Por Juarez Oliveira e Sávia Barreto
Teresina, Picos, Canto do Buriti e Oeiras. O que esses municípios tem em comum, além de todos pertencerem ao Piauí? É que segundo os levantamentos da Secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico (Sedet), estas são as cidades que têm tido maior procura para a implantação de indústrias. Quem informa é a diretora da Unidade de Indústria da Sedet, Ivani Gonçalves. Ela destaca ainda como os principais pólos industriais do Estado, as regiões de Parnaíba (Tabuleiros Litorâneos), Floriano, Guadalupe (Platôs), União, Uruçuí (Bungue), Gurguéia, Fronteiras (Cimento Nassau), Guadalupe, Baixa Grande do Ribeiro e Capitão Gervásio Oliveira.
A diretora relata que no Piauí, as principais indústrias presentes são dos setores extrativistas. Ivani conta também que nos últimos anos os investidores têm aproveitado melhor essas potencialidades. ?Merecem destaque as produções de mel, caju, cera de carnaúba, couros e peles, medicamentos, indústria cerâmica, indústria química, alimentos e mineração. O potencial hídrico do Estado configura-se num diferencial para a atração destas empresas?, afirma.
O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Warton Santos, destaca que os municípios da região Sul e Sudeste do Estado possuem um grande potencial a ser explorado nos setores de agronegócio e mineração. ?Podemos destacar a presença de diamantes em Uruçuí, de níquel em Capitão Gervásio e de ferro em Paulistana?, informa o secretário.
Secretário de Desenvolvimento Econômico destaca potencial de municípios do Sul e Sudeste do Piauí
Warton Santos ressalta ainda que o Estado trabalha para disponibilizar a infraestrutura necessária para as indústrias se instalarem. ?Não adianta darmos os incentivos fiscais e esperar que a empresa resolva todo o resto. Temos que disponibilizar energia, água, estradas, enfim, dar as condições necessárias para que as empresas se instalem e possam ajudar no desenvolvimento do Piauí?, frisa.
Para Ivani Gonçalves, as obras estruturantes que estão em andamento no Estado devem facilitar o escoamento da produção e atrair ainda mais indústrias. ?As obras estruturantes em andamento no Estado como a Ferrovia Transnordestina, o Porto de Luís Correia, a reativação do ramal ferroviário Teresina ? Luís Correia, a Zona de Processamento de Exportação de Parnaíba, vão ajudar a desenvolver o Piauí e serão nossos diferenciais para a atração de mais indústrias?, argumenta.
Os reflexos da produção industrial no Piauí podem ser observados quando se analisa o Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios. De acordo com Warton Santos, o município com o maior PIB per capita do Estado é Uruçuí, seguido por Fronteiras, Guadalupe, Sebastião Leal, Teresina, Picos e Bom Jesus. ?Isso mostra que quando uma empresa se instala, mesmo que ela não agregue valor, ela melhora todas as condições de vida de uma região. Aumenta o comércio, a educação, a saúde, as parcerias com o município e consequentemente melhora as condições de vida do povo. O importante do desenvolvimento é crescer com inserção social, melhorando, sobretudo, a educação, a tecnologia e a saúde?, pontua.
O incremento na economia local também pode ser observado com o interesse de grandes indústrias, como a Suzano Papel e Celulose, de se instalarem no Piauí. Apenas na primeira fase de instalação da empresa, a implantação do viveiro de mudas, no município de Monsenhor Gil, já foram gerados 2.700 empregos, que devem ser dobrados até o final do ano, chegando a 5.500 oportunidades de trabalho. O projeto da empresa inclui ainda a construção de uma unidade fabril para a produção de celulose, que deve ter início em 2012, para começar a operar em 2016. Além disso, a Suzano já prepara o ambiente para sua nova planta no município de Palmeirais. O investimento total da empresa no Piauí será superior a R$ 4 bilhões.
Piauí terá fábrica da Suzano Papel e Celulose com investimento de mais de R$ 4 bilhões
ZONA DE PROCESSAMENTO DE EXPORTAÇÃO PROMETE ALAVANCAR O PIAUÍ NO COMÉRCIO EXTERIOR
Outra iniciativa do Governo do Estado para desenvolver a indústria no Piauí é a implantação da Zona de Processamento de Exportação de Parnaíba (ZPE). De acordo do o diretor técnico da ZPE de Parnaíba, Dinarte Porto, a instalação desse empreendimento será um marco histórico para o Estado e vai transformar a realidade sócioeconômica piauiense.
As obras da ZPE de Parnaíba serão feitas a partir de módulos, sendo que o primeiro módulo tem 36,5 hectares. Dinarte explica que nenhum imposto incide sobre o que é produzido dentro de uma ZPE e que a finalidade disso é focar a produção para a exportação. De tudo o que for produzido numa Zona de Processamento de Exportação, 80% deve ser obrigatoriamente exportado, sendo que 20% pode ser comercializado no mercado nacional.
