Estão disponíveis no site oficial da Câmara dos Deputados os vídeos referentes aos depoimentos prestados pleo lobista Lúcio Funaro à Presidência Geral da República (PGR) em agoto deste ano.
Nas gravações, Funaro fala detalhadamente sobre várias atividades criminosas que envolvem o nome do presidente Michel Temer além de outros nomes de pedo do PMDB, como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o ex-ministro Geddel Vieira Lima.
O delator contou que foi contactado por Eduardo Cunha que pediu a disponibilização de R$ 1 milhão para poder fazer a "compra de votos" para favorecer o impeachment da hoje ex-presidente Dilma Rousseff (PT) na votação do plenário da Câmara.
"Ele [Cunha] queria garantir de qualquer jeito que ela [Dilma] seria afastada por esses 180 dias", relatou o lobista.Funaro disse ter recebido uma ligação telefônica de Eduardo Cunha, às vésperas do pedido de afastamento.
"Ele [Cunha] pergunta [ sic ] se eu tinha disponibilidade de dinheiro para comprar algum voto favorável ao impeachment da Dilma e eu falei que ele podia contar com até R$ 1 milhão e que eu liquidaria isso para ele em até duas semanas, no máximo." Nesse momento do depoimento, uma procuradora pergunta se Cunha "falou expressamente 'comprar votos", no que Funaro responde: "Exatamente".
Entretanto, o lobista não revelou quantos deputados teriam sido "comprados" por Eduardo Cunha para apoiar o afastamento de Dima, mas relata que foram realizados "pagamentos antecipados" de R$ 200 mil ao deputado Aníbal Gomes (PMSB-CE).
"Mas o Aníbal não veio no dia da votação e isso era a mesma coisa que votar a favor da Dilma. Aí ele [Cunha] ficou louco. Até porque o Aníbal já não era do grupo político dele. Era do grupo do Renan [Calheiros]", disse o lobista.
Sobre o fato de Cunha repassar para Temer um percentual da propina que arrecadava, Funaro garantiu, em um dos trechos do depoimento, ter certeza. "Tenho certeza que parte do dinheiro que o Eduardo Cunha capitaneava em todos os esquemas que ele tinha, dava um percentual também para o Michel Temer ", disse.
"Eduardo Cunha redistribuía propina a Temer, com ‘110%’ de certeza”. A frase, que liga o presidente Michel Temer ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, está em um dos depoimentos prestados em 23 de agosto pelo delator.
O lobista disse que Temer com "receio de se expor" não fazia retirada de valores ele próprio e que, ele (Funaro) não chegou a fazer entregas pessoalmente para Temer.
Mas, disse que Altair Alves Pintos, que atuava como emissário de Cunha, contou ter feito entregas no escritórios do presidente Temer na zona Sul de São Paulo. Funaro disse ainda que o advogado José Yunes, ex-assessor e amigo pessoal do presidente, "arrecadava dinheiro para Michel".
"O Altair às vezes comentava que tinha que entregar um dinheiro para o Michel", relatou Funaro. "O escritório do Michel é atrás do meu escritório. Era um lugar muito bom para o Eduardo [Cunha] porque era próximo ao escritório do José Yunes, que era uma das pessoas que às vezes arrecadava dinheiro, que ia pegar dinheiro para o Michel Temer", relatou o doleiro.
As afirmações foram feitas durante depoimento sobre a atuação criminosas de alas do PMDB na Caixa Econômica Federal. O esquema é investigado em ações penais que tramitam na Justiça Federal em Brasília e envolve, além de Funaro e Cunha, o ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Segundo o delator, Geddel recebeu "entre 60% e 65%" do valor de cada operação autorizada pela Caixa no período em que ele ocupou o posto de vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco estatal, a partir de 2011. "O resto eu e o Cunha meiávamos", declarou Funaro.
Em documento sigiloso encaminhado pelo STF à 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília em junho do ano passado, a PGR relata que, em 2011, Fábio Cleto procurou Funaro em busca de apoio para assumir uma vice-presidência na Caixa Econômica Federal. O lobista encaminhou o currículo de Cleto a Eduardo Cunha, que o remeteu a Henrique Eduardo Alves, então líder do PMDB na Câmara.
De acordo com os termos de delação de Funaro, Henrique Alves encaminhou a indicação de Cleto à Casa Civil do governo com o aval de Michel Temer, que teria assegurado esse cargo ao PMDB junto à então presidente Dilma Rousseff. Alguns dias mais tarde, Fábio Cleto foi efetivamente nomeado vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa.
Em seu novo posto no banco estatal, Cleto passou a ser o mais influente entre os 12 integrantes do comitê que decide sobre os investimentos do FI-FGTS, fundo voltado a financiar projetos de infraestrutura nos setores de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, hidrovias, saneamento e energia.
"Fábio Cleto poderia postergar a operação com um pedido de vistas, votar contra o projeto
e colocar os argumentos de forma a sensibilizar os outros conselheiros sobre riscos da operação, até mesmo porque vários conselheiros não eram do mercado financeiro, ao contrário dele, assim como argumentar favoravelmente às propostas", escreveu a Procuradoria-Geral da República em documento encaminhado ao STF.
"Nesse quadro, o voto de Fábio Cleto, embora fosse um entre 12, era importante, pois havia espaço nas reuniões para debates, argumentações e convencimento dos demais conselheiros, seja em um sentido seja em outro, especialmente porque era um técnico na área. E, na prática, foi isso que ocorreu", continua a PGR.
Segundo a Procuradoria relatou ao Supremo, Cleto teria visitado Eduardo Cunha em seu apartamento funcional tão logo ele assumiu a vice-presidência de Fundos e Loteria da Caixa. O peemedebista então teria "dito expressamente" que faria demandas ao executivo, ao qual "cabia analisar e encaminhar os projetos de acordo com seus interesses".
Em sua delação premiada, Cleto afirmou que ficou estabelecido que ele e Cunha passariam a se reunir semanalmente, sempre às 7h30 de terça-feira, para discutir os projetos discutidos no comitê de investimentos do FI-FGTS.
"Nas reuniões, Cleto passava a Eduardo Cunha todos os projetos que estavam em tramitação dentro da área do Fl-FGTS e da Carteira Administrada assim como o estágio em que se
encontravam. Cleto tinha acesso às informações porque recebia a pauta do que seria levado a votação com duas semanas de antecedência à reunião", relatou a PGR.
Tendo ciência dos projetos em discussão, Cunha e Lúcio Funaro decidiam qual a posição que Cleto deveria adotar na votação no comitê de investimentos. Por vezes, segundo a PGR, o deputado decidia imediatamente. Mas, em outras ocasiões, ele precisava "pesquisar" a empresa para depois pautar o vice-presidente de Fundos da Caixa.
Cleto confirmou em seu acordo de colaboração com a Justiça que recebeu propina das empresas cujos projetos Cunha ordenou que ele aprovasse no FI-FGTS.
Segundo Lúcio Funaro, "dificilmente a propina era maior que 3% sobre o valor da operação". O lobista afirmou em depoimento prestado no dia 23 de agosto que era Eduardo Cunha quem definia a divisão da propina e que ele, Funaro, sempre aceitava os percentuais definidos pelo deputado.
"Cabia a Lúcio Bolonha Funaro e a Eduardo Cunha solicitar e receber, para si e para outrem, direta e indiretamente, em razão da função de Eduardo Cunha e da de Fábio Cleto, vantagem indevida. A divisão dessa tarefa entre Cunha e Funaro dependia da proximidade com a empresa: o mais próximo solicitava e recebia a propina", apontou a PGR após ouvir Cleto.