A ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central sai nesta quinta-feira (4) e deve sinalizar que o órgão aumentará a taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião, em março. Se o juro básico subir, o crédito ficará mais caro e menos acessível ao consumidor e às empresas. O principal motivo do BC para elevar a taxa é a aceleração da inflação. Atualmente, a taxa básica de juros está em 8,75% ao ano, mas deve subir para ao menos 9% ao ano no próximo mês.
A ata é divulga pelo Banco Central sempre uma semana após a reunião do Copom ? quando se discute e decide sobre a tendência do juro básico do país. O documento ajuda a entender os fatores econômicos que pesaram na decisão sobre os juros e mostra também quais a perspectivas, na avaliação do BC, para a economia e para as próximas reuniões do comitê.
O ministro Guido Mantega afirmou na terça-feira (2) que ?se houver problema de inflação, os juros vão subir?. A meta do governo para este ano é de inflação de 4,5%, mas só em janeiro, de acordo com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), o custo de vida subiu 1,34% na cidade de São Paulo.
Para o economista e professor da FEA/USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo), Keyler Rocha, o simples aumento da inflação já é prejudicial ao consumidor. Na avaliação dele, ainda é cedo para estimar um aumento dos juros, mas ?é provável que se altere em março", podendo chegar a 9% ou 9,25% ao ano.
- O fato de aumentar a inflação já afeta o consumidor. Ele paga mais caro pelos bens que consome. E as grandes compras são feitas com crédito [compras de automóveis, móveis, imóveis]. Com o avanço da taxa básica, aumentam os juros do financiamento [ou seja, o crédito fica mais escasso].
O economista da Fipe, Antonio Comune, afirma que ?uma luz amarela está acesa? para a inflação. Para fevereiro, o economista prevê alta média de 0,6% nos preços e ?em dois meses [somando janeiro e fevereiro], teríamos um aumento de 1,94%, o que representa mais de 25% do índice de 4,5% previsto para o ano todo pelo governo?.
- Todo mundo compra bens duráveis (móveis, por exemplo), pacotes de viagem ao exterior, automóvel, no cartão de crédito. A elevação da taxa de juros inibe essa demanda.
O professor da Economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Antonio Carlos Porto Gonçalves, concorda que o BC deve sinalizar na ata desta quinta-feira um aumento dos juros na reunião de março, para conter a demanda por empréstimos e evitar o avanço da inflação.
- Pelo menos deveria fazer isso, porque a demanda [por crédito] está muito forte, o dólar começou a subir e há probabilidade de aumento da inflação.
O dólar baixo, de certa forma, ajuda a segurar a inflação, porque os insumos importados ficam mais baratos, pressionando menos os custos de produção das indústrias. Já quando a moeda americana sobe, ocorre o oposto. Ou seja, o custo das indústrias que dependem de insumos importados aumenta, o que deixa os produtos aos consumidores mais caros e gera inflação.
Selic afeta poupança?
A elevação da taxa básica de juros não interfere diretamente no dinheiro que o trabalhador guarda na caderneta de poupança. Segundo Antonio Comune, o rendimento das cadernetas possui uma taxa própria.
- O que pode ter relação é o ganho real, formado pelo rendimento da poupança no ano menos a inflação. Quanto menor a inflação, mais o poupador vai ganhar.
O economista Keyler Rocha também não vê relação direta entre os rendimentos da poupança e a taxa básica de juros.
- A poupança não vai mudar. Ela rende cerca de 0,5% ao mês, quase 7% ao ano. A alta da inflação estimula o consumidor a antecipar as compras - por causa do aumento dos preços - com o dinheiro da poupança.