Dinarte Porto conta que implantação da ZPE será um marco histórico para o Piauí
O diretor ressalta que a ZPE de Parnaíba será focada nas potencialidades da região. ?Não teremos restrições quanto às empresas que vão se instalar aqui, mas temos alguns focos. Um deles é a fruticultura irrigada a partir dos tabuleiros litorâneos, outro é a produção de fármaco-químicos?, informa. Dinarte Porto destaca que a primeira empresa a se instalar no distrito vai trabalhar com a produção de fármacos, através da pilocarpina, substância extraída das folhas do jaborandi, muito abundante na região.
A ZPE ficará a apenas 4 km do núcleo urbano do município, que está a uma distância de aproximadamente 500 km do porto do Pecém (CE) e a 400 km do porto de Itaqui (MA). Distante 18 km de Parnaíba, está ainda o porto de Luís Correia, em fase de conclusão. Estima-se que 10 empresas sejam implantadas nos primeiros dois anos de funcionamento da ZPE. Além das empresas que se instalarão na ZPE, várias outras devem se instalar no entorno da área para fornecer produtos e serviços às companhias ali instaladas. Deverão ser gerados, em média, 800 empregos diretos e 2.400 indiretos. O investimento total das empresas será de R$ 100 milhões, e o valor anual das exportações ficará em U$$ 160 milhões.
Planta aérea mostra que a ZPE de Parnaíba ficará a apenas 4 km do núcleo urbano do município
FERRO, NÍQUEL E DIAMANTE: PIAUÍ TEM SUBSOLO RICO EM MINÉRIOS
Não é mais novidade que o Piauí é rico em solos cultiváveis, principalmente na região dos cerrados, e que têm um dos maiores lençóis freáticos do país. Mas o que pode ser uma boa novidade para muita gente é a quantidade de riquezas minerais presentes em solo piauiense. Segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral ? DNPM, órgão responsável pelo gerenciamento e fiscalização da atividade mineral no Brasil, o Estado do Piauí tem registrado um aumento significativo no número de pedidos de pesquisas por jazidas de ferro na região sul, principalmente nas cidades de Curral Novo, Simões, Barreira do Piauí, Parnaguá, Paulistana e São João do Piauí.
O chefe do DNPM no Piauí, Eliseu Emídio Neves Cavalcante, ressalta que a fase de pesquisa é muito longa e somente após a comprovação da presença do minério, e a elaboração de um projeto de exploração da área é que o pesquisador obtém a concessão de lavra, o que lhe dá o direito de extrair e comercializar o minério encontrado. A empresa que encontrou o minério tem o direito de explorar a área, mas fica sujeita ao pagamento da Contribuição Financeira por Exploração Mineral ? CFEM, que equivale a 2% do lucro total arrecadado na exploração. Desses 2% arrecadados, 65% é destinado ao município onde se localizam as reservas minerais exploradas.
As empresas exploradoras de minérios não fazem suas buscas ao acaso. Elas são guiadas por mapas geológicos detalhados das áreas a serem pesquisadas, e quem elabora esses mapas é a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais ? CPRM, órgão vinculado ao Ministério das Minas e Energia. O CPRM é responsável por desenvolver pesquisas minerais e hidrológicas, apenas para o mapeamento básico da área, identificando a composição das rochas. Segundo o chefe de residência do órgão no Piauí, Antônio Reinaldo Soares Filho, através da identificação das rochas presentes em uma área, pode-se definir que tipos de minérios podem ser ou não encontrados.
?Determinados tipos de rochas indicam a favorabilidade ou não da presença de minerais que são gerados e acumulados naquele domínio. No Piauí há reservas comprovadas de ferro e níquel, já o chumbo e o zinco também podem ocorrer, a favorabilidade é alta, pois eles ocorrem associados a esses outros minerais?, explica o geólogo.
O Piauí tem muitas reservas de minérios, metálicos ou não, dentre as principais jazidas já comprovadas e exploradas comercialmente, estão: água mineral, rochas (britadas), cascalho, quartzito ornamental, calcário, areia, argila, ardósia, rochas ornamentais (granitos e afins), opala, entre outras. Eliseo Emídio explica que na região de Capitão Gervásio há grandes reservas de níquel, mas que elas ainda não estão sendo exploradas plenamente. Ele afirma ainda que apesar da riqueza mineral do Estado, a infra-estrutura para o escoamento dessa produção precisa melhorar. ?Sem estrutura não dá para explorar. Não dá para escoar a nossa produção mineral por estrada de asfalto, as estradas não aguentariam. Produção mineral deve ser escoada por estrada de ferro, que é mais barata e mais resistente?, conclui Eliseo Emídio.
