O deputado federal David Miranda (PSOL-RJ) e o jornalista Glenn Greenwald comemoram o primeiro fim de semana após a conclusão, na sexta-feira, do processo de adoção dos dois filhos João Victor, 11 anos, e Jonathas, 9. O parlamentar que ocupa na Câmara dos Deputados o cargo deixado por Jean Wyllys interrompeu uma brincadeira na piscina do hotel em Maceió, Alagoas, onde está hospedado com a família para conversar com a reportagem.
O parlamentar celebra a concretização do antigo desejo de ser pai: "Agora eles têm o nosso nome e uma nova certidão de nascimento. São nossos filhos legítimos. Foi um momento histórico para as nossas vidas". Além do lado afetivo, compartilhar a adoção também é uma atitude política.
"A nossa família está em risco (pelos números de LGBTfobia) neste país. Somos resistência. Falar que LGBTs chegam ao poder e têm família é muito importante para outros LGBTs. Representatividade importa muito", ressalta.
O parlamentar conta que em nenhum momento as crianças resistiram a conhecer a ele e a Glenn Greenwald - hoje chamados pelos filhos de pai David e de pai Glenn - pelo fato de serem um casal homoafetivo. "O abrigo avisou a eles que dois pais queriam adotá-los. Na semana em que seríamos apresentados, alguns meninos fugiram do abrigo e o João Victor falou que não fugiria porque tinha dois pais que iriam adotá-los", conta.
David lembra a emoção de quando encontrou pessoalmente os filhos, que são irmãos de sangue, no abrigo onde moravam em Maceió pela primeira vez em setembro de 2017. "Foi inacreditável. Eu fiquei tremendo o tempo todo quando cheguei do abrigo. Os meninos chegaram da escola dez minutos depois que chegamos. O João Victor já veio direto e me abraçou. Foi indescritível". "Eu sabia que eles eram meus filhos desde a primeira vez que nos falamos por videoconferência", acrescenta.
Pais de meninos apaixonados por Maceió, David Miranda diz que pretende levá-los regularmente à terra natal para que mantenham os vínculos. "Ao chegar no hotel, o João apontou pra janela e disse pro Glenn:'Olha, Maceió é linda'. Não queremos que eles esqueçam que são nordestinos. Eles têm uma história antes da gente. Essa história é viva e queremos que eles continuem lembrando de suas raízes", acrescenta.
O deputado federal pelo PSOL conta que pretende usar o mandato na Câmara dos Deputados para enfrentar o desamparo de jovens que completam 18 anos em abrigos sem ter para onde ir. "Muita gente adota bebê ou filho único e quem não se enquadra neste perfil acaba ficando no abrigo até atingir a maioridade".
Ele conta que prepara dois projetos de lei para atender a estes jovens. Um deles é determinar que empresas que tenham mais de cinquenta funcionários tenham jovens aprendizes que venham de periferias e abrigos. O outro projeto pretende desenvolver uma espécie de hostel para abrigar estes jovens até que completem pelo menos 21 anos. "A gente pode fazer este trabalho no âmbito federal para ajudar estes jovens a construir a vida adulta e evitar que caiam na criminalidade, muitas vezes o único trabalho que lhes é oferecido", finaliza.