Abilio D. fecha acordo com Casino e deixa o Grupo Pão de Açúcar

Empresário renunciou à presidência do conselho de administração do GPA. Abilio será agora apenas acionista, sem direitos políticos na empresa.

Abilio Diniz, ex-presidente do Grupo Pão de Açucar | Reprodução/Internet
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O empresário Abilio Diniz chegou nesta sexta-feira (6) a um acordo com o grupo francês Casino e anunciou sua renúncia à presidência do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar (GPA), empresa fundada por seu pai em 1948.

"Estou feliz de pôr fim a esses dois anos de luta", afirmou o empresário, em pronunciamento em São Paulo. "Renuncio à presidência e aos meus poderes lá", acrescentou.

"Na véspera do dia que simboliza a liberdade do Brasil, eu também abraço a minha liberdade para continuar perseguindo os meus sonhos", completou.

O acordo sela o fim do conflito com o Casino como também a saída de Abilio do Pão de Açúcar, que já era controlado pelo grupo francês desde junho de 2012. A partir de agora, o empresário será apenas acionista, sem direitos políticos na empresa.

O Casino cobrava a saída de Abilio da presidência do conselho do GPA desde que o empresário também passou a acumular a presidência do conselho da BRF - um dos maiores fornecedores do Pão de Açúcar. Os termos do acordo feito com o Casino em 2005 garantia que o empresário permanecesse no cargo mesmo depois da transferência do controle do grupo aos franceses.

Por várias vezes durante a entrevista, Abilio disse que os últimos anos não foram fáceis ao se referir à disputa com o Casino. "Os últimos dois anos não foram fáceis e, hoje, com alegria, encontramos uma solução suficientemente boa para todos", disse, agradecendo à família por tê-lo "aguentado" nestes dois anos "que não foram prazerosos".

Abílio lembrou ainda que ele comunica a renúncia exatamente 65 anos depois de seu pai, Valentim dos Santos Diniz, fundar o Pão de Açúcar, em 7 de setembro de 1948.

Termos do acordo

Foi decidido que Abílio trocará as ações ordinárias que tem na Wilkes, holding controladora do GPA, e receberá ações preferenciais, as negociadas em bolsa, na razão de 1 para 1. Com isso, o empresário passará a ter cerca de 9% das ações preferenciais do Grupo Pão de Açúcar ? aquelas que não dão direito a voto - juntando com os cerca de 2% de ações ordinárias que ele tinha anteriormente ao negócio.

Em fato relevante, o GPA informou que o Casino trocará 19,375 milhões de ações preferenciais do Pão de Açúcar pela mesma quantidade de ordinárias emitidas pela Wilkes detidas por Abilio.

O empresário destacou que considera o investimento no Pão de Açúcar "excelente" e que não planeja novas vendas de ações preferenciais.

Em comunicado conjunto, Abilio e Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, afirmaram que decidiram "terminar suas disputas e concluir sua parceria de maneira benéfica para ambos, de forma que cada um possa livremente seguir em frente e perseguir novas oportunidades".

Pelos termos, o acordo Wilkes deixa de existir e os conselheiros Luiz Fernando Figueiredo e Modesto Carvalhosa também renunciam ao conselho de administração do Pão de Açúcar.

As duas partes também decidiram encerrar todos os litígios que têm entre si. Abilio afirmou, porém, que o acordo não foi motivado por temores em relação ao Cade impedir a atuação dele ao mesmo tempo na presidência dos conselhos do Pão de Açúcar e da BRF. O motivo de ter ocorrido neste momento, disse, foi o de terem conseguido um acordo.

Entenda o caso

A saída de Abilio da presidência do Conselho do Pão de Açúcar põe fim a uma conturbada relação do empresário com o Casino. As relações do brasileiro com o grupo francês se deteriorou desde que o empresário tentou uma fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil em 2011.

O Casino conseguiu, porém, barrar a iniciatiba de Abilio. O conselho de administração do grupo francês rejeitou a oferta de fusão e o BNDES não confirmou o apoio, o que impediu o avanço do projeto de fusão. Na ocasião, o Casino argumentou que a fusão teria o objetivo de impedir que o grupo assumisse o controle do Pão de Açúcar, como previa o acordo assinado em 2005.

As desavenças entre as duas partes se agravaram neste ano, quando o empresário foi eleito para ser a presidência do conselho da BRF, uma das maiores companhias de alimentos do Brasil e que tem o Pão de Açúcar como seu principal distribuidor de produtos no mercado interno.

