?Todos os homens nascem livres e iguais, em dignidade e direitos. São dotados de razão e de consciência e, devem agir, uns para com os outros, em espírito de fraternidade?. Parafraseando um trecho contido na Declaração Universal dos Direitos Humanos, é possível destacar o alicerce da maioria das pessoas que compõem a sociedade piauiense: a fraternidade, a solidariedade, o amor ao próximo. Todos esses pontos estiveram presentes na 14ª Caminhada da Fraternidade, realizada na manhã de ontem, dia 14, com a empolgação de mais de 70 mil pessoas.
A promoção e o fim de todo e qualquer tipo de exclusão, além da arrecadação de recursos para manutenção dos trabalhos sociais da Ação Social Arquidiocesana de Teresina ? ASA, e financiar outros projetos sociais, são os principais objetivos da Caminhada da Fraternidade. O evento teve a sua primeira edição em junho de 1996 e vem crescendo de uma maneira assustadora: no começo, eram apenas cerca de 3.000 pessoas caminhando. Atualmente, uma média de 50 a 60 mil pessoas caminham pela avenida Frei Serafim, sempre durante o segundo domingo do mês de junho.
Em sua 14ª edição, a Caminhada da Fraternidade, aparentemente, parecia refletir as edições anteriores, com os mesmos milhares de caminhantes, sendo crianças, jovens, adultos, idosos, além de uma mesma estrutura, mesmo percurso, entre outros quesitos repetidos. No entanto, algo se destacava em meio à multidão e ganhava notoriedade, já que era inovador, era diferente.
?Embora com as mesmas características das edições anteriores, apenas com poucas alterações, a caminhada deste ano mostrou um diferencial gritante: esta edição foi bem mais qualitativa, do que quantitativa. Eu vi, no rosto da pessoas, uma alegria maior e um desejo mais destacado em ajudar o próximo. Além disso, tivemos um aumento no nível de patrocinadores e, felizmente, poderemos ajudar mais e com mais qualidade?, enfatizou o idealizador da caminhada, padre Tony Batista, que também é vigário geral da arquidiocese de Teresina.
Logo no início da manhã, durante a concentração dos fiéis, a caminhada teve início com a celebração de uma missa, que reuniu três bispos e 35 padres, e a multidão de caminhantes, que iam chegando aos poucos. Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Teresina, conduziu a celebração, acompanhado pelo arcebispo emérito, Dom Celso José, além de Dom Celso Queirós, bispo da arquidiocese da cidade de Catanduva, São Paulo, que veio participar de outro evento e foi convidado para também estar presente na caminhada. ?Eu estou maravilhado com o que vejo. Vou levar a ideia para minha arquidiocese. Quem sabe o povo de lá não realize algo parecido??, falou Dom Celso Queirós.
Segundo Emília Nunes, uma das coordenadoras do evento, pessoas das cidades de União, José de Freitas, Aroazes, Monsenhor Gil, Altos, além de outros municípios, organizaram caravanas para participar da caminhada deste ano. ?A maioria dessas pessoas encomendaram seus kits com antecedência. A participação de cidades do interior e de outros estados estão aumentado a cada edição?, frisou Emília.
?Aqui está o povo de Deus, que caminha na esperança que faz acontecer. A presença de vocês é uma resposta de amor para o nosso Deus, é a prova concreta de que é possível amar o próximo, assim como o Pai nos amou. Além disso, este é o momento para dizermos não para todo e qualquer tipo de preconceito e de exclusão?, disse padre Tony Batista, logo no começo da caminhada, quando milhares de pessoas deixavam o adro da igreja São Benedito. (F.M.)
Estrutura organizada garantiu sucesso do evento
A Caminhada da Fraternidade deste ano não deixou a desejar no que diz respeito à estrutura física. Com amparo da Polícia Miliar do Piauí, guardas da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito ? STRANS, policiais rodoviários, oficiais do Corpo de Bombeiros, médicos, enfermeiros, carros de apoio com bebidas, ambulâncias com Unidade de Terapia Intensiva ? UTI, além de centenas de voluntários que faziam um trabalho de apoio, em meio à multidão, o evento foi um verdadeiro sucesso.
