Caixa e BB, na concorrência de créditos, elevam as taxas

Com a decisão do BC de elevar a Selic para 10,75% ao ano na semana passada, as perspectivas não são favoráveis para 2014

Busca por rentabilidade pressiona bancos | Reprodução internet
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BRASÍLIA - Lançadas no auge do esforço do governo para derrubar os juros e o custo dos empréstimos, há quase dois anos, as campanhas Melhor Crédito, da Caixa Econômica Federal, e Bompratodos, do Banco do Brasil, ainda estão no ar, mas as condições de financiamento oferecidas por esses bancos mudaram substancialmente, influenciadas principalmente pela alta da taxa básica de juros (Selic). O Bompratodos virou uma marca do BB, mas não está aberto para novas adesões. Na Caixa, as taxas do Melhor Crédito foram reajustadas, mesmo para quem recebe salário pelo banco. A volta da inflação e a decisão do Banco Central de iniciar um ciclo de alta da taxa básica de juros em abril passado, além da piora no cenário econômico, inviabilizaram a continuidade da cruzada pelos juros baixos iniciada pela presidente Dilma Rousseff, tendo os bancos públicos como carro-chefe.

Com a decisão do BC de elevar a Selic para 10,75% ao ano na semana passada, as perspectivas não são favoráveis para 2014. Os bancos estão mais seletivos e restritivos na hora de conceder financiamentos, diante do risco da inadimplência e aumento do custo de captação, segundo executivos das próprias instituições.

No BB, a taxa do cheque especial, que chegou a 3,88% ao mês em setembro de 2012 para quem recebe salário pelo banco, está hoje em 6,64%. A taxa do cartão de crédito (rotativo), que caiu para 2,88% no período, já subiu para 5,99%. Na Caixa, os juros do cheque especial do Melhor Crédito subiram de 3,5% para 4,28%, para quem recebe salário na instituição, e para 5,06%, para os demais clientes.

Segundo Carlos Coradi, da EFC Engenheiros Financeiros e Consultores, os bancos públicos estão aumentando suas taxas novamente a fim de obter melhores resultados. Ele lembrou que os lucros registrados por BB e Caixa estão próximos aos registrados pelos maiores concorrentes privados.

- O governo forçou a barra para que a Caixa e o Banco do Brasil alargassem os empréstimos e baixassem as taxas. Mas isso tem um limite, que é a conta de resultados. As administrações da Caixa e do BB querem manter a rentabilidade, num ambiente de maior concorrência entre os bancos - reforçou Coradi. - Há um contrassenso, porque os balanços dos bancos estão impressionantemente positivos, com muito lucro. Por quê? Eles abusam nas taxas, principalmente do cheque especial e do cartão de crédito.

A economista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) Ione Amorim classificou as campanhas da Caixa e do BB de ?propaganda enganosa?. Segundo ela, as peças publicitárias, estreladas por Camila Pitanga e Reynaldo Gianecchini, passam a impressão de que as taxas cobradas são as mais baixas sempre, mas elas estão sendo majoradas.

- A manutenção das campanhas para atrair o consumidor caracteriza propaganda enganosa, porque o cenário dos juros baixos não existe mais - disse Ione.

A orientação para os consumidores é pesquisar as menores taxas do mercado e ter cautela na hora de contrair dívidas. E reclamar sempre que se sentir lesado.

No ranking das menores taxas de juros feito pelo BC, em levantamento realizado entre 7 e 13 de fevereiro, os juros cobrados das pessoas físicas pelos bancos públicos ainda estão abaixo dos maiores concorrentes privados, como Itaú Unibanco e Bradesco, mas já caminham para uma aproximação. Em algumas modalidades de crédito para empresas, como desconto de cheques e capital de giro (com prazo de até 365 dias), os juros estão mais altos nas instituições federais.

