Sem alarde, a Caixa Econômica Federal analisa a hipótese de injetar mais R$ 340 milhões no banco Panamericano.
Somados aos R$ 739,27 milhões gastos em 2009, quando a Caixa virou sócia do banco, o total de verbas públicas aplicadas no negócio roçaria R$ 1,8 bilhão.
O blog apurou que o pedido de novo aporte da Caixa representa apenas parte da necessidade financeira do PanAmericano, que soma cerca de R$ 600 milhões.
Confirmando-se a liberação dos R$ 340 milhões da Caixa, o restante viria do outro sócio da ex-casa bancária de Silvio Santos, o BTG Pactual.
Em plano de negócios submetido aos sócios, o Panamericano alega que opera com patrimônio abaixo do nível de referência exigido pelo Banco Central.
Daí o pedido de recapitalização. Acompanham o desenrolar da transação o próprio Banco Central e o Ministério da Fazenda.
O repórter enviou à Caixa, por escrito, um pedido de manifestação sobre a intenção de destinar ao Panamericano mais R$ 340 milhões.
A resposta veio pelo telefone. A Caixa não negou a cifra. Absteve-se, porém, de comentar a operação.
Alegou-se que o Panamericano prepara para o início de novembro a divulgação dos seus resultados. E daí?
Segundo a Caixa, uma regra da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) impõe aos sócios do banco um ?período de silêncio?.
A novidade chega em momento politicamente inoportuno. Um instante em que a Polícia Federal ajusta o rumo de suas investigações sobre fraudes no Panamericano.
Apura-se um rombo contábil de R$ 4,3 bilhões. No curso do inquérito interceptaram-se e-mails que acrescentaram ao caso uma variável política.
Além das suspeitas antigas, investiga-se agora se o Panamericano, à época em que ainda pertencia a Silvio Santos, serviu-se da ajuda de políticos para obter socorro oficial.
Há dez dias, a Folha revelou que, entre os e-mails obtidos pela PF, estão mensagens de Luiz Gushiken, ex-ministro de Lula.
Revelam contatos com Rafael Palladino, ex-presidente do Panamericano. Coisa de 2009, ano em que a Caixa foi empurrada para dentro da sociedade tóxica.
A Caixa entrou no negócio sob a alegação de que o Panamericano, com forte penetração nas classes C e D, interessava à instituição estatal.
Um ano depois do investimento de R$ 739,27 milhões, descobriu-se que o Panamericano carregava em seu balanço rombo de R$ 2,5 bilhões.
Apuração do Banco Central verificou que o banco vendia carteiras de crédito a outras instituições e não lançava as operações em sua contabilidade.
Para evitar uma intervenção do BC, providenciou-se um aporte de R$ 2,5 bilhões do FGC (Fundo Garantidor de Crédito).
Trata-se de um fundo de direito privado, criado em 2009 para proteger os depositantes do risco de quebra de bancos.
O FGC é formado com recursos recolhidos dos próprios bancos, que repassam os custos aos correntistas. Dinheiro privado, portanto.
Súbito, descobriu-se que o rombo do Panamericano era maior. O FGC teve de fazer novo aporte, dessa vez de R$ 1,5 bilhão.
O Banco Central, presidido à época por Henrique Meirelles, viu-se compelido a exigir a saída do Grupo Silvio Santos do negócio.
No final de janeiro de 2011, o BTG Pactual comprou por R$ 450 milhões a parte de Silvio Santos, que deixou de ser o controlador do Panamericano.
O BTG Pactual passou a controlar 37,64% do capital do banco. E Caixa se manteve no negócio com os 36,56% que adquirira em 2009.
Silvio Santos teve liberados os bens que dera em garantia pelos empréstimos recebidos do FGC. Não recebeu nenhum tostão.
Os R$ 450 milhões foram pagos pelo BTG Pactual ao Fundo Garantidor de Crédito, na forma de títulos com vencimento em até 20 anos.
Alegou-se que, nesse prazo, os papéis se valorizariam, alcançando a cifra de R$ 3,8 bilhões ?próxima dos R$ 4 bilhões desembolsados pelo FGC.
De novo: até aí, lidava-se com verba privada. Agora, em pleno alvorecer da gestão Dilma Rousseff, surge o risco de novo aporte da Caixa. Verba pública.
Os primeiros R$ 739,27 milhões investidos pela Caixa no Panamericano não resultaram, por ora, num mísero centavo de lucro para a instituição estatal.
Uma pergunta emerge com naturalidade fulminante: por que diabos a Caixa deveria elevar para R$ 1,8 bilhão a participação do contribuinte na encrenca?