Denis Cezar Barros Furtado, o Doutor Bumbum, afirmou, em entrevista ao EXTRA, que a bancária Lilian Quezia Calixto de Lima mentiu durante consulta médica antes da aplicação da substância PMMA — um derivado de acrílico — em seus glúteos. Lilian morreu um dia depois do procedimento. Segundo Denis, Lilian omitiu na consulta que usava anabolizantes e anticoncepcionais.
— Ela usava anabolizantes e omitiu essa informação na consulta de pré-realização do atendimento. Também usava anticoncepcionais e não disse. Nunca se deve mentir para o médico — afirma o médico.
O médico também afirma que a aplicação não tem relação com a morte da bancária.
— Precisamos desmistificar a bioplastia. Dizem que o procedimento foi feito em local impróprio. Não é verdade. A bioplastia é uma injeção. É para ser feito em consultório. E um consultório pode ser montado em qualquer lugar. Não é um procedimento que se faz em ambiente hospitalar. Ela não morreu por causa do procedimento. O laudo feito pelo perito comprova que ela teve um infarto — diz o médico. O procedimento foi feito na cobertura de Denis, na Barra da Tijuca.
A bancária Lilian Calixto veio para o Rio, de acordo com a família, para fazer o procedimento estético com o Doutor Bumbum Foto: Reprodução
Denis diz ter conhecido o ex-governador Sérgio Cabral no período em que esteve preso no Complexo de Gericinó e dava aconselhamentos médicos a colegas de cela que pediam sua ajuda. Denis ficou preso na Cadeia pública Pedrolino Werling de Oliveira, mesmo presídio em que Cabral e outros presos da Operação Lava Jato cumprem pena.
— Recebi parabéns de todos os meus colegas, inclusive o Cabral, por ter conseguido minha soltura por unanimidade (na 7ª Câmara Criminal). Fui muito bem tratado, com muito respeito, por todos eles — afirmou Dênis.
Segundo o médico, ele aconselhava colegas de cela que reclamavam de algum desconforto ou dor.
— Se estudei e tenho conhecimento para pegar ritmo cardíaco, pressão, saber se alguém está sentindo dor, tenho que ajudar. Não eram atendimentos, mas avaliações. Lá, não tem médicos dentro da unidade. O atendimento é precário. Por isso, aconselhava a procurarem a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento, para onde são levados os presos doentes). Ninguém queria ir para a UPA, mas dizia que podia ser importante. Se um preso tinha enjoo, queda de pressão abrupta, já era um sinal de que essa pessoa precisava de um hospital. Essa avaliação inicial pode ser a diferença entre a vida e a morte, e pude ajudar meus amigos dessa maneira — diz Dênis, que ficou numa cela que comportava até seis presos.
Relembre o caso
Lilian saiu de Cuiabá, capital do Mato Grosso, para fazer o procedimento estético com Denis em uma cobertura na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, em julho do ano passado. No dia seguinte à aplicação, passou mal e foi levada para o hospital pelo próprio médico, onde morreu horas depois, após quatro paradas cardiorrespiratórias. O laudo de necrópsia produzido pelo IML atestou que a causa da morte havia sido uma embolia pulmonar. Doutor Bumbum responde pelo crime de homicídio qualificado.
No último dia 15, um laudo elaborado a pedido da defesa de Denis foi apresentado à Justiça. De acordo com o documento, assinado pelo perito Leví Inimá de Miranda, Lilian foi vítima de um “enfarte miocárdico agudo”, sem relação com a aplicação de PMMA. Laudo do IML aponta que a morte foi provocada por embolia pulmonar.
No laudo produzido a pedido da defesa, que foi anexado ao processo, Inimá alega que o diagnóstico de embolia pulmonar é “errado e precipitado”. Com base num exame de sangue e num eletrocardiograma realizados na paciente, o perito afirma que “restou caracterizado um infarto miocárdico agudo. E esse infarto jamais foi visto, detectado e diagnosticado. Com os diagnósticos eletrocardiográfico e enzimático, a senhora Lilian tinha de ter sido encaminhada, de imediato, ao Laboratório de Hemodinâmica, para submetê-la a uma angioplastia coronariana. Porém, ela ficou o tempo todo em uma sala da emergência”.