Um funcionário acomoda R$ 1,6 milhão em notas de R$ 100, numa bolsinha de plástico. A seu lado, passa outro transportando R$ 50 milhões num carrinho. Perto dali, uma colega despeja quilos de notas de R$ 100 numa gigantesca trituradora de papéis. Todos mexem com milhões de reais todos os dias, mas alguns não ganham mais do que R$ 1.395 mensais.
A inusitada (e bilionária) rotina da fantástica fábrica onde são produzidas as notas de real deixará de fazer parte apenas do imaginário do brasileiro, a partir da próxima sexta-feira, quando a Casa da Moeda abrirá suas portas à visitação pública, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.
Bastará se cadastrar pelo site www.casadamoeda.gov.br para concorrer a uma vaga na visita mensal. O passeio será por um mezanino envidraçado, onde grupos de até 30 pessoas poderão ver as cinco etapas de produção das cédulas.
Um trabalho inusitado, mas em ritmo operário. A fábrica funciona 24 horas por dia, com 550 funcionários divididos em três turnos. Eles são responsáveis por produzir todo o dinheiro que vai para os bolsos dos brasileiros. Somente este ano, serão 2,8 bilhões de novas notas.
Funcionário do órgão há 41 anos, o gerente executivo de impressão de cédulas, Roberto Miguel Silva, de 57, está empolgado com as visitas programadas à fábrica.
? As pessoas têm muita curiosidade sobre esse trabalho. O dinheiro encanta ? conta Roberto Miguel, que ingressou na Casa da Moeda aos 16 anos, como aprendiz: ? Entrei para brincar de fazer dinheiro, mas virou amor à primeira vista. Não pensei mais em fazer outra coisa.
As visitas na fábrica de cédulas, moedas e medalhas levarão três horas e meia. No fim do tour, o visitante receberá um brinde. A Casa da Moeda não adianta a surpresa, mas avisa que não será de nenhuma das bilhões de notinhas fabricadas por lá.
Fortuna jogada fora
Em meio às gigantescas máquinas que a cada segundo imprimem até 81 novas notas de real, uma salinha meio escondida chama a atenção dentro da fábrica. É lá que um grupo formado por 62 mulheres, literalmente, joga dinheiro fora. Responsáveis pelo controle de qualidade, cada uma das auxiliares de operação do setor de crítica chega a manusear R$ 36 milhões por dia ? valor que, na vida real, só acumulariam após inemagináveis 2.150 anos de trabalho, considerando o salário de R$ 1.395.
Entre milhares de folhas repletas de cédulas, olhos atentos buscam qualquer sinal de imperfeição nas notas. De amassados a pequenos respingos de tinta, tudo o que foge do alto padrão de qualidade é motivo para condenar toda uma fileira de cédulas recém-impressas.
? É tanta nota passando para lá e para cá, que a gente até esquece que é dinheiro. Trabalhamos com um produto de valor, mas consideramos apenas volumes ? afirma o gerente executivo Roberto Miguel Silva.
Segurança reforçada
Ao chegar à Casa da Moeda, os visitantes terão uma pequena noção do forte esquema de segurança montado para guardar o dinheiro produzido por ali. Há grades reforçadas na entrada, paredes de concreto, câmeras por todos os lados e seguranças de olho em tudo. E não é para menos. Além dos montes de dinheiro por todos os lados, a fábrica abriga um cofre com capacidade para armazenar um montante de mais de um bilhão de notas.
A segurança das instalações, porém, parece coisa do passado perto da tecnologia usada para evitar a falsificação das cédulas. Um dos pontos fortes do passeio é a parte em que os visitantes aprenderão a encontrar símbolos invisíveis nas notas, que brilham sob luz negra, e números escondidos nos traços dos desenhos das cédulas.