De bermuda, descontraído e tomando café em um hotel de luxo na cidade de Budapeste, na Hungria, num dia quente e ensolarado. Assim foi preso Sérgio Roberto de Carvalho, 63, o Major Carvalho, um dos maiores narcotraficantes do mundo, procurado em três continentes.
Ele não resistiu à prisão. Mas os agentes da Interpol (Polícia Internacional), alguns disfarçados e também usando bermudas, tiveram de colocá-lo no chão para algemá-lo. Não havia muitos hóspedes no hotel no momento da detenção. Arthur, o fiel guarda-costas do Major Carvalho, tinha ido ao banheiro.
Conhecido na Europa como "Escobar Brasileiro" em alusão ao megatraficante colombiano Pablo Escobar, Carvalho, ex-major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, foi colocado em uma viatura descaracterizada e levado para uma unidade policial de combate ao terrorismo em Budapeste.
As imagens da prisão do narcotraficante foram divulgadas em primeira mão, hoje, pelo repórter Rodrigo Hidalgo, da Band. As autoridades brasileiras agora vão requerer a extradição do criminoso. Porém, ele também responde a processos por tráfico internacional de drogas na Espanha e em Portugal.
No hotel onde "Escobar Brasileiro" estava hospedado, foram aprendidos passaportes falsificados usados por ele. O Major Carvalho se passava por Paul, Paulo, David, Carlos Joseph, Andersen Paul, Anderson Pollus, Takev, Igor Ivanovich e Guilermo.
A trajetória de fugas do Major Carvalho terminou ali, sob os olhares atentos de curiosos, que observavam o preso, algemado e cercado por policiais armados, sendo conduzido até a viatura. Meses atrás, ele havia driblado as autoridades e fugido de um cerco em Lisboa usando aeronave própria.
Na ocasião, o Major Carvalho deixou para trás quase 12 milhões de euros (cerca de R$ 65 milhões), escondidos em uma van estacionada em um prédio de luxo na capital portuguesa.
Agora o Major Carvalho vai ter de explicar às autoridades como conseguiu forjar a própria morte. Em agosto de 2018, ele foi preso usando o nome falso de Paul Wouter. Fora acusado de ser o dono de 1.700 kg de cocaína apreendidos em um navio na Espanha.
O narcotraficante pagou fiança de 200 mil euros e saiu livre. Quando soube que o Ministério Público da Espanha iria pedir a condenação dele a 13 anos e seis meses de prisão, simulou a própria morte. O famoso esteticista Pedro Martin Matos, de Málaga, assinou o atestado de óbito e é investigado.
Segundo a Polícia Federal brasileira, Major Xarvalho comandava uma grande organização de tráfico internacional do Brasil e enviou ao menos 45 toneladas de cocaína para a Europa, principalmente via porto de Santos (SP) e Paranaguá (PR), a partir de 2017. A droga foi avaliada em R$ 2,25 bilhões.
O Major Carvalho também vai ter de explicar à Polícia Federal do Brasil como conseguiu importar da China 10 milhões de máscaras de proteção contra o coronavírus e EPIs (Equipamentos de Proteção Hospitalar) adquiridos por meio de uma empresa de fachada ligada a ele.
A carga chegou ao Brasil em 11 de junho de 2020, em um Boeing 747-400F. A aeronave pousou no Aeroporto internacional de Florianópolis, como divulgou com exclusividade este coluna na edição de 13 de janeiro deste ano. Para a PF, não há dúvidas de que o Major importou os produtos para lavar dinheiro do tráfico internacional de cocaína.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados do Major Carvalho, mas publicará a versão dos defensores dele na íntegra assim que houver um posicionamento.