O Projeto Avaliação de Crianças Em Risco de Transtornos de Aprendizagem (ACERTA), financiado pelo Programa Observatório da Educação (OBEDUC), permitiu pesquisas que resultaram em um artigo inédito no Brasil, sobre as bases neurais da dislexia do desenvolvimento em crianças brasileiras.
O artigo, produzido pelo Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (InsCer/ PUCRS), no qual o ex-bolsista Augusto Buchweitz é professor, é o primeiro com dados coletados no Brasil, com neuroimagem funcional sobre a população disléxica e traz dados inéditos referentes ao funcionamento do cérebro da criança com dislexia. “O cérebro de quem aprende a ler aprende a ficar de prontidão para leitura, enquanto que na dislexia do desenvolvimento, as conexões do cérebro em repouso não envolvem regiões importantes para a leitura”, explica o coordenador.
O coordenador explica que o projeto ACERTA foi desenvolvido em rede, com PUCRS, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), por meio do Edital CAPES/OBEDUC. O seu objetivo é investigar a aprendizagem da leitura e seu principal transtorno “por meio de uma combinação entre índices de aprendizagem, neuropsicológicos e neurais”.
O ACERTA levou à criação do ambulatório de aprendizagem, que avalia sem custos crianças com dificuldades de leitura, para identificar e diagnosticar aquelas com dislexia do desenvolvimento. Já foram avaliadas mais de 400 crianças que, após analisadas, receberam uma devolução por profissionais da fonoaudiologia, a partir das avaliações de histórico médico, neuropsicologia, leitura e escrita e neuroimagem.
“Esta devolutiva ajuda a informar os pais e a escola sobre a dislexia do desenvolvimento e como melhor lidar com esta dificuldade de leitura que fará parte da vida da criança”, esclarece o coordenador. Este estudo permite que a ciência sobre a aprendizagem da leitura e dislexia do desenvolvimento no Brasil, não dependa ou limite-se a dados de pesquisas norte-americanas e europeias. “Temos dados nossos, com resultados nossos, referentes a nossa realidade”, destaca o professor.
O ACERTA serviu de base para outras propostas e, por meio do Programa Geral de Cooperação Internacional (PGCI) da CAPES, está em rede mundial. “Graças ao projeto ACERTA e seus resultados e com o apoio da CAPES, conseguimos formar uma parceria de pesquisa internacional com os laboratórios Haskins, da Universidade Yale, e seus parceiros”, conta Augusto Buchweitz, que informou estar em andamento pesquisas na PUCRS e em Yale que se utilizam dos mesmos desenhos experimentais, em português e inglês.