Após atravessar um dia instável, com o mercado avaliando dados ruins do mercado de trabalho americano e alívio da inflação no Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou esta sexta-feira (7) em alta de 0,7%, aos 48.073 pontos.
Com este desempenho, o índice acumulou valorização de 0,91% na semana, interrompendo uma sequência de cinco semanas seguidas de perdas.
No mês passado, a economia americana criou 113.000 novos postos de trabalho, desempenho 150% melhor que em dezembro, mas muito inferior às 180.000 novas vagas esperadas pelo mercado para o período. A taxa de desemprego caiu de 6,7% para 6,6%.
Segundo analistas consultados pela Folha, o resultado pode influenciar em uma retirada de estímulo nos EUA em ritmo mais modesto, o que também deve amenizar a diminuição no volume de recursos disponível para investimento em outros países, como os emergentes.
"O efeito acaba sendo positivo para o Brasil, especialmente para nossa Bolsa, que tem um peso relevante de investidores estrangeiros", diz Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora. "Para o câmbio, a notícia também reflete positivamente, pois uma oferta maior de dólares no mercado reduz a pressão sobre o preço da moeda", acrescenta.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou esta sexta-feira em leve queda de 0,12% sobre o real, cotado em R$ 2,382 na venda. Na semana, houve desvalorização de 1,37%. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, cedeu 0,16% no dia e 1,37% na semana, para R$ 2,379.
Com o desempenho, a moeda americana interrompeu uma sequência de duas semanas em alta. Operadores citam entradas pontuais de dólares na economia brasileira e a rolagem de contratos de swaps (operação equivalente à venda futura de dólar) pelo Banco Central como balizadores desse movimento.
Contribuiu para o alívio nos mercados hoje o resultado do IPCA (índice oficial de inflação) de janeiro, que desacelerou em relação à alta de 0,92% de dezembro e registrou uma taxa de 0,55%. O índice é o mais baixo registrado para o mês desde 2009.
A avaliação de especialistas, no entanto, é que o alívio não deve passar do curto prazo, por isso não foi suficiente para alterar as projeções de novos aumentos da Selic (juro básico) nas duas próximas reuniões do Banco Central, em fevereiro e abril. Há divergências, no entanto, nas projeções para a intensidade das altas.
Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, o BC deve voltar a subir a Selic em 0,5 ponto percentual na reunião deste mês, para 11% ao ano, e finalizar o ciclo de aperto monetário na reunião de abril, com nova alta de 0,25 ponto percentual na taxa, que terminaria o ano em 11,25%.
Já Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora, vê dois avanços de 0,25 ponto percentual na Selic nas duas próximas reuniões da autoridade, fechando 2014 em 11% ao ano.
No mercado de juros futuros da BM&FBovespa, o contrato mais negociado fechou hoje apontando taxa de 11,36% em janeiro de 2015, queda de 1,13% sobre o fechamento de ontem.
AÇÕES
Os papéis mais negociados da operadora de telefonia Oi tiveram ganho de 4,08% hoje, após a notícia de que um grupo formado por 12 bancos, nacionais e estrangeiros, comprometeu-se com a Oi a captar entre R$ 6 bilhões e R$ 8 bilhões no mercado para a compra de ações da nova companhia, formada na fusão com a Portugal Telecom no ano passado.
Já as ações da construtora Gafisa subiram 6,64% e lideraram os ganhos entre as 72 ações que compõem o Ibovespa, depois do anúncio de que seu conselho de administração autorizou estudos para potencial separação da Tenda, subsidiária voltada à baixa renda.
As ações ordinárias da Eletrobras (com direito a voto) avançaram 1,78%, enquanto os papéis preferenciais (sem direito a voto) da companhia tiveram valorização de 2,16%, após o leilão das linhas de transmissão da Usina de Belo Monte, realizado hoje na BM&FBovespa, em São Paulo. O consórcio vencedor conta com duas subsidiárias da Eletrobras, a Furnas e a Eletronorte, além da chinesa State Grid.
A Eletrobras também anunciou hoje que planeja investir quase R$ 14 bilhões neste ano.
"O cenário para as elétricas está complicado. Acabamos de passar por um blecaute que atingiu boa parte do país (11 estados), o que deixou o mercado ainda mais cético se daremos conta da demanda por energia nesse período de calor extremo e falta de chuva. Os investimentos da Eletrobras vão ajudar a reforçar o sistema no futuro, por isso o mercado viu com bons olhos o anúncio", diz Galdi.