Por José Osmando de Araújo
Nos dias 21 e 22 de março , o Comitê de Política Monetária (COPOM), reúne-se, e deverá, ao final de seus trabalhos, definir a taxa Selic, que regula o índice de juros da economia, atualmente no extremado patamar de 13,75%, uma tarefa que cumpre a cada 45 dias. Juros tão elevados têm gerado enorme grita nos setores de produção do país e um forte combate por parte do Presidente Lula, que se manifesta com firmeza à disposição do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de agir na contramão da política econômica do Governo.
A expectativa é de que o COPOM puxe a taxa Selic para baixo, como maneira de acalmar os setores produtivos do país e os cidadãos brasileiros que necessitam movimentar suas atividades com patamares mais civilizados de juros nos seus empréstimos e financiamentos. Fora dos círculos do grande capital, que vive de grandes aplicações e de uma prática especulativa nociva, e historicamente ganham com taxas elevadas de juros, todo o resto do Brasil vem sofrendo e pagando alto com os indicadores atuais.
MOBILIZAÇÃO
É certamente por tais motivos que raramente se viu tanta mobilização sobretudo na classe trabalhadora, como se vê agora. No dia de hoje, por exemplo, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) anuncia grande movimentação de protestos em todas as capitais em que há sede do Banco Central, numa manifestação para exigir a redução do índice Selic e a queda do atual presidente do Banco Central. Ele tem mandato de quatro anos, ganhou autonomia, e nessa condição atua em favor do grande capital, contrariamente à política do governo.
Os atos da CUT foram convocados para acontecer em Brasília, Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, cidades onde há sede do BC. Mas a mobilização está chamando a população em todas as grandes cidades brasileiras. Os manifestantes declaram que o modelo atual do Banco Central atende a interesses dos rentistas do mercado financeiro.
QUEM LUCRA?
Eles têm dito que sendo a função da Selic controlar a inflação e estimular, ou retrair, os diferentes setores de mercado, no caso atual tem servido apenas para engordar a riqueza dos que ganham com a especulação e retrair os setores de produção, sobretudo a indústria, que têm enormes dificuldades de financiamento, graças à exorbitância dos juros cobrados pelos bancos nas suas transações de empréstimos. O cidadão comum também tem sido afetado diretamente, em decorrência dos elevados juros dos cartões de crédito. Só lucra quem não trabalha e tem dinheiro sobrando para grandes negociações no mercado da especulação.
É muito simples a lógica: uma elevação da taxa Selic eleva a rentabilidade dos títulos indexados por esse índice. Isso significa que os juros das aplicações financeiras ficam mais altos e o patrimônio dos investidores vai se expandir mais rapidamente. Isso serve como atrativo irrefreável para os que têm dinheiro sobrando, fujam de qualquer atividade produtiva e apliquem seu capital no mercado financeiro.
QUEM É PREJUDICADO?
Na outra ponta, que representa a quase totalidade do país, o custo de produção também só faz aumentar, pois falta dinheiro para manter as atividades dos diversos setores produtivos. Isso gera elevação dos preços dos produtos e desestimula o consumo. As pessoas passam a comprar menos, e o desemprego passa a ser a consequência inevitável.
O Banco Central, com suas práticas, está colaborando bastante para esse quadro desolador. Portanto, hoje e amanhã são dois dias muito importantes para a imensa maioria dos brasileiros. É bom ficar de olho.