Após transferir o controle da varejista ao Casino, no ano passado, Abilio reduziu de forma significativa sua presença no capital da varejista. Em apenas três leilões de venda de ações preferenciais em seu portfólio desde o fim de 2012, ele embolsou mais de R$ 2,5 bilhões.

Íntegra do comunicado conjunto de Abilio Diniz e Jean-Charles Naouri:

"Movidos pelo sentimento de respeito mútuo, Abilio Diniz, Presidente do Conselho do Grupo Pão de Açúcar, e Jean-Charles Naouri, Presidente do Conselho do Grupo Casino, decidem terminar suas disputas e concluir sua parceria de maneira benéfica para ambos, de forma que cada um possa livremente seguir em frente e perseguir novas oportunidades.

Esse é um momento importante na história de negócios no Brasil, sendo que há exatamente 65 anos - em 7 de setembro de 1948 - a família Diniz fundava o Grupo Pão de Açúcar, a maior empresa de distribuição do Brasil.

Abilio Diniz deseja muito sucesso ao Sr. Naouri e ao Grupo Casino. Ele expressa seus desejos mais sinceros para que o Grupo Pão de Açúcar continue crescendo com suas pessoas, sua cultura e seus valores, contribuindo para o desenvolvimento do país.

Jean-Charles Naouri expressa sua gratidão pelas muitas contribuições do Sr. Diniz e de sua família, e deseja muito sucesso em seus projetos futuros. Sr. Naouri espera continuar estimulando o crescimento do GPA em benefício de seus consumidores, funcionários, acionistas e da sociedade brasileira."

Íntegra de carta lida por Abilio:

"Em 7 de setembro de 1948 meu pai, Valentim dos Santos Diniz, fundou o Pão de Açúcar. Desde então dediquei a minha vida à construção deste sonho. Hoje, exatos 65 anos depois, encerro um importante ciclo dessa história de sucesso para a empresa, para a nossa família e para mim.

É com emoção que renuncio à presidência do Conselho do Grupo Pão de Açúcar. Tenho comigo sentimentos de gratidão, felicidade, realização, respeito e orgulho por essa empresa, por essa gente e por esse país.

Na véspera do dia que simboliza a liberdade do Brasil, eu também abraço a minha liberdade para continuar perseguindo os meus sonhos. Como costumo dizer, quero hoje ser melhor do que ontem e, amanhã, melhor do que hoje.

No Pão de Açúcar sempre buscamos a eficiência, o crescimento e o êxito, com muito trabalho e dedicação, e assim construímos uma empresa única, admirada no Brasil e no mundo. Perseguimos sempre a felicidade e não é à toa que o Pão de Açúcar tem como slogan ?Lugar de Gente Feliz?.

Levo comigo os desafios, as conquistas, as derrotas, as vitórias e, acima de tudo, os aprendizados. É claro que num momento como esse também sinto tristeza; tristeza pela saudade que terei da empresa, das pessoas, das lojas e dos símbolos que tanto amo.

Mas assim é a vida. É preciso ter sabedoria para aceitar as mudanças. É preciso se reinventar e ir em frente. Seguirei a minha vida empresarial fazendo aquilo que sempre fiz, com coragem, correção, alegria e determinação, descobrindo e aceitando novos desafios. Peço a Deus que continue me dando saúde e iluminando o meu caminho, assim como o de vocês.

Agradeço a todos que compartilharam comigo esse sonho, a começar pelos meus pais, Valentim e Floripes, meus irmãos, minha mulher, Geyze, meus filhos Ana Maria, João Paulo, Adriana, Pedro Paulo, Rafaela e Miguel, e aos que, ao longo desses 65 anos, trabalharam e colaboraram com o Pão de Açúcar ? são milhares de pessoas que dedicaram suas vidas para fazer dessa empresa realmente um lugar de gente feliz. Agradeço também a todos os consumidores e parceiros que acreditaram em mim e no Pão de Açúcar, mesmo nos momentos mais desafiadores da nossa história.

Sinto-me realizado por liderar o Grupo Pão de Açúcar por todos esses anos. Sinto que contribuí com o meu trabalho e a minha liderança e deixar esse legado me faz muito feliz.

Os últimos dois anos não foram fáceis e, hoje, com alegria, encontramos uma solução suficientemente boa para todos.

Desejo ao Grupo Casino e aos acionistas do Pão de Açúcar sucesso na condução dessa empresa, que ela continue crescendo com a sua gente, a sua cultura e os seus valores, contribuindo para o desenvolvimento do nosso país e sendo sempre um lugar de gente feliz."

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