A maior parte dos investidores optou por se desfazer de suas ações nesta quarta-feira, derrubando a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) já em seu quinto pregão consecutivo de baixa. A valorização acumulada das ações ao longo do ano, e temores sobre o ritmo de recuperação dos EUA formam o ambiente de negócios em que as ordens de venda predominam. No mercado de câmbio, a taxa caiu para R$ 1,88 após uma sequência de sete dias de encarecimento da moeda americana.
O mercado também operou sob expectativa da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que anuncia hoje, após o encerramento das operações, a nova taxa básica de juros do país. Há poucas horas do final da reunião, era difícil encontrar economistas que viam um resultado diferente da manutenção da Selic em 8,75% ao ano. O Ibovespa, índice que reflete os preços das ações mais negociadas, recuou 0,77% no fechamento, aos 55.385 pontos.
O giro financeiro foi de R$ 5,70 bilhões. Nos EUA, a Bolsa de Nova York fechou em baixa de 0,32%. O recuou da Bolsa somente não foi maior por conta das ações da Petrobras, em recuperação após o "susto" de segunda-feira, quando o governo anunciou a proposta para o novo marco regulatório do pré-sal. As ações preferenciais valorizaram 1,74% enquanto as ordinárias, 1,41%. Juntos, os dois papéis movimentaram mais de R$ 1 bilhão em negócios no pregão de hoje. O dólar comercial foi negociado por R$ 1,885, em baixa de 1,04% sobre a cotação de ontem.
A taxa de risco-país marca 284 pontos, número 3,64% acima da pontuação anterior. Nas últimas semanas, economistas de bancos e corretoras têm salientado que a onda de relativo otimismo que impulsionou as Bolsas ao longo do último bimestre deve ser revista em setembro. A convicção de que há "gordura para queimar" nos preços atuais das ações encontra justificativas, por exemplo, na evolução dos preços das commodities (matérias-primas), que não recuperaram os patamares vistos em julho, ao contrário dos papéis negociados na Bolsa.
Esse descompasso, na visão de alguns, já seria uma demonstração de que a Bovespa subiu rápido demais. Há dúvidas também sobre o ritmo de recuperação da economia americana, o que o viés positivo da ata divulgada hoje pelo Fed (o Federal Reserve, o banco central americano) não conseguiu dissipar. "A questão que está sendo discutida agora é como que as estratégias de saída, isto é, a diminuição dos estímulos monetários e fiscais dos governos para as economias (...) irá afetar o desempenho da atividade econômica como um todo", avalia o economista da Geração Futuro, Gustav Penna Dorski, em relatório sobre conjuntura econômica. "Neste sentido, há pesados argumentos afirmando que esta recuperação é apenas esporádica e temporária, reflexo dos efeitos fiscais", acrescenta, resumindo um debate que circulou pelas mesas de operações nestes últimos dias. Entre as principais notícias do dia, a consultoria ADP informou que estima uma perda de 298 mil empregos no setor privado dos EUA.
Economistas do setor financeiro projetavam uma destruição de somente 250 mil vagas. A projeção da ADP ganhou influência nos últimos anos, principalmente por antecipar a estimava oficial que será somente divulgada na sexta-feira, e que provoca nervosismo entre investidores e analistas desde o início da semana. Ainda nos EUA, o Departamento de Trabalho informou que a produtividade dos trabalhadores americanos teve um avanço de 6,6% no segundo trimestre(dado anualizado). Trata-se da maior alta desde o terceiro trimestre de 2003, surpreendendo os economistas (consenso em torno de 6,4%). O Federal Reserve (o Banco Central americano) revelou que a maioria de seus diretores regionais acredita que a recessão está "perto do fim" e que "o crescimento deve recomeçar no segundo semestre".