As mais de cem famílias que formam a comunidade de Nova Santa Rosa, distrito de Uruçuí, sudoeste do Piauí, sofrem com a precariedade da infraestrutura e dos serviços do município.
Os problemas contrastam com o crescimento econômico da região, uma das maiores produtoras de soja do Nordeste.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Uruçuí representava o maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Piauí em 2008.
Cada indivíduo tinha renda anual média de R$ 22.070,27. Maior até que os números da capital do estado, Teresina: R$ 9.374,32.
No começo do ano, o prefeito de Uruçuí chegou a ser preso sob suspeita de desviar R$ 3,5 milhões dos cofres do município. Ele foi solto ainda em janeiro.
A repórter do G1 passou um fim de semana na comunidade e ouviu queixas recorrentes da população: faltam estradas, o sistema de energia é frágil e a escola municipal, construída pela própria comunidade, está com três meses de salários dos professores atrasados.
"O nosso principal problema aqui são as estradas. Estrada é tudo para nós hoje. Estão há anos prometendo asfaltar a Transcerrado, que seria de 300 km por cima da serra", diz Wilson Marcolin, paranaense que formou família na comunidade e planta 1 mil hectares de soja e milho.
O G1 tentou contato por telefone com a prefeitura de Uruçuí, mas não encontrou ninguém para comentar o assunto. Em outra tentativa, a atendente de uma escola municipal disse que o telefone da prefeitura está cortado por falta de pagamento.
Celso Werner, proprietário de uma das fazendas da região, diz que seria importante para o distrito conseguir tornar-se um município, para ter mais representatividade política. Mesmo pagando fretes caros para o padrão nacional, os produtores reclamam que é difícil quem esteja disposto a carregar o caminhão para transportar grãos pelas estradas tortuosas que dão acesso à comunidade.
O projeto da Transcerrado prevê uma rodovia que ligue a cidade de Sebastião Leal, no entroncamento com a PI-247, a Monte Alegre, na PI-254, com pista simples e acostamento.
Se sair do papel, a obra facilitará principalmente o escoamento da soja e do milho que são cultivados na região.
Atualmente, o acesso a Nova Santa Rosa é feito por estradas estreitas, irregulares e sem pavimentação. Para sair de Luiz Eduardo Magalhães, na Bahia, até Nova Santa Rosa, a repórter percorreu 120 de 780 km em estrada de terra, cheia de lama e buracos.
A estrutura que existe atualmente na vila foi toda paga pelos produtores: escola, sede social, igreja e pizzaria. Não há médicos no posto de saúde: o hospital mais próximo fica em Bom Jesus, a mais de duas horas em estrada de terra. Quem dá primeiro atendimento é, desde a fundação da comunidade, a enfermeira Bernadete, apelidada carinhosamente de Berna pelos moradores.
Geisa Marcolin, produtora, conta que, quando o caso é grave e urgente, muitas vezes a alternativa é alugar aviões que transportem o enfermo até Teresina, a cerca de oito horas dali. Em um dos casos, conta Geisa, toda comunidade se reuniu para ligar os faróis dos carros e iluminar a pista de pouso para receber um avião que chegou à noite para socorrer um rapaz ferido. "Fico arrepiada só de lembrar dessa cena".
Clailton Kalsing, dono da loja de materiais de construção da comunidade, conta que precisa retirar pedidos para o estabelecimento em Palmeiras do Piauí, a 80 km em estrada de terra, porque as empresas não querem se "aventurar" rumo a Nova Santa Rosa.
"As empresas não querem entregar nada em [Nova] Santa Rosa porque dizem que é fora de rota. Tanto que fizemos um pedido há mais de um mês e não chegou até agora", diz o empresário.