A Caixa aparece na décima posição na modalidade do cheque especial para pessoas físicas, com juros médios de 4,82% ao mês, e o BB, na 19ª, com 7%, próximo ao Bradesco (8,07%) e Itaú Unibanco (8,54%). No crédito pessoal (CDC), a Caixa está na 20ª posição, com juros médios de 3,29%; e BB, na 28ª, com 3,82%. No Itaú Unibanco, a taxa é de 4,77%, e no Bradesco, 5,79%.

O ranking do BC revela que a taxa cobrada pelo BB das empresas para desconto de cheques, de 2,99% ao mês, supera o percentual do Itaú Unibanco (2,64%) e é maior do que os juros do HSBC e do Santander, na mesma modalidade. Na linha de capital de giro (com prazo de até 365 dias), o HSBC tem taxa mais atrativa do que a Caixa: 1,11% ao mês. Neste caso, Caixa cobra 1,74%, seguida por BB, com 1,75%.

O militar Ferdinand Ibiapina, correntista do BB há mais de 25 anos, disse que tem acompanhado no extrato o aumento dos juros, sobretudo do cheque especial. Segundo ele, a taxa do empréstimo pessoal também subiu:

- Ultimamente, não tenho visto esses juros baixos que o banco diz oferecer - afirmou.

A assessoria do BB informou que fechou o Bompratodos, mas que ampliou os benefícios do programa para todos os clientes, independentemente de adesões: ?O Banco do Brasil encerrou as contratações para os pacotes de serviços Bompratodos em julho de 2013, quando reformulou seu portfólio de pacotes e passou a oferecer aos clientes os serviços padronizados pelo Banco Central?.

Procurada várias vezes pelo GLOBO, a assessoria da Caixa informou que o banco não iria se manifestar, bem como se recusou a informar detalhadamente as taxas de juros cobradas dos clientes. A justificativa é que a instituição está prestes a divulgar o balanço e qualquer manifestação seria indevida.

Taxa média volta ao patamar de janeiro de 2012

Segundo pesquisa da Associação Nacional dos Executivos em Finanças (Anefac), as taxas de juros médias praticadas hoje pelo mercado já estão quase nos mesmos patamares de janeiro de 2012, antes da pressão do governo sobre os bancos públicos para reduzir juros e forçar a concorrência. As modalidades que mais subiram foram cheque especial, CDC, crediário de loja e financiamento de veículos. No caso dos empréstimos imobiliários, que são de longo prazo, e do cartão de crédito, que tem taxas muito altas, o impacto foi menor.

De acordo com o levantamento da Anefac, no crediário, por exemplo, a taxa média cobrada pelas lojas em janeiro deste ano estava em 4,35%, próximo aos 5,05% do mesmo período de 2012; os juros do cheque especial, em 8,03%, quase o mesmo patamar de janeiro de 2012, de 8,34% ao mês. No empréstimo pessoal, os bancos estavam cobrando em média 3,26% ao mês no início deste ano contra 3,99% há dois anos. No cartão de crédito, a taxa que era de 10,69% em janeiro de 2012, caiu para 9,37% em igual período do ano passado e se manteve no mesmo patamar.

O consignado é o empréstimo mais barato do país. Por sua vez, os juros cobrados pelas financeiras, considerados abusivos, caíram de 8,29% para 7,20%, em dois anos, influenciados em parte pelo movimento de queda nas taxas iniciado pelos bancos públicos.

Para Miguel de Oliveira, diretor da Anefac, a tendência é que os juros ao consumidor continuem subindo, seguindo a Selic. A expectativa do economista é que o BC volte a elevar a taxa básica da economia em 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em abril, e dê uma parada para avaliar os efeitos da Selic na economia e no combate à inflação.

- O cenário é ruim, com alta na Selic, câmbio, baixo crescimento da economia, o que pode afetar emprego, e inflação em alta, que corrói parte da renda e eleva a inadimplência. Os bancos estão mais seletivos e atentos ao risco - disse ele.

Dados divulgados pelo BC na sexta-feira mostraram que o volume de crédito em janeiro permaneceu estagnado.

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