que mantém o estímulo da reação inflamatória presente na condição. O mesmo estudo também apontou como a acne afeta o estado emocional dessas mulheres, levando à depressão e transtornos de ansiedade, independentemente da gravidade do quadro[5].
Nessas pacientes, explica o médico, foram notadas alterações genéticas que mantém a reação inflamatória da pele. “As glândulas sebáceas presentes na pele possuem receptores (Toll-like 2) que podem se ligar a determinados microorganismos. Em mulheres adultas com acne, há maior expressividade desses receptores que, ao se ligarem à bactéria Cutibacterium acnes, comum na pele de toda a população, resultam em um tipo de acne com características mais inflamatórias, com pápulas avermelhadas e dolorosas”, informa o dermatologista, responsável pelo levantamento.
Outro ponto que diferencia esta nova forma de acne é que, enquanto a acne da adolescência (ou vulgar) costuma se manifestar na “zona T” do rosto (testa, região superior das bochechas e nariz), a acne na mulher adulta conta com a distribuição das lesões mais frequente na “zona U” – composta pela mandíbula, queixo e pescoço.
Mas por que é tão importante diferenciar a AMA da acne vulgar, aquela que surge na adolescência? “Além de afetar negativamente a autoestima das mulheres, impactando até mesmo na rotina de trabalho, a prevalência da acne da mulher adulta vem aumentando”, alerta a dermatologista Ediléia Bagatin, professora da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). “Além disso, diferenciar os dois tipos da doença é essencial para a escolha do tratamento adequado para a mulher adulta e o melhor controle da doença”, completa.
A vida moderna explica parte deste aumento no número de casos da acne em mulheres adultas. Alguns hábitos de vida, como consumo excessivo de alimentos com alta carga glicêmica e certos laticínios, a obesidade, o estresse, o tabagismo e a exposição excessiva ao Sol estão entre as causas e os fatores agravantes para a acne na mulher adulta.
Além disso, lembra a dermatologista, “é preciso investigar ainda se o quadro está relacionado com alterações hormonais ou doenças endócrinas, como a síndrome do ovário policístico, por exemplo”.
A boa notícia é que é possível tratar a doença, e o caminho pode estar na combinação de terapias. O guia de conduta clínica da AMA publicado em fevereiro de 2019 sugere a utilização de um produto tópico, como o ácido azelaico, e um anti-andrógeno sistêmico, como a pílula anticoncepcional, como ferramentas terapêuticas eficazes no tratamento da doença.