Muitas pessoas têm suas vidas nas mãos dos médicos, já que estes profissionais salvam vidas, curam doenças e males do corpo e da mente. Por isso, quanto mais bem capacitados eles estiverem, os riscos à população que precisa desses atendimentos diminui.
Pensando dessa forma e percebendo a necessidade de avaliar a qualificação de muitos desses profissionais, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) vai passar a exigir uma avaliação para entregar o certificado dos estudantes.
Segundo o conselho, a prova será obrigatória a partir deste ano e quem não fizer o exame não poderá exercer a profissão nem fazer residência médica. Essa iniciativa foi adotada por conta da redução na qualidade do ensino médico. O exame é aplicado desde 2005, mas de forma voluntária.
Nos últimos sete anos, dos 4.821 graduandos que participaram da avaliação, 2.250 não foram aprovados, equivalente a 46,7% dos candidatos.
A prova se parece muito com o Exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), sendo que a diferença entre os dois é que os estudantes que obtiverem índice de acerto abaixo de 60% (nota de corte para aprovação na prova) não serão impedidos de exercer a profissão.
Para Fernando Correia Lima, presidente do Conselho Regional de Medicina do Piauí (CRM), toda essa polêmica que está acontecendo em São Paulo vem deixando as instituições piauienses, que envolvem a medicina, apreensivas.
Ele comenta que no Piauí existem muitas faculdades de Medicina que formam estudantes que foram aprovados no vestibular e que mesmo assim ainda se tem profissionais incapacitados.
O Senado estuda o projeto de lei número 217, de 2004, que visa instituir o Exame Nacional de Proficiência em Medicina como requisito legal para o exercício da profissão no país. O presidente do CRM do Estado acredita que esse aspecto do concurso, de ser obrigatório em todo o Brasil, é inexorável.
Segundo ele, essa é uma questão política e o governo não acorda para isso.
?O Conselho Federal e os Conselhos Regionais trabalham para melhorar a qualidade da formação, ao contrário da atenção que dá o governo, que politicamente só pensa em abrir faculdades para o interesse de políticos regionais.
Exemplo disso é a pretensão de que sejam abertas faculdades nessa área nas cidades de Picos e Parnaíba. Ora, se em Teresina não temos condições de garantir uma qualidade, imagine nessas cidades?, comenta o presidente ao ressaltar que o Conselho há anos está na luta por essa obrigatoriedade.
?Há muitos anos estamos nessa luta e até agora nada foi decidido. Se fosse por nós, essa obrigação já estaria vingando, porém essa decisão é do Governo Federal. Isso é uma questão de política?, declara o presidente.
Para ele, o exame diminuiria também os números de denúncias por erros médicos. Segundo ele, de acordo com os dados do Conselho, em 2009 foram 31 denúncias protocoladas no CRM do Piauí, já em 2012, até o momento somam 41.
Aplicação do Exame gera polêmica
Segundo o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), das 28 instituições de ensino que formarão estudantes de Medicina neste ano no Estado, pelo menos 16 apoiaram a medida.
A AMB (Associação Médica Brasileira) e as sociedades brasileiras de medicina também se declararam favoráveis à avaliação. No Piauí, caso a medida se tornasse obrigatória, muitas instituições e pessoas se colocariam contrárias a decisão. Como é o caso da coordenadora do curso de Medicina da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Benedita Abreu.
De acordo com ela essa prova não avalia o conhecimento, muito embora acredite que tem instituições sem condições de preparar as turmas para a prática.
"Não sou contra uma avaliação, sou contra como ela está instituída", completa a professora ao ressaltar que o ideal seria um processo avaliatório mais amplo, que avaliasse habilidades e as condições psicológicas dos estudantes.
Em contrapartida, o médico Inácio Schuk, presidente o SINTSPREVS (Sindicato dos Trabalhadores Federais, da Saúde e da Previdência Social) é favorável à aplicação do exame.
Para ele, a prova deveria se estender a outras categorias em que exercício da profissão reflete diretamente na população. "Engenharia Civil, Enfermagem, Odontologia, Jornalismo e outros cursos deveriam ter uma prova assim", pontua o médico ao comentar que muitas instituições não são favoráveis a aplicação da prova, por ser um assunto altamente polêmico.
"Se isso fosse colocado para o país inteiro, iria gerar grandes mudanças positivas como a qualidade na formação profissional, melhor apresentação do nível de graduação das instituições que preparam o formando e que traria resultados favoráveis a todos cidadãos brasileiros", conta.
Estudantes são a favor de prova prática
A prova aplicada aos estudantes de São Paulo é composta por duas fases, cada uma com 120 questões distribuídas por nove áreas básicas do conhecimento médico: saúde pública, obstetrícia, clínica médica, pediatria, clínica cirúrgica, ciências básicas, saúde mental, ginecologia e bioética.
A primeira fase é composta por questões teóricas de múltipla escolha. Na segunda fase, os candidatos devem responder à simulações de situações reais em computadores. Para ser aprovado, é necessário acertar ao menos 60% das questões.
Esse modelo de avaliação é que não convence os alunos do curso de medicina. Para alguns estudantes da UESPI, por exemplo, esse processo não é capaz de avaliar todas as habilidades necessárias em um profissional dessa área.
"Apenas uma prova de múltipla escolha não mensura a qualidade e capacidade do profissional. Sou a favor, mas que seja também um teste prático", comenta o estudante do 6º período do curso de Medicina, Luiz Henrique Carvalho.
As alunas Camila Teles e Andréia Rodrigues também são a favor do exame, já que ele pode reduzir o número de profissionais sem uma qualificação adequada para atuarem.
"Acho interessante ter uma prova dessas, para que se tenha um parâmetro da qualidade, só que tem que ser de uma forma mais abrangente, onde se avalie todas as aptidões dos profissionais. Se é pra fazer, que seja feito algo completo, que mensure a competência de forma geral", comentam.