Cerca de 500 pessoas trabalharam, voluntariamente, na organização do evento. Empresas de transportes coletivos disponibilizaram dois ônibus, cada uma, para que as pessoas tivessem acesso à caminhada, sem precisarem sair de casa com seus veículos. Além disso, uma mensagem de conscientização foi repassada pelo organizador do evento, padre Tony Batista, para que as pessoas não danificassem a estrutura do canteiro central da avenida Frei Serafim, tampouco jogassem lixo durante o trajeto da caminhada.
E para evitar que o lixo fosse acumulado em vias de tráfego, a prefeitura de Teresina colocou na avenida vários funcionários do setor de limpeza da Superintendência de Desenvolvimento Urbano ? SDU da região Centro / Norte, que, à medida que as pessoas fossem passando, eles iam coletando o lixo.
O trajeto da caminhada tem uma extensão de quase sete quilômetros. As mais de 60 mil pessoas seguiram pelas avenidas Frei Serafim, João XXIII e Nossa Senhora de Fátima, que foram isoladas pela Polícia Rodoviária Federal. O encerramento aconteceu na avenida Universitária, próximo ao balão da avenida Ininga, com bênção final e shows de bandas locais. No início e ao final da caminhada, profissionais de educação física conduziram um exercício de alongamento, para que as pessoas não se desgastassem em excesso. (F.M.)
Inclusão social também caminha aliada à solidariedade
A estudante Renata Silva, de 15 anos de idade, possui uma síndrome visual, mas não hesitou em participar da caminhada. Acompanhada por seu pai, o funcionário público Valter Silva, a menina estava emocionada com a música e os gritos de empolgação das milhares de pessoas que passavam ao seu redor. ?Eu fico encantada com esse evento. Meu pai sempre me traz, desde pequena?, disse.
Além de Renata, a jovem Luciana Nascimento, que possui uma deficiência no cérebro e é cadeirante, também participou da caminhada, acompanhada por toda a sua família: seu pai, Fernando Nascimento, sua mãe, Lúcia Nascimento, e sua irmão, Cristiane Nascimento. ?Há sete anos nós trazemos a Luciana para a caminhada. Ela fica muito empolgada e toda a família também?, contou Lúcia, mãe de Luciana.
O pequeno Tiago Rodrigues, deficiente físico desde que nasceu, chamava a atenção das pessoas que passavam ao seu redor. ?É muito bom participar da caminhada. Eu sempre tive vontade?, frisou Tiago, que estava muito feliz e empolgado, embora a maioria das pessoas estivessem sentadas, já que já era o final da caminhada. Tiago participou pela primeira vez da caminhada, assim como dezenas de outros deficientes físicos. (F.M.)
Vendedores ambulantes garantem renda extra
Maria Juscelina e Francisco Rodrigues, ambos vendedores ambulantes, trabalhavam no mesmo ritmo das pessoas que caminhavam pela fraternidade: com empolgação e muita alegria. Mesmo bastante ocupados com as vendas, os dois contaram suas experiências em comercializar durante as edições da Caminhada da Fraternidade.
Para Maria Juscelina, que comercializa batata frita e bebidas, o evento é sempre uma boa alternativa para uma renda extra. ?Eu trabalho no evento desde a primeira edição. Consigo obter uma média de R$ 400 com as minhas vendas. As bebidas são os primeiros produtos que acabam, porque eu prefiro ficar no local de encerramento, já que as pessoas chegam com muita sede?, enfatizou.
Assim como Maria Juscelina, o vendedor ambulante Francisco Rodrigues também comercializou bebidas, mas optou por vendê-las durante o trajeto da caminhada. ?Não fica nada. Nenhuma lata de refrigerante "para contar a história". Consigo arrecadar mais de R$ 300?, disse. (F.M.)