Deficientes ainda lutam por mais acessibilidade

A realidade de Timon está longe de beneficiar a todas as pessoas.

Cidade ainda não oferece acessibilidade. | Reprodução
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Seja por deficiência permanente ou temporária, ter condições estruturais para possibilitar um acesso facilitado a todo tipo de lugar é primordial. Mas a realidade de Timon está longe de beneficiar a todas as pessoas, sobretudo as que possuem algum tipo de deficiência.

Maria da Soledade mora no Parque União e há um mês levou um tiro na perna direita na porta de casa. Desde então, para se locomover precisa usar cadeira de rodas, mas considera se sentir bastante limitada enquanto tiver que utilizar pinos. ?Antes andava, trabalhava, hoje fico só em casa porque não tem como sair?.

Além da dificuldade de se locomover em virtude da própria limitação física, a falta de estrutura das ruas também faz com que, assim como Maria da Soledade, outras pessoas que precisam se locomover com cadeira rodas se mantenham em um ambiente restrito.

?Essa cadeira é ruim, só dá para andar dentro de casa e as ruas também não colaboram. É o jeito ficar dentro de casa, em cima da cama?, completa.

O problema da falta de estrutura não se limita somente aos bairros mais distantes do centro da cidade. Logradouros públicos e até mesmo prédios privados não possuem a estrutura necessária para garantir um acesso livre e seguro.

Embora não tenha um levantamento que mostre a quantidade de deficientes que residem em Timon, ter uma estrutura que atenda a todas as pessoas igualmente se faz necessário.

Francisco José já nasceu com deficiência visual, mas sua limitação não foi motivo para deixá-lo ocioso. Foi alfabetizado e concluiu o ensino médio e também acrescenta em seu currículo a contribuição em criar a Associação de Deficientes Visuais de Timon (ADVIT). Para ele, a criação de grupos de apoio se torna fundamental, assim como a conscientização que deve partir de cada indivíduo.

?Questões de acessibilidade estão melhorando. Não está do jeito que a gente quer, mas entidades como a Advit estão contribuído. A gente chega em uma loja e os funcionários já sabem como nos atender. Estamos saindo mais de casa. Isso facilita?, diz.

Fundação será criada para dar assistência a desamparados

Pela falta de assistência na qual passou e as dificuldades que voltou a enfrentar depois que perdeu um de seus filhos, há alguns meses, Francisco de Assis resolveu criar uma Fundação que possa dar assistência social e jurídica a pessoas que não sabem como proceder em casos como esses.

De acordo com ele, muitas pessoas, quando sofrem um choque, precisam de uma orientação, que nem sempre é garantida e o serviço que deve ser oferecido não beneficiará apenas a pessoas com deficiência, mas pessoas com qualquer situação que precise de assistência social e jurídica.

"Alguém que perder um filho, assim como eu perdi, a Fundação vai enviar assistência social e ver o que precisa.

Psicólogo, psiquiatra, fisioterapeuta, em trabalho paralelo ao SUS. Se precisar de uma assistência jurídica e não sabe como buscar, terão profissionais para dar essa orientação", explica.

Para a construção da sede, um terreno já foi disponibilizado e a previsão é que no mês de novembro já seja providenciado a elaboração do estatuto para legalizar ainda em dezembro. "A gente vai amparar a quem precisa, não dando assistência alimentar, mas social, buscando um meio para que ele se recupere".

Comércios tentam se adaptar, mas poucos dão acesso

Embora exista desde 2000 uma legislação que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida (Nº 10.098), a realidade em Timon é totalmente diferente.

Nos estabelecimentos comerciais e órgãos públicos e privados o que se pode observar são tentativas de proporcionar um acesso melhor, mas isso deve ir muito além de rampas de acesso e nem sempre são cumpridas a rigor.

Em alguns locais é possível observar situações que fogem as exigências da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Rampas íngremes que dão acesso direto à parede, superfícies lisas - quando o ideal é que seja regular, firme, estável e antiderrapante - são bastante comuns. Além disso, obstáculos como calçadas altas, lixo ou até mesmo veículos estacionados dificultam o acesso.

Das rampas existentes, muitas são adaptadas para outros fins, como estacionamento de veículos e não com a função de facilitar o acesso de quem precisa.

Por conta dessas limitações, deficientes visuais e físicos que moram em Timon alegam a pouca assessibilidade que possuem pela falta de estrutura da cidade.

?Raramente passa algum cadeirante aqui e muito por causa da acessibilidade. Alguns lojistas fazem calçadas acessíveis, mas do que adianta a gente fazer e o poder público não fazer a parte dele?, questiona Cleiton Brito, funcionário de uma óptica na Avenida Francisco Carlos Jansen.

José Rômulo, 28 anos, está há oito dependendo de cadeira de rodas. Após acidente que o deixou paraplégico, precisa depender, muitas vezes, de outras pessoas para se locomover. Além do difícil acesso das ruas, outras questões tornam a acessibilidade muito mais limitada.

De acordo com ele, já deixou muitas vezes de sair por não ter condições de um acesso seguro.

?Até tem transporte para cadeirantes, mas são apenas dois, um em cada linha. Aqui em Timon conheço apenas uma loja que dá para eu ir. Mas restaurantes e vários outros locais não têm acessibilidade. Faltam rampas, banheiros não são adequados?, afirma.

Lutador de braço é exemplo

Francisco de Assis perdeu a visão aos 42 anos. Hoje, aos 57, acumula resultados do seu esforço. Mesmo cego, ele se tornou campeão em uma prática desportiva que requer força; e força de vontade ele tem de sobra.

Com sete títulos mundiais, sete nacionais e três regionais e outros municipais, todos em luta de braço, ele se tornou exemplo para muitos que acreditam que a deficiência possa ser um obstáculo.

"Quando perdi a visão eu não tive apoio nenhum. Só um ano depois que fui procurar a Associação de Cegos do Piauí, em Teresina. Lá eu vi que eu podia fazer tudo e voltei a estudar.

Só tinha o 1º ano do segundo grau e me formei em pedagogia. Hoje eu sou locutor, participo de competições de luta de braço e tenho uma vida normal", afirma.

Na sala de sua casa, coleciona troféus e medalhas, um orgulho para ele que sempre buscou a sua independência. "Parei por falta de patrocínio. Mas a vontade continua. Continuo com a mesma garra, a mesma vontade.

Nós precisamos de apoio. Seja da família, amigos para dar aquele empurrãozinho. Hoje eu sou exemplo de que deficiência alguma vai me impedir de fazer alguma coisa", completa.

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