Dependência química: Grupo trabalha na reabilitação em Povoado

O centro de recuperação fica localizado no Povoado Perdido, a 35 quilômetros do município de Timon.

Dependência química: Grupo trabalha na reabilitação | Reprodução
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O trabalho é árduo, a luta é uma constante, mas a fé e a vontade de mudar, visualizar novos horizontes, ter uma vida melhor, ser aceito pela sociedade e ter boa convivência no seio familiar faz do grupo de ex-dependentes de drogas do Centro de Recuperação Filadélfia Cordeiro de Deus, um exemplo a ser seguido por quem, em uma situação como essa, quer ter um pouco mais de qualidade de vida.

O centro de recuperação fica localizado no Povoado Perdido, a 35 quilômetros do município de Timon, no Maranhão. Atualmente, são 23 ex-dependentes químicos de drogas, álcool e, principalmente de crack, em tratamento contínuo.

A faixa etária varia de 17 até 57 anos. Cada um deles tem uma história de vida diferente, mas em se tratando de vício, todos estão em nível de igualdade, assim como, todos lutam pelo mesmo objetivo que é o de se livrarem das drogas, definitivamente.

Para que isso aconteça de forma harmoniosa, eles contam com a ajuda da Igreja Batista Filadélfia, localizada em Teresina e de pessoas solidárias com a causa.

As pessoas não doam somente bens materiais e alimentos, mas também apoio espiritual, através da oração diária, que ajuda a reforçar a fé em Deus e na cura das ?doenças? do corpo e da alma. ?A espiritualidade mudou a minha visão de crescimento.

Antes não tínhamos com quem contar, mas com o apoio da equipe da Igreja Filadélfia, os alunos (ex-dependentes químicos) ouvem a palavra de Deus, toda semana?, diz o fundador do Centro de Recuperação Filadélfia Cordeiro de Deus, o ex-dependente químico, Janderson de Lima Vieira, de 25 anos.

Ele fundou o Centro há dois anos, iniciando apenas com um ?aluno? e sua força de vontade em querer ajudar ao próximo a se livrar das drogas, assim como ele se livrou. Ele conta sobre a rotina dos ex-dependentes e diz que tem hora para tudo.

Os alunos têm hora para orar, estudar os ensinamentos bíblicos, realizar as tarefas domésticas e participar de terapias ocupacionais, que consistem na realização de trabalhos manuais como o artesanato, capina, limpeza da casa e a própria construção de ampliação da casa.

Demanda é grande, mas espaço é insuficiente

Os ex-dependentes químicos dividem o pequeno espaço da casa, como podem.

O Centro, também chamado por eles de clínica, tem apenas dois quartos e uma sala, que à noite se transforma em quarto. Uma cozinha, banheiro e uma área de lavanderia.

Janderson Vieira conta que o terreno do Centro de Reabilitação foi doado por seu pai e lá já existia uma casa, mais sem condições de moradia. Foi aí que com a ajuda do pai e de outras pessoas, conseguiu construir uma casinha de três cômodos, onde aos poucos foi acolhendo cada um dos alunos que se encontram em tratamento, no local. Metade da casa é de tijolos e a outra metade de taipa.

Eles dormem em colchonetes e redes. A casa ainda não tem portas nem janelas, mas apenas os espaços. E claro, para que o projeto possa dá ainda mais certo e acolher mais dependentes de drogas em busca de recuperação, é preciso melhorar o espaço físico. Os rapazes em tratamento precisam de roupas, calçados, e o espaço está precisando de materiais de construção.

?Estamos tentando construir mais dois cômodos, para melhor abrigar as pessoas e aproveitamos para pedir apoio das pessoas, de modo geral, com materiais de construção e quem sabe até um carrinho usado, para o nosso transporte até a cidade, quando se fizer necessário?, diz Janderson Vieira. (L.M.)

Mundo das drogas como fuga dos problemas reais

Impossível entrevistar a todos os alunos do Centro de Recuperação. Cada um tem uma triste história e está na casa por livre e espontânea vontade de se livrar das drogas.

Entre as histórias uma nos chama a atenção- a do ex-sem teto Luide Loureiro, de 40 anos, completados e comemorados no Centro, um dia após sua entrada na casa de reabilitação. Ele é goiano, mas vive há cerca de três anos em Teresina.

Luide conta que já experimentou quase todos os tipos de drogas, entre elas a maconha, heroína, cocaína e o crack. Começou a usar drogas aos 13 anos de idade. ?A droga é uma fuga de uma realidade a qual não estamos mais agüentando suportar?, diz.

Ele conta que era filho único e perdeu a mãe aos 10 anos de idade. Aos 15 anos perdeu o pai. A partir daí, passou a morar com um e com outro parente, sofrendo humilhações das mais variadas. Cursou até a sétima série e desistiu da sala de aula.

Teve um relacionamento do qual tem um casal de filhos adolescentes, que moram com a mãe, em Goiânia. ?Se não fossem as drogas, o caos seria ainda maior. Porque a droga é uma fuga e a conseqüência de algo que grita dentro de você?, desabafa.

Luide Loureiro vivia nas ruas, confeccionando e comercializando produtos artesanais e quando tinha dinheiro, se dava ao luxo de dormir em alguma pensão.

E quando não tinha um tostão, dormia em um posto de gasolina, nas imediações das TVs, na zona Sul. Ele foi ?encontrado? por Janderson Vieira, que o convidou para ir ao Centro.

?Participo de todas as tarefas e estou me adaptando ao tratamento. A casa é acolhedora. Eu vivia como artista, pelas ruas e vivenciei diversas situações de humilhações que um ser pode sofrer. Espero conseguir sair das drogas e voltar a exercer minha cidadania?, diz Luide Loureiro. (L.M.)

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