O diretor de Fiscalização do Banco Central, Anthero Meirelles, descartou a possibilidade de o Brasil caminhar para uma crise de subprime, semelhante à ocorrida nos Estados Unidos entre 2008 e 2009. "Não há bolha imobiliária no Brasil. Não temos elementos que caracterizem bolha", disse.
Segundo o índice Fipe Zap, o preço anunciado do metro quadrado subiu 13,1% em 12 meses. A pesquisa leva em consideração as ofertas de imóveis em 16 cidades do País. Nesta manhã, a Caixa, maior financiadora de imóveis do Brasil, anunciou a projeção de fornecer R$ 154 bi em crédito imobiliário neste ano, um aumento de 14,2% em relação a 2013. Nos últimos anos, o banco multiplicou por 28 o volume destinado anualmente para este segmento.
Durante divulgação do Relatório de Estabilidade Financeira (REF), Meirelles afirmou que no Brasil não existe segunda hipoteca e destacou que mais de 90% dos imóveis é para moradia própria. Ele também afirmou que o crédito imobiliário no País, comparado a outras economias, ainda é pequeno.
Em uma simulação, o BC observou que se houvesse uma queda de 33% nos preços dos imóveis entre um dia e outro, o sistema não passaria por insolvência. "Esse exercício é um pouco pra mostrar que se houvesse hecatombe dos preços, mesmo assim as instituições financeiras são capazes de absorver também esse choque", argumentou. "O aumento dos preços dos imóveis tem sido compatível com crescimento da renda, não há descolamento", defendeu.
Meirelles afirmou ainda que os dados compilados pela autoridade monetária permitem até mesmo se vislumbrar uma maior estabilização dos preços de imóveis. Segundo ele, o aumento da renda dos brasileiros nos últimos anos pressionou a demanda no setor, mas esse movimento começa a ser estabilizado pelo aumento da oferta. "Novas unidades habitacionais vão sendo feitas e a oferta vai aumentando, equilibrando essa relação", completou.
Sem especulação. Outro dirigente do BC reforçou essa tese, em evento em São Paulo. O chefe de Unidade DENOR - Departamento de Regulação do Sistema Financeiro, Sérgio Odilon, afirmou não há evidência de movimento de especulação em imóveis, apesar do preço elevado dos imóveis em grandes cidades do País. "A maior parte dos brasileiros demanda imóveis para moradia própria, segmento no qual as taxas de inadimplência são ainda menores. Não é comum alavancagem com investimento imobiliário no Brasil".
O crédito imobiliário no Brasil tem crescido, conforme Odilon, devido a uma conjunção de fatores macroeconômicas favoráveis, expansão da oferta de recursos e o aprimoramento do marco legal. Segundo ele, as carteiras têm crescido de forma sustentável, com bom nível de garantia, baixa inadimplência. "O mercado de crédito imobiliário é pequeno em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O alto nível de capitalização das instituições financeiras mitiga o risco de crise imobiliária e no sistema financeiro nacional", avaliou o representante do BC.
Os depósitos de poupança, de acordo com ele, vão continuar sustentando a demanda por crédito imobiliário no futuro próximo, entretanto, são necessárias alternativas de fontes como instrumentos de securitização e os covered bonds (letras financeiras imobiliárias emitidas por bancos). Segundo ele, o BC segue fiel, sempre monitorando o mercado com o objetivo de mitigar a ocorrência de crise semelhante as que assolaram outras economias num período recente.