O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, expressou sua intenção de debater uma taxação global mínima sobre a riqueza durante o encontro do G20. Seu discurso ocorreu na abertura das reuniões de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais, realizadas hoje e amanhã em São Paulo. O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, também proferiu um discurso durante o evento.
O G20 congrega as principais economias globais, incluindo a União Europeia e a União Africana. O Brasil lidera o grupo desde dezembro do ano passado, com a presidência brasileira prevista para encerrar em novembro deste ano, culminando na cúpula de chefes de Estado no Rio de Janeiro.
Haddad participou do evento de maneira virtual, após ser diagnosticado com Covid-19, e disse que uma tributação mínima global sobre a riqueza "poderá constituir o terceiro pilar para a cooperação tributária internacional".
"Reconhecendo os avanços obtidos na última década, precisamos admitir que ainda precisamos fazer com que bilionários do mundo paguem sua justa contribuição em impostos", afirmou Haddad.
Durante o discurso, o ministro afirmou que houve uma "confusão" da integração econômica global com a liberalização de mercados, a flexibilização das leis trabalhistas, a desregulamentação financeira e a livre circulação de capitais.
"As crises econômicas resultantes causaram grandes perdas socioeconômicas. Enquanto a hiperfinanceirização prosseguiu em ritmo acelerado, um complexo sistema [...] foi estruturado para oferecer formas cada vez mais elaboradas de evasão tributária aos super-ricos", disse.
Desde o ano passado, o ministro da Fazenda tem defendido a taxação de fundos exclusivos — também conhecidos como fundos dos "super-ricos" — e das chamadas offshores. À época, Haddad havia afirmado que o objetivo era aproximar o sistema tributário brasileiro "do que tem de mais avançado no mundo".
Durante seu discurso, Haddad também reiterou que o "legado" da última onda de globalização trouxe um aumento substancial de desigualdade de renda e riqueza em diversos países, de maneira que o 1% de pessoas mais ricas do mundo detém 43% dos ativos financeiros mundiais. O ministro também afirmou que "não há ganhadores na atual crise da globalização".
Segundo ele, a crise climática ganhou força e se tornou uma "verdadeira emergência", de forma que os países pobres devem arcar com custos ambientais e econômicos crescentes, ao mesmo tempo que veem suas exportações ameaçadas por uma crescente onda protecionista e uma parcela significativa das suas receitas comprometidas pelo serviço da dívida, em um cenário de juros ainda elevados pós-pandemia.
"Embora, como disse, os países mais pobres paguem um preço proporcionalmente mais alto, seria uma ilusão pensar que países ricos podem dar as costas para o mundo e focar apenas em soluções nacionais", afirmou Haddad.
"Em um mundo no qual trabalho e capital são cada vez mais móveis, pobreza e desigualdade precisam ser enfrentadas como desafios globais, sob a pena da ampliação das crises humanitárias e imigratórias", acrescentou.