Nos últimos cinco anos, nunca pareceu tão fácil para o brasileiro achar um emprego como agora. Sondagem conjuntural da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feita mensalmente em mais de 2 mil domicílios de sete das principais capitais no País, mostra que 10,9% dos entrevistados acham que hoje é fácil encontrar um emprego.
É o maior índice já registrado desde que a pesquisa começou a ser feita, em setembro de 2005. Em dezembro de 2006, por exemplo, esse número era de apenas 0,3%.
Na outra ponta, a fatia dos brasileiros que consideram difícil encontrar emprego bateu nos níveis mais baixos da série. Em agosto, data da pesquisa mais recente, o número chegou a 52,2% dos entrevistados. Há um ano, estava em 71,8%, depois de ter atingido o pico de 88,1% em setembro de 2006.
"O resultado é incrível", diz o coordenador de sondagens conjunturais da FGV, Aloisio Campelo Júnior. "Em cinco anos, o resultado que a gente obtém com a mesma pergunta mudou radicalmente."
O mercado aquecido é reflexo da continuidade do crescimento econômico, diz o economista. Desde 2003, quando teve fim a chamada era do "voo de galinha", marcada por sucessão de períodos de crescimento econômico baixo e de crescimento mais elevado, o único evento que segurou um pouco o ritmo de expansão do emprego foi a recente crise financeira mundial.
"O que a gente vê agora é um cenário, tanto na cabeça de empresários como de consumidores, de continuidade do crescimento", comenta Campelo Júnior. "Uma empresa que está com o quadro de pessoal ajustado, e que vislumbra nos próximos anos um crescimento sustentado de 4% ou 5% ao ano, em média, promove novas rodadas de contratações, de maneira sistemática."
Nessas condições, o vento muda a favor do trabalhador. Diante da crescente demanda por mão de obra, que em alguns setores chega a superar a oferta de profissionais qualificados, prospera o número de trabalhadores que mudam frequentemente de emprego para ter salários cada vez mais altos.
O faturista Marco Antonio de Moraes, de 29 anos, faz parte desse time. Recentemente, ele trocou o posto que ocupou durante quatro anos em uma indústria do setor do plástico em Holambra, no interior paulista, por outro em uma distribuidora de combustíveis instalada na vizinha cidade de Paulínia.
Além de cumprir uma jornada menor, Moraes passou a ganhar mais. "Meu salário registrado em carteira era de R$ 1.047, o que somada às frequentes horas extras beirava R$ 1.500", conta o faturista. "Aqui, entrei ganhando R$ 1.180, mas tenho 30% de adicional de periculosidade, o que já eleva o meu salário para onde estava."
Moraes hoje embolsa cerca de R$ 2,8 mil por mês, contando os benefícios que ele não tinha no emprego anterior, como vale-transporte, vale-alimentação e cesta básica. "Fui convidado, fiz a entrevista, vi que era mais interessante e mudei de emprego", resume o trabalhador.
Liberdade. O empresário Paulo Francini, diretor do departamento de pesquisas e estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), diz achar "ótimo" a situação criada pela forte demanda da atividade econômica por trabalhadores.
"Essa liberdade no mercado de trabalho é muito boa de ser exercida", diz o empresário. "Imagina o sujeito ficar patinando durante anos num mesmo lugar, frustrado por não ter aumento de salário nem perspectiva de mudança, e de repente poder dar saltos qualitativos."