É com batom, salto alto, peruca, glitter e muita irreverência que Álbner Lopes da Silva e Evaristo Moura ganham a vida em Ribeirão Preto (SP). Eles dão vida às drag queens Susi Ferrari e La Diva Croquete, que chegam a faturar até R$ 500 por hora dando ?bafão? nos casamentos da cidade. Em média, são 12 apresentações por mês.
São os próprios noivos e, às vezes, os padrinhos que pagam pela presença das drags nos eventos com um único objetivo: arrancar gargalhadas dos convidados fazendo piadas de episódios da vida do casal.
Trabalho sério
Susi Ferrari é a responsável por 70% do faturamento de Álbner Lopes da Silva, de 38 anos. Antes uma desconfiança, Susi se tornou a principal personagem de Silva, que é ator profissional. "Eu fazia muitas peças para crianças e eventos infantis. Pensei que perderia esse público se virasse uma drag", lembra.
Mas não foi o que aconteceu, já que os telefonemas para a contratação dos shows se tornaram frequentes. "Já cheguei a fazer três shows da Susi em uma única noite e em cidades diferentes", diz.
Hoje, Silva fala com orgulho de sua personagem. ?Susi é uma drag queen clássica. Ela tem vida própria, é praticamente um estado de espírito, cheia da pompa", conta.
Amigo de Silva e uma espécie de mentor dele, Evaristo Moura incorpora outra drag conhecida em Ribeirão Preto - La Diva Croquete. "O nome faz menção às divas famosas no mundo gay e que eu interpreto, como Donna Summer e Whitney Houston", explica Moura, de 36 anos.
Ele chega a faturar o mesmo que Silva. No mesmo ramo, os dois contam que é preciso muito profissionalismo para resistir em um mercado extremamente competitivo. "Tem um monte de gente que diz ser drag queen, mas não é. Você precisa saber ser e isso muitos não sabem", avalia Moura.
Bafão
Em cena nos casamentos, Susi faz piada dos convidados e chega a revelar intimidades do casal de forma bem humorada. A brincadeira atraiu o interesse do corretor de imóveis Philipe de Carvalho Godinho, de 29 anos, para sua festa. Segundo ele, a repercussão não podia ter sido melhor. ?Eu o contratei sem a minha esposa saber. Foi uma surpresa e ela gostou muito. No dia da festa, Susi chamava a minha esposa por outros nomes, fazendo alusão a uma possível amante minha. Todo mundo adorou o show?, conta.
Mas nem só de situações engraçadas é feito universo dos shows. Há também os episódios constrangedores. Existem algumas "regras" que são respeitadas pelas drags, como, por exemplo, nunca utilizar um figurino branco nos casamentos para não competir com o vestido da noiva. "La Diva", porém, já ousou e quebrou o protocolo.
"Cheguei em um vestido branco para trabalhar no casamento e a noiva me olhou de cima a baixo. Eu acho que é porque eu estava mais bonita do que ela", conta Moura às gargalhadas. Segundo ele, nada pode ser pior do que desagradar a noiva, mas, uma vez feita a bobagem, o jeito era continuar. "Fiz meu show e arrasei. Eu estava linda", declara.
Faturamento x gasto
Mesmo com um bom faturamento que garante o pagamento das contas do mês, parte do dinheiro de Moura e Silva precisa ser gasto em roupas e acessórios. Afinal, para ser uma drag queen luxuosa, é preciso ter novos looks e ousadia. O guarda-roupa dos dois é tão recheado de roupas, perucas e sapatos que eles nem conseguem saber quantas peças têm guardadas. "Impossível. Tem muita coisa", diz Moura.
Silva revela que os preços dos produtos são sempre muito altos. "Tenho sapato que custou mais de R$ 1 mil. Não tem jeito, é sempre caro mesmo. Tem as roupas, as perucas", diz.
Preconceito
Por se apresentarem sempre em eventos onde as pessoas já consumiram bebidas alcoólicas em excesso, as drag queens dizem que é necessário impor respeito. "Existem coisas muito importantes para que você seja respeitado. Por exemplo, eu não bebo ou fumo enquanto estou trabalhando, mesmo que me ofereçam", diz Silva. "Também não paquero ou dou bola para ninguém da festa", conta.
Segundo ele, a falta de respeito de algumas pessoas acaba gerando incidentes desagradáveis. "Tem gente que confunde drag queen com travesti, garota de programa, enfim. Já fiz show em casamento que um dos convidados ficou querendo passar a mão em mim. Tive que engrossar a voz e dizer para ele parar, que eu estava lá para trabalhar", lembra Silva.
A postura nas horas de trabalho faz diminuir, inclusive, o preconceito, segundo Moura. "O preconceito sempre vai existir, mas se você impõe respeito, ele diminui naturalmente", diz.