Com informações do Pecnetica
Hoje os pecuaristas contam com uma pedra fundamental muito interessante para construir suas fábricas de carne, que é a vaca meio-sangue Nelore/Angus, nossa estimada F1. Existem muitas outras opções que também geram ótimo resultado tanto no pasto quanto no confinamento, mas estas, em especial, já somam 3 milhões de cabeças na pecuária nacional.
Com faro apurado e a escolha correta da terceira raça, além de contar com boia farta no cocho, produzir bezerros terminados com 20@ aos 13 meses parece simples. Só que erros sutis podem tornar essa brincadeira onerosa, ainda mais que a saca de milho não ficará abaixo dos R$ 45-50,00, de acordo com previsões da Abramilho. Agora eu pergunto, qual seria a raça apropriada para usar em cima da meio-sangue?
Esta é uma escolha complexa que depende de diversos fatores de ordem climática, de manejo e até comerciais. Calor e umidade (e falta dela) podem influenciar negativamente o desempenho do produto final. Idem para o pasto, que se não for bom não supre um mínimo de proteína, e o sempre soberano mercado. Se o frigorífico não desembolsar uma boa bagatela fica difícil ser persuadido a investir em uma produtividade quase industrial.
Tecnicamente, temos alguns gargalos, a começar pela própria heterose. Quanto maior a distância dos genes entre as raças utilizadas maior será a média produtiva do bezerro em relação aos seus pais. Assim ocorre com a meio-sangue, porque temos 50% de zebuíno e 50% de sangue taurino.
Se voltar um touro bos indicus, teremos 75% de sangue zebu. Ganha-se em rusticidade, adaptabilidade, habilidade materna e perde-se em conversão alimentar, velocidade de acabamento e qualidade de carne. O inverso também ocorre. Com um touro bos taurus entrando na jogada, 75% do sangue será taurino, com melhor carcaça, ganho em peso, acabamento rápido e qualidade de carne e piores adaptabilidade e resistência a ecto e endoparasitas.
Esse ponto ajuda a definir, dentro das condições de cada propriedade, como esse produto será gerado e para onde será direcionado: se no clima mais quente/seco ou mais temperado/úmido, se a pasto ou em confinamento e ainda se novilho precoce ou bonificação Premium. Para sair desta sinuca de bico, intuitivamente, meu estimado leitor pensou em um taurino adaptado ou um bimestiço (composto), que aumentariam o percentual taurino sem perda da adaptabilidade.
Entretanto, a F1 (a base meio-sangue) é uma novilha que, sem esforços, emprenha aos 14-15 meses a pasto ou 12-13 meses de idade com suplementação, parindo entre os 21 e 22 meses. O problema é que ela se encontra em uma fase de pleno desenvolvimento corporal e reservas energéticas necessárias no processo são drenadas pelo embrião. E quanto mais comida servida maior será o bezerro ao nascimento e mais vagaroso o crescimento da jovem mãe.
Então, além da composição sanguínea mais favorável, é preponderante o uso de touros com deps negativas para peso ao nascer, mas que sejam de rápido crescimento. Achar essas duas pérolas juntas dá trabalho porque, com exceção a raças naturalmente menores, é um material genético disponível apenas em rebanhos de seleção massal. Já quando a F1 torna-se vaca, é hora de explorar a heterose.
Neste tocante, conheci um belo exemplo de trabalho. Em Rio Verde de Goiás, a Fazenda Reunidas Baumgart faz tricross utilizando Senepol nas primíparas, para prevenir problemas de parto, e Brangus ou Braford nas multíparas, com o objetivo de produzir carcaças maiores. O primeiro chega à terminação com 20@ aos 13 meses e os segundo e terceiro desmamavam aos 8-9 meses com uma média de 295 kg. Isso com creep-feeding e confinamento intensivo, claro.
E paciência quanto ao aporte nutricional, se optou por 75% de zebu ou 75% taurino, lembre-se da fisiologia animal, a não ser que tenha encontrado a relíquia de um reprodutor que desafia sua própria natureza (existe!). Indivíduos grandes são mais exigentes na dieta e mais tardios na terminação. Aproveitando a deixa, se objetiva marmoreio, os projetos de seleção para tal característica são incipientes na maioria dos zebus e adaptados.
Para encerrar, por quanto tempo segurar uma F1? Quem responde é o zootecnista Daniel Carvalho: “no caso de se fazer retrocruzamentos absorventes, ela servirá de base. Caso contrário, até a segunda cria a proporção de quilos de bezerro desmamado por quilos de vaca adulta ainda será interessante e não mais além disso”.