“É um salto de fé”, diz Brad Pitt sobre filme com Terrence Malick

Mais experiente Pitt admite, contudo, que trabalhar com Malick transformou sua maneira de ver e fazer cinema

Brad Pitt foi ao Festival de Cannes para divulgar o filme "A árvove da vida | G1
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Depois de seis anos sem lançar nada, o diretor norte-americano Terrence Malick deu à luz, nesta segunda-feira (16) em Cannes, "A árvore da vida", seu novo longa-metragem, recebido com misto de vaia e aplausos dos jornalistas. Conhecido pela vida reclusa e por evitar entrevistas, o cineasta não compareceu à tradicional entrevista coletiva realizada pelo festival logo após a primeira sessão do filme nesta manhã. Em seu lugar, mandou Brad Pitt - que produz e estrela o longa ao lado de Jessica Chastain e Sean Penn.

"Terrence constrói casas. Ele não quer fazer o papel do corretor de imóveis e ter que vendê-las também", comparou Pitt, aludindo às razões do diretor para não querer ter de explicar sua obra a jornalistas ou ao público. "Sabe quando você tem aquela sua música favorita e vê a banda descrevendo a letra e fica meio desapontado? Então..."

"A árvore da vida" não é exatamente um filme abstrato ou hermético, mas isso não significa que não deixe inúmeras portas em aberto para que cada um tire suas próprias conclusões - daí os questionamentos, naturalmente compreensíveis, sobre qual seria o "objetivo" do diretor com a obra.

O filme narra, basicamente, duas histórias em paralelo. A mais prosaica trata da criação de uma família americana dos anos 50 numa cidadezinha típica do período. A mãe, interpretada por Jessica Chastain, esforça-se para educar os três filhos meninos com valores de amor e religião. O pai (Pitt), linha-dura e agressivo, tenta impor os seus através de disciplina e opressão.

Vivido por Sean Penn - que também não veio ao encontro dos jornalistas por estar envolvido em projetos sociais no Haiti -, é o filho mais velho dos O"Brien quem puxa a linha narrativa dessa história, de träs para frente, do momento da notícia da morte prematura de um dos irmãos voltando até o nascimento e a infância das crianças.

Refletindo, possivalmente, as próprias dúvidas religiosas da mãe, que sofre para entender "por que o Deus que dá é o mesmo Deus que tira" a vida de seu filho, o cineasta reajusta seu foco para o macro e encadeia longas - e belíssimas - sequências sobre a criação do universo, da formação geológica ao surgimento da vida na Terra.

Acompanhadas de uma trilha operística grandiloquente, as cenas lembram Stanley Kubrick e sua "Odisseia no espaço" mas remetem também e principalmente ao fascínio de Malick por filmar a natureza em sua breve e concisa filmografia - depois de sua estreia na década de 70 com "Terra de ninguém" e "Cinzas no paraíso", ele ficou 20 anos sem lançar nenhum filme antes de voltar com "Além da linha vermelha", em 1998, e "Mundo novo", em 2005.

"A árvore da vida" - que irá chega ao Brasil em 23 de junho - estava previsto para estrear em Cannes no ano passado, mas não ficou pronto no prazo. Com isso, aliado aos inúmeros mitos sobre o diretor, setores da imprensa especializada se questionavam se o filme, de fato, algum dia veria a luz do dia. Nem Brad Pitt ficou imune. "É um salto de fé, mas você sabe que está em boas mãos. Com Terry, não é tão assustador."

Segundo o ator, Malick ofereceu apenas "três ou quatro páginas" de roteiro para que ele e Jessica criassem suas cenas da maneira mais natural possível. Para isso, recriou um quarteirão inteiro ao estilo anos 50 em uma cidadezinha nos EUA e incentivou o elenco a explorar livremente o espaço.

"Precisei abandonar qualquer ideia preconcebida. Era tudo captura de acidentes. Um dia estávamos filmando uma cena e ele ouviu um pica-pau por perto. Na hora, virou a câmera e começou a filmar o pica-pau", lembrou Jessica Chastain. "É uma grande lição sobre como se livrar de qualquer tipo de controle sobre o que você espera que será o resultado. Tem outra cena em que uma borboleta pousa na minha mão - você não tem como planejar um momento desses. Não acontece porque está no roteiro mas porque ele cria um set onde deixa qualquer coisa acontecer", defende a atriz.

Mais experiente Pitt admite, contudo, que trabalhar com Malick transformou sua maneira de ver e fazer cinema. "Mudou tudo o que venho fazendo desde então. Eu percebi que os melhores momentos surgem de felizes acidentes. Tenho gostado mais de trabalhar com não-atores, tentando fugir do roteiro e ver no que dá", disse.

Questionado sobre se a opção de se manter afastado dos projetos mais comerciais é resultado de uma aversão adquirida a blockbusters, o astro brincou que não recusaria um convite para fazer "Missão impossível". "Eu estarei lá! Não sou tão sofisticado assim. O fato é que nos últimos dez anos comecei a pensar nos meus dez filmes favoritos e nessa lista não tem nenhuma superprodução, são só filmes que vão mais a fundo... Ou então coisas muito engraçadas, adoro comédia!", frisou.

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