O CPRM esta trabalhando no mapeamento geológico de diversas áreas do Piauí. Em 2011 foram concluídos o mapeamento das cidades de São Raimundo Nonato, Coronel José Dias e Avelino Lopes. O mapeamento dura em torno de dois anos para ser concluído. Recentemente tiveram início o mapeamento em Fronteiras, e para 2012 está planejado o mapeamento em Bom Jardim e Curimatá. Um convênio entre o Governo do Estado e o CPRM está fazendo o mapeamento detalhado das opalas na região de Pedro II. Outro importante estudo é sobre a presença de diamantes no Estado. A pesquisa já confirmou a ocorrência desse mineral em Gilbués e Monte Alegre, nas áreas onde a rocha mãe é o Kimberlito, e agora estuda a presença de diamantes na região de Picos.
Atualmente a mineração é responsável por apenas 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, o que significa que o Piauí ainda não está usufruindo de toda a capacidade de geração de recursos que o seu potencial mineral pode proporcionar. As obras de infraestrutura em andamento no Estado terão participação importante para o desenvolvimento do setor da mineração. A conclusão da obra da Transnordestina, o reforço do setor energético e a disponibilidade de água na região são fatores que facilitam a atração das empresas que devem explorar esses recursos.
Obras estruturantes, como a construção da Ferrovia Transnordestina, facilitarão o escoamento de minérios
As principais empresas de mineração presentes no Piauí atualmente são Bemisa/GME4, Investmine minerações, GCZ, GCTZ Geologia e Mineração e Galvani, que estão pesquisando minério de ferro. Além disso, estão presentes também as empresas Vale S.A. e Votorantim Metais, que tem 212 autorizações para a pesquisa de níquel na região de São João do Piauí. No Piauí há pelo menos 741 milhões de toneladas de minério de ferro para serem explorados segundo o DNPM. O diretor de fiscalização do DNPM, Walter Lins Arcoverde, afirma, contudo, que esses números não são definitivos.
?Em todo o Brasil, no ano de 2010 foram aprovados 2 bilhões de toneladas de minério de ferro. Só no Piauí foram apresentados, até abril de 2011, relatórios de pesquisa de 741 milhões de toneladas desse minério, mas muitas áreas ainda não entregaram os resultados da pesquisa?. O diretor acredita que o Piauí possa triplicar esses números com a apresentação dos próximos relatórios.
A empresa Bemisa/GME4, que executa o projeto Planalto Piauí (PLT), em busca de minério de ferro em Paulistana, destacou a infraestrutura da região como favorável para a exploração do minério. A conclusão da Transnordestina e a abundância de água da Barragem de Poço de Marruá são abordados como fatores favoráveis da região, assim como a disponibilidade de energia.
Walter Lins Arcoverde explica ainda que as pesquisas de mineração instaladas no Piauí podem mudar o perfil econômico do Estado, principalmente as pesquisas em busca de ferro e níquel. ?Esses projetos de ferro e níquel são os que trariam uma mudança maior, em termos de valor de produção mineral. Se conseguirem transformar esses recursos potenciais em mina, isso vai mudar o perfil do Estado, porque os valores de venda são elevados. A compensação financeira que são os royalties da mineração também aumentam bastante?, acrescentou o diretor.
Piauí tem registrado um aumento muito grande no número de pedidos de pesquisas por jazidas de ferro na região sul
Ocorrências Minerais no Estado do Piauí e cidades onde se localizam (segundo dados do CPRM):
Água Mineral: Teresina, Picos, Dom Expedito Lopes, São João do Piauí e Cristino Castro
Amianto e Níquel: Capitão Gervásio Oliveira
Argila: Teresina, Parnaíba, Altos, Valença do Piauí, Picos, Jaicós, Oeiras e Floriano
Argila Plástica: Oeiras, Jaicós, Campo Grande do Piauí, São José do Piauí e Colônia do Piauí
Argila Refratária: Jaicós
Atapulgita: Guadalupe
Calcário: São Julião, Fronteitas, Parnaíba e Buriti dos Montes
Caulim: Palmeirais, Luzilândia, José de Freitas, Barro Duro, Antônio Almeida, Porto Alegre do Piauí, Santa Filomena, Francisco Ayres, Capitão Gervásio Oliveira, Dom Inocêncio e São Raimundo Nonato
Diamante: Gilbués e Monte Alegre do Piauí
Fosfato: Caracol, São Miguel do Tapuio, Castelo do Piauí, Buriti dos Montes, São João da Serra, Santa Cruz dos Milagres e Valença do Piauí
Gipsita: Simões e Betânia do Piauí
Manganês: São Raimundo Nonato
Mármore: Pio IX e Fronteiras
Minerais pesados: Luís Correia
Níquel: Capitão Gervásio Oliveira
Opala: Pedro II e Buriti dos Montes
Pedras ornamentais: Castelo do Piauí, Juazeiro do Piauí, Campo Maior, Piripiri, Pedro II, Piracuruca, Padre Marcos e Picos
Sal marinho: Luís Correia
Talco: Dirceu Arcoverde, Paulistana e São Raimundo Nonato
Vermiculita: Queimada Nova
O CPRM registra ainda outras ocorrências minerais no Piauí, como ouro, rutilo, chumbo, platina, cromo, ferro, vanádio, cobre